Por Rosana Alves*

 

Atualmente, em decorrência da pandemia de Covid-19, existem muitos estudos, relatos, artigos e lives que tratam da questão da educação no país. Isso é compreensivo por ser a educação uma questão estratégica para o desenvolvimento nacional de qualquer nação. Desde o golpe em 2016, vimos um retrocesso no debate e nos investimentos em educação, situação agravada com a eleição de Jair Bolsonaro. Vivemos em um tempo de obscurantismo científico e aos que pensam que discursos sobre de Terra plana, negação de vacinas são apenas ações de “loucura”, enganam-se. O obscurantismo científico apregoado por Bolsonaro ocorre em nome da manutenção da atividade econômica e é uma ação deliberada contra a produção e a difusão do conhecimento, para, dessa forma, minar e destruir valores fundamentais da sociedade democrática de direito.

O documento “Diretrizes para uma plataforma emergencial de reconstrução nacional”, no tópico 11, evidencia a necessidade de barrarmos “a ação antidemocrática e fundamentalista na educação, recuperando o princípio da escola cidadã presente na Constituição de 1988”. Para tanto, as ações apontadas no documento são fundamentais. No entanto, é preciso salientar a preocupação com a educação básica. O Brasil se enquadra no rol de poucos países que não aumentaram os seus investimentos em educação para combater os impactos da pandemia nesse setor, ao contrário, cortou verbas. Segundo dados do relatório Education at a Glance 2021, feito pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil não destinou recurso para nenhum segmento da educação. Para além das questões orçamentárias, que óbvio, são fundamentais, as questões dos impactos pedagógicos também não são debatidas.

Na média da OCDE, as escolas de educação infantil ficaram apenas 55 dias fechadas. As de anos iniciais do ensino fundamental, 78, e as de anos finais, 92. No ensino médio, 101 dias. No Brasil, só em 2020, as unidades ficaram fechadas, em média, por 178 dias – o relatório não trouxe dados da situação das escolas brasileiras neste ano[1].

A elaboração de uma Plataforma emergencial de reconstrução nacional deve apresentar como medidas para a redução dos danos causados na educação pela crise sanitária, ações como a elaboração de um currículo emergencial, que compreenda os anos de 2020-2021 como um único ciclo e 2022-2023 como outro. Esse plano deve considerar a reorganização curricular, os tempos e os espaços da escola, garantindo que todos tenham acesso ao conhecimento e que isso não ocorra de forma fragmentada. As avaliações, mesmo em larga escala, devem estar a serviço do planejamento e não serem instrumentos de identificação de fracassos que justifiquem projetos de privatizações. Desse modo, ações planejadas de formação continuada de professores se fazem urgente. Entendemos que os conteúdos se recuperam, mas, para isso, é necessária uma ação política, que permita espaços democráticos de debate e elaboração de um plano fundamentado em ações pedagógicas, ações que garantam práticas educativas emancipatórias que sejam capazes de mitigar os danos causados até o momento.

 

[1] PALHARES, Brasil é dos poucos países que não aumentaram recursos para educação na pandemia. Folha, SP. 16 set. 2021. Educação. Disponível em: Brasil é dos poucos países que não aumentaram recursos para educação na pandemia – 16/09/2021 – Educação – Folha (uol.com.br) Acesso em: 16 set. 21.

 

 

*Coordenadora pedagógica. Membro do Comitê Municipal de Educação da Cidade de São Paulo.