*Por José Vieira Loguercio*

Terminada a segunda guerra entre as potências imperialistas, com a participação decisiva da URSS que foi determinante para a derrota da Alemanha nazista, os proletários e os povos do mundo obtiveram um conjunto de vitórias. De outra parte, o imperialismo estadunidense, se tornava a força hegemônica substituindo e submetendo as antigas potências imperialistas.

Surgem vários Estados nacionais na Ásia e África com alto grau de soberania que se reúnem na conferência de Bandung em 1955, elaboram uma plataforma que repete a essência da proposta de Lênin sobre a autodeterminação dos povos.

A ascensão do revisionismo no Partido de Lênin, iniciada em 1953 se consolidou em 1960 levando a uma brutal confusão nas fileiras dos comunistas, dos operários e dos democratas do mundo inteiro. A partir de Khrushchov é revisada a essência política do imperialismo assinalada por Lênin, e inventada a ideia de campo socialista competindo com campo capitalista. Ideia anticientífica porque o mais-valor é extraído do proletariado global e porque joga os proletários de um “campo” contra o outro. Isso ocasionou um grande retrocesso na luta pelo socialismo levando, inclusive à dissolução da URSS em 1991. A essência da “teoria” revisionista era o que eles chamavam de “competição pacífica”, ou seja, os dois campos competiriam para ver qual dos dois era melhor para a humanidade, e os demais proletários e povos do mundo ficariam no aguardo do desfecho dessa competição.

O imperialismo estadunidense não perdeu tempo, e passou a ofensiva na Ásia, África e América Latina. Usando todo seu arsenal de guerra e golpes de estado. Mas já no início da década de 70 do século passado, desfazem a paridade do dólar com o ouro e no final da década, para responder a queda na taxa de lucro, cria o neoliberalismo cuja regra de ouro é o livre trânsito de capitais. Enquanto caia a taxa de lucro na Europa e nos EUA, a URSS vivia uma queda acentuada na produtividade do trabalho. Os revisionistas desprezavam a orientação de Marx, segundo a qual no socialismo continuará a predominar a determinação do valor e que se tornaria mais essencial do que nunca. Resultado, a URSS foi estagnando.

Durante a vigência do neoliberalismo, a contradição fundamental entre burgueses e proletários, viu ascender ainda mais a contradição principal dela decorrente: o imperialismo estadunidense e seus lacaios, contra as nações e os povos do mundo. A vigência do neoliberalismo, que tem como base o capital fictício, socavou as bases industriais da Europa e do norte da América. O capital real se deslocou para a Ásia. Índia e China jamais aceitaram o livro trânsito de capitais. Depois das crises monetárias de 1997 e 1998, praticamente todas as nações da Ásia passaram a seguir os passos da Índia e China, e direcionar o crédito para a produção. Coisa não vista até então, a produção industrial se deslocou para a Ásia e como afirmam alguns autores, essa se tornou a fábrica do mundo.

Disso tudo resultou um crescimento inaudito do proletariado, especialmente na Ásia, mercê da sua rápida industrialização; o crescimento da luta de várias nações para afirmarem sua soberania, a queda na produção industrial nos países europeus e do norte da América submetidos ao neoliberalismo.

O imperialismo estadunidense responde a tudo isso tentado manter seu poder unipolar, intensificando a pressão político e militar sobre as potências capitalistas, exigindo que seus interesses sejam atendidos pelos demais sem contestação. Para as nações da Ásia, África e América Latina, intervém em seus assuntos internos, chantageia, articula golpes, pratica sanções, bloqueios. Como sua moeda não tem lastro e continua sendo a mais importante nas transações internacionais e o sistema SWIFT (o principal nas transações entre as nações) estão sob seu controle, usa esses dois fatores para extorquir, roubar, outras nações.

A resultante é que a contradição fundamental entre proletariado e burguesia, se desdobra hoje, mais do que antes, na contradição principal entre o imperialismo e as nações e seus povos dominados e oprimidos. A luta das Nações por sua soberania sobe ao centro do palco. O aspecto principal dessa contradição, pelo esforço continuado do imperialismo estadunidense, de manter uma ordem mundial unipolar, é entre unilateralismo e multilateralismo. Esse é o elo fraco da cadeia da dominação imperialista. Quanto mais multilateralismo, mais as nações, os povos oprimidos, a classe operária, terão melhores condições para lutar e conquistar suas emancipações.

A forma de inserção internacional adotada pelos países socialistas, nas primeiras décadas do século 21, evidencia uma vitória estratégica contra os danos causados pelo tsunami revisionista e facilita a luta das nações contra o imperialismo estadunidense.

A interpretação dos itens 21 e 22 da proposta de resolução sugere uma contradição com o entendimento de Marx. O que ele diz sobre inserção internacional? Naturalmente, a classe operária, para poder lutar, tem que organizar-se como classe em seu próprio país, já que este é o campo imediato de suas lutas. Neste sentido, sua luta de classes é nacional, não por seu conteúdo, mas, como diz o Manifesto Comunista “por sua forma”. Mas, “o marco do Estado nacional de hoje”, por exemplo, do Império Alemão, acha-se por sua vez, economicamente, “dentro do marco” do mercado mundial e, politicamente, “dentro do marco” de um sistema de Estados. Destaco essas afirmações de Marx, escritas a mais de 146 anos, para demonstrar que qualquer país socialista está economicamente no mercado mundial e politicamente e um sistema de Estados. Não há outra inserção possível.

As próximas nações socialistas saberão que vão viver num mercado mundial cada vez mais globalizado e com um sistema de Estados cada vez mais soberanos. A China e o Vietnam estão dando o exemplo. E isso é a maior vitória estratégica desde o vendaval revisionista.
O elo da cadeia que tem que ser puxado com toda a força pelos revolucionários e progressistas do mundo é o combate ao domínio unipolar do imperialismo estadunidense. A defesa do multilateralismo é a principal tarefa internacionalista da atualidade.

*Técnico Judiciário, aposentado na Justiça do Trabalho.  membro do Comitê Estadual do PCdoB Rio Grande do Sul