Por Jorge Gregory*

Várias civilizações antigas construíram obras monumentais. Sem ter tido contato umas com as outras, várias delas se utilizaram da técnica da construção na forma piramidal. Na época, os conhecimentos de cálculos eram parcos, de forma que provavelmente chegaram ao desenvolvimento da técnica pelo método da tentativa e erro. Chegaram à solução piramidal porque é a mais simples forma de elevação de uma construção. Antes disso, na tentativa e erro, provavelmente tenham passado séculos em que coletavam muitas pedras disformes e procuravam amontoá-las para tentar elevar um monumento. A disformidade das pedras e da construção e o solo irregular não permitia grande elevação e provavelmente levavam as construções a ruir.

Com o tempo foram descobrindo que o nivelamento e a compactação do solo para colocação da base eram fundamentais. Ao mesmo tempo foram percebendo que uma certa homogeneidade das pedras e a elevação da construção na forma de pirâmide davam maior estabilidade à obra. Finalmente perceberam que se talhassem as pedras em formas cúbicas regulares e começassem a dispor as mesmas em um quadrado sob o solo aplainado e compactado, e depois dispondo mais uma camada um pouco menor sobe esta base, poderiam elevar a obra de forma absolutamente estável. Ou seja, descobriram que à medida que ampliavam a base, podiam ir ampliando também as camadas superiores e acrescentando novas camadas de forma que, ao ampliar a base, elevavam o topo da construção de forma a produzirem colossais monumentos que até hoje, milênios depois, permanecem solidamente estáveis e nos impressionam.

Após a conquista da legalidade, e em especial no período dos governos populares de Lula e Dilma, a justa política do Partido arregimentou milhares de filiados. Constituímos uma sólida e inabalável estrutura de quadros, ocupamos cargos nos mais diferentes governos e legislativos nos três níveis de unidades da federação, elegemos senadores, prefeitos e até um governo de estado. No entanto, cuidamos pouco dos milhares de filiados não lhes propiciando vida orgânica e descuidando de sua formação. A grande maioria ficou dispersa e aqueles que incorporamos a estrutura, minimamente foram moldados para que se encaixassem de forma consistente e comprometida. Nestas circunstâncias, os terremotos políticos pós 2013 fizeram com que grande parte de nossos filiados se movesse para outros terrenos e até mesmo abalassem parte da estrutura que já havíamos levantado. A lição mais importante que extraímos deste processo é que só construiremos um grande partido se nos dedicarmos a alargar de forma sólida nossa base e à medida que a alargamos, venhamos a elevar o topo de nossa pirâmide.

Para tanto, faz-se urgente que em cada estado e em cada município ou distrital, se estruturem sistemas de gestão da informação, dando conhecimento às direções a respeito de quem são os seus filiados, o que fazem, onde moram, quais são os seus interesses. Em qualquer atividade humana, é a qualidade da informação que irá determinar a qualidade de nossas ações. O sistema de informações deve ser ativo e não uma mera análise estatística dos dados. Dever ser capaz de detectar as alterações na base de dados e orientar todas as demais ações de estruturação partidária.

A estruturação de um sistema de comunicação partidária é imprescindível. Deve conectar as instâncias superiores a todos os filiados de forma a mantê-los permanentemente atualizados a respeito das orientações políticas e das atividades partidárias. Como um indutor da ação política e organizativa, o sistema de comunicação não pode se restringir a formação de grupos de discussão de Whatsapp, pois estes, isoladamente, transformam-se em bolhas. Deve ser um dos instrumentos de um plano de formação, pois também será uma das ferramentas que deverão talhar os filiados para a vida partidária. Deve, ainda, habilitar os militantes mais ativos a utilizar nas suas áreas de influência os mais diferentes canais de comunicação de massas para potencializar sua atuação. Um consistente plano de organização, em cada município, apoiado no sistema de gestão de informações e no sistema de comunicação partidária, voltado a estruturação de OBs, é o que formará uma base sólida para erguermos nossa estrutura partidária e ampliarmos nossa influência de massas. Não deve ser um mero mapeamento de potenciais Organizações de Base, mas um planejamento de atividades orgânicas que possibilitem a cada filiado se integrar a vida partidária e converter-se em militante ativo. Cada organismo, dos Comitês Estaduais aos Organismos de Base, deve ter um calendário anual de reuniões e atividades para que o conjunto de filiados possa acompanhar cada uma das estruturas. O sistema de comunicação deve manter o coletivo partidário atualizados das decisões e ações de cada secretariado, comissão política e pleno dos organismos a que esteja submetido. Os encontros dos plenos, em qualquer instância partidária, devem ser realizados em intervalos não superior a três meses.

A campanha eleitoral não pode ser justificativa para colocar em segundo plano a atividade orgânica do partido. Pelo contrário, as candidaturas devem ser estruturadas a partir dos organismos de base, planejando desde já, com estes organismos, a pré-campanha e a campanha. Ao se integrar organicamente nas campanhas eleitorais, as OBs ampliarão a sua influência e sua abrangência. Nenhuma atividade do Partido, em especial os processos eleitorais, devem acontecer à margem das estruturas partidárias, em particular os organismos de base. Este foi um dos aspectos que mais descuidamos nestes últimos anos e que precisamos corrigir. Deixar para envolver as OBs somente quando começar a campanha propriamente dita no ano da eleição, é o mesmo que as alijar do processo.

É neste movimento de ampliar a base e elevar o topo, ampliar e elevar, de forma simétrica e planejada, que ergueremos um grande partido, como se ergue uma pirâmide monumental. Uma sólida base, estruturada em terreno bem compactado, que são as massas populares e trabalhadoras, nos permitirá erguer um partido com grande visibilidade e que poderá atravessar as intempéries políticas sem sofrer grandes abalos. Só seremos grandes se fizermos de nossas bases a sustentação da organização partidária.

 

 

*Jornalista, filiado ao Partido no DF, base de Brasília.