Estamos em uma fase de reflexão da prática teórica e política dos comunistas. Penso que parte dessa reflexão deva se voltar para a identificação das forças pouco exploradas que possuímos e que com planejamento e decisão política poderiam se transformar em uma área de expansão de nossa influência. O potencial que explorarei aqui está na Frente de Luta de Ideias, não obstante, penso que ele está presente também em outras áreas.

Por Diogo Santos*

Categorizamos a luta de ideias como uma frente de acumulação de forças. Julgo, contudo, que não extraímos muitos dos desdobramentos que essa afirmação encerra. De fato, luta de ideias é luta política! Ampliaria muito o escopo dessas linhas se adentrássemos essa dimensão, contudo, nessa etapa de crise do capitalismo, a disputa teórica e ideológica vem se intensificando, especialmente no campo progressista. Portanto, a política revolucionária deve aplicar efetivamente o sentido de “Frente” à frente de luta de ideias. O que isso significa? Significa, sinteticamente, que essa Frente deve possuir um programa político, uma tática, uma estrutura de coordenação e diversos instrumentos.

Quanto aos instrumentos, penso que estamos razoavelmente equipados. Temos três portais (Vermelho, PCdoB e Grabois), uma editora, uma revista e uma Escola. Ocorre que, sem as demais dimensões (programa político, tática e estrutura de coordenação), os instrumentos perdem eficácia, e dispensamos grandes energias tentando aprimorá-los, mas os resultados não avançam na mesma proporção, o que pode acabar em frustração. A questão é que o problema central não está nos instrumentos, mas nas outras dimensões. Passemos, então, a elas.

Qual deveria ser o núcleo do programa político da luta de ideias? Ora, a resposta está em nosso Programa Socialista: a atualização, aprofundamento, e difusão da Questão Nacional e do Marxismo. Ou seja, a Frente de Luta de Ideias deve ter como objetivo conquistar terreno na sociedade brasileira para os dois temas acima. Deve atuar para tornar a arena teórica e ideológica mais favorável ao crescimento da influência dos comunistas. Ou seja, é uma tarefa política. Essa é a contribuição decisiva para a luta revolucionária que está sob a responsabilidade dessa Frente.

Sobre a tática dessa Frente, é preciso construir coletivamente, mas gostaria de deixar duas contribuições. A primeira é a de que é preciso direcionar esforços para ocupar posições nas Universidades, instituições socialmente reconhecidas como produtoras de conhecimento científico e, portanto, com grande poder na luta teórica. Contudo, esse terreno é árido, tanto ideologicamente, como pelas rígidas estruturas internas de poder. Logo, é preciso escolher um ponto de partida de menor resistência e em um formato que permita maior ganho político. Sugiro, então, partindo dos professores e pós-graduandos comunistas e outros pesquisadores próximos a nossa problemática, a criação de grupos de pesquisa interdisciplinares, que tenham o Brasil como tema, e que partam do marxismo para abrir diálogo com outras correntes teóricas progressistas. Desse modo transitaremos organizada e coletivamente no terreno acadêmico/científico para ampliar nossa força e conquistar aliados. Mas, e isso é fundamental, esses grupos de pesquisa devem estar conectados ao curso político do país, e terem uma ação proativa na busca de subsidiar o debate e as decisões das forças progressistas no Parlamento e na luta de massas.

A segunda proposta quanto à tática é a de que essa Frente deva se aproximar das organizações da luta de massas que conduzimos, bem como de nossos mandatos no Parlamento. Um modo factível em que isso pode ser feito é criando fóruns comuns entre os comunistas responsáveis pelas áreas de Comunicação e Formação dessas organizações e mandatos e os responsáveis pela frente de Luta de ideias. O objetivo dessa interação é tornar as organizações e mandatos caixas de ressonância mais potentes para a difusão e disputa das ideias de nosso programa, por meio de seus instrumentos típicos.

Chegamos, então, à estrutura de coordenação dessa Frente. A sugestão que gostaria de deixar é simples: fazer da Fundação Maurício Grabois o vértice desse trabalho. Claro que a FMG possui tarefas específicas, inerentes a sua razão de existir. Mas, penso que deveria ser também a responsável por coordenar essa dura batalha. E, para tanto, deverá fortalecer sua presença pelo país. Nessa perspectiva, ganha importância a dedicação de esforços para a constituição e efetivo funcionamento das seções estaduais da FMG e em grandes cidades, o que demanda a existência de quadros que tenham essa atividade como tarefa principal.

Como afirmei nas primeiras linhas, penso que temos potencial acumulado para realizar essa tarefa. Temos um trabalho importante no movimento de pós-graduação que serve de impulso para nossa influência nas Universidades, temos professores pesquisadores e um maior número de nossos militantes ingressaram na pós-graduação fruto do último ciclo político do país. Além disso, a crise atual tem o efeito de trazer pensadores progressistas para a ação política (em variados níveis), o que amplia os canais de diálogo.

*Membro da comissão política do PCdoB em Minas, sendo secretário de Juventude, membro da seção mineira da Fundação Maurício Grabois e mestrando em Economia na UFMG.