Fala-se hoje, no Partido, na construção de uma Frente Ampla para lutar contra o Golpe de Estado que apeou do poder a presidenta Dilma Roussef, legítima e eleita democraticamente por mais de 54 milhões de brasileiros/as, golpe este que colocou no Planalto um “ser” que vem – com apoio da direita ultrarreacionária – destruindo tudo que restava de Estado Nacional, algo que sequer os militares em 21 anos de poder conseguiram. O estrago, feito por esta turma, é algo que nossas futuras gerações irão pagar. E pagarão caro!

Sobre a Frente Ampla, não poderíamos deixar passar alguns episódios que mostram contradições em que o nosso Partido está envolvido. Um exemplo, e talvez a maior contradição, é o apoio da bancada comunista) à candidatura de Rodrigo Maia (DEM) em sua reeleição à presidência da Câmara dos Deputados e, consequentemente, a participação deste golpista em solenidades do Partido (como foi o caso do lançamento do XIV Congresso do Partido na Câmara). Se denunciamos o Golpe de Estado (efetivado com a aprovação do impeachment na Câmara em 17 de abril de 2016) e tratamos de golpistas todos/as que votaram a favor e que contribuíram para a queda da presidenta Dilma, não podemos apoiar e convidar um dos líderes do Golpe para sentar lado a lado com quem – na Câmara – denuncia o Golpe. Se a questão é meramente institucional, então não cabe, pela manhã, denunciarmos o Golpe e, à tarde, estar com um inimigo declarado do povo. Desculpem-me, mas é uma contradição que beira o oportunismo e é este oportunismo que vem se apresentando aos poucos em muitos aspectos em nosso Partido nos últimos anos, talvez em algumas décadas.

Outro aspecto dessa Frente é sua cara. Que Frente Ampla será essa? A Tese 132 nos diz: “A Frente Ampla reunirá os trabalhadores, a juventude e as mulheres, com toda a diversidade das organizações de luta para aglutinar extensas camadas populares; os setores progressistas e patrióticos, (…). a pauta imediata é restaurar a democracia, o Estado Democrático de Direito, as garantias constitucionais fundamentais no combate à corrupção; assegurar a soberania nacional e retomar o crescimento econômico, com o estímulo à produção nacional; a defesa da Petrobras e do regime de partilha no pré-sal, contra as desnacionalizações, privatizações e demolição das empresas brasileiras de engenharia de grandes obras; a manutenção e ampliação dos direitos do povo, com a valorização do trabalho, empregos”. Enquanto esta mesma Tese diz que é para lutar “contra as desnacionalizações, privatizações e ampliação dos direitos do povo, com a valorização do trabalho”, o nosso “camarada” Rodrigo Maia aprofunda o Golpe de Estado em nosso país e defende abertamente tudo o que o PCdoB renega.

O PCdoB foi reorganizado em 1962 justamente em uma luta contra a linha oportunista de direita que havia tomado conta do CC do antigo PCB e fundado um chamado Partido Comunista Brasileiro. Por manifestações de oportunismo de direita,

muito menos graves do que as circulam atualmente em nossas fileiras, camaradas como João Amazonas, Pedro Pomar e Maurício Grabois, ousaram nadar contra a corrente e restabeleceram a linha justa e revolucionária no Partido. Esse titânico esforço rendeu frutos e não podemos botar tudo a perder, repetindo velhos erros que no passado liquidaram tantos outros partidos revolucionários pelo mundo. É certo que vivemos em outra época. Vivemos em uma época onde defender os princípios revolucionários contra o oportunismo é algo ainda mais necessário, dado o caráter prolongado e constante dos ataques proferidos pela burguesia internacional e seus lacaios dentro do movimento operário contra os princípios básicos do marxismo.

O saudoso Rogério Lustosa em “30 Anos de Conflito Ideológico”, citando Lênin, diz que o conteúdo político do oportunismo é a colaboração de classes e a renúncia à ação revolucionária. Lustosa continua: “Na luta de classes, (os oportunistas) sacrificam os interesses vitais das massas em favor dos seus interesses imediatos e minoritários. A traição revisionista não é fruto de simples falta de caráter. Tem uma base objetiva e permanente, enquanto a sociedade estiver dividia em classes”. Outro componente desse oportunismo que se instala no seio do Partido (principalmente entre os quadros dirigentes) são as concepções liberalizantes, ideologias estranhas ao marxismo-leninismo, muitas vezes disfarçadas de “progressismo”. O caso que chocou muitos comunistas foi o rompimento do ex-ministro Aldo Rabelo, membro da direção do Partido que – na imprensa burguesa – declarou várias vezes que já não se sentia confortável dentro do PCdoB, pois este não seguia uma “linha nacionalista”. Ora, o nacionalismo do senhor Aldo falou mais alto que suas convicções no marxismo-leninismo e, parabenizo o ex-camarada pela coerência em ter rompido com o PCdoB e não continuar dentro dele causando estragos, aliás, como muitos que não tem essa mesma coragem, continuam causando. Também é necessário que fiquemos atentos e mantenhamos a guarda contra tentativas de revisão dos princípios básicos do marxismo-leninismo, em nome de uma suposta “renovação” ou “atualização” dessa teoria. Alguns camaradas em nossas fileiras, não de hoje, estão falando a respeito da existência de um “leninismo contemporâneo”, como se pudesse existir um “leninismo antigo” ou algo do tipo. O marxismo-leninismo é uma doutrina científica que está sempre em desenvolvimento. Não existe a necessidade de falarmos em “leninismo contemporâneo” e sim em falarmos em integração criativa dos princípios básicos da teoria marxista-leninista com a realidade de nosso país. Se no passado os comunistas deturparam ou não souberam aplicar de maneira correta os princípios de tal doutrina, isso não é culpa da teoria marxista-leninista, mas sim dos comunistas que não souberam manejar adequadamente tal doutrina. Devemos ter bem claro que muitas vezes na história do movimento comunista internacional as supostas tentativas de “atualização” do marxismo-leninismo, nada mais foram do que uma maneira que as forças oportunistas encontraram para renegar o marxismo e promover uma linha oportunista de direita, sempre chegando à liquidação do Partido Comunista. Como diria João Amazonas: “nada justifica uma virada à direita”!

*Militante do PCdoB em Pernambuco.