Protesto na estação de trem Hashalom, em Tel Aviv | Foto: Middle East Eye

No momento em que se aproxima a votação de lei que desmonta o Poder Judiciário, médicos fazem greve, OAB israelense convoca reunião emergencial, tem início marcha de Tel Aviv a Jerusalém, o movimento ocupa estações de trem, o aeroporto, faz bloqueios de estradas e as manifestações seguem pelo país, incluindo atos diante das residências de deputados da coalizão ditatorial-fascista,

Milhares de reservistas, com ênfase nos pilotos da Força Aérea, declaram que não se apresentarão mais se convocados, pois o juramento de defesa do país se referia a uma democracia, não uma ditadura.

A mobilização israelense contra o golpe do governo Netanyahu/Smotrich/Gvir se mantém intensa e se diversifica em iniciativas e pressão à qual se somam comunidades judaicas e de israelenses em outros países, em particular as norte-americanas. No dia 13 houve manifestações em apoio aos que lutam pela preservação da democracia em Israel em Washington, Nova Iorque, Los Angeles, San Francisco, Seattle, entre outras.

Enquanto isso, a Comissão de Constituição e Justiça do Knesset, o parlamento israelense, declarou pronto para ir à votação no plenário o projeto-lei que acaba com o direito da Suprema Corte de anular uma lei que não considere razoável. Um dispositivo que pode soar estranho aos nossos ouvidos, mas que, em um regime de exceção como o israelense com concessões superlativas à minoria ultra-ortodoxa acaba sendo uma das últimas linhas de defesa do cidadão israelense, em especial se for árabe ou palestino sob ocupação.

Os defensores dos parcos aspectos da democracia israelense – manchada pelo regime de ocupação e assalto institucionalizado de roubo de terras palestinas – veem na aprovação desta lei a primeira das pás de cal para enterrar os direitos democráticos que se conseguiu manter até aqui e transformar o regime em uma ditadura escancarada, onde coisas estranhas e bizarras podem acontecer, como a proibição de comida não kasher (aprovada pelo rabinato) nos restaurantes, com o país sem transporte aos sábados, com cidadãos ameaçados de deportação e/ou cassação de cidadania se apoiarem determinadas formas de protesto contra o regime, com o Judiciário podado.

Entre os atos contra o ataque de Netanyahu, uma greve de duas horas dos médicos e o cerco da casa de Arnon Bar-David, chefe da Central Sindical israelense, a Histdarut, para pedir que ele convoque uma greve geral contra o golpe.

Nesta quinta-feira, Netanyahu foi à televisão para mentir, dizer que as medidas de supressão do Judiciário “fortalecem a democracia” e que quem ataca a democracia são os militares que se negam a servir sob um regime ditatorial como o que está sendo tramado pela coalizão governamental.

Também nesse dia o parlamentar da coalizão fascista, Miki Zohar, divulgou um vídeo em que um piloto deixa de socorrer um soldado que afinal morre em combate. O mais extremista deles, ministro da Segurança, Ben Gvir, repercutiu o vídeo. A condenação ao gesto que joga um setor da força armada contra outro foi ampla.

Um dos líderes da oposição, Yair Lapid, fez uma declaração pública denunciando Netanyahu: “Você sabe que este grupo extremista não tem mandato para tornar esta nação em um país corrupto e não democrático”.

O partido de Benny Ganz, outro dos líderes opositores, também denunciou a fala de Netanyahu, “diz que quer unir a nação e traz ela a uma crise histórica sem precedentes, à beira de uma guerra civil”.

A líder dos trabalhistas, Merav Michaeli, acrescentou que o pronunciamento de Netanyahu foi “cheio de mentiras, incitamento e divisionismo”.

“O objetivo único são os interesses de Netanyahu e o resultado é destruição e devastação”, declarou Micheli.

REUNIÃO DE EMERGÊNCIA

Também nesta movimentada quinta-feira, a entidade que congrega os advogados israelenses, sob a direção de Amit Becher, recém-eleito por maioria arrasadora contra o candidato da coalizão Netanyahu/Gvir, realizou reunião de emergência na iminência de passagem da lei que acaba com uma das defesas democráticas do país.

“No dia de ontem, a Comissão de Constituição avançou no assassinato da democracia de Israel quando aprovou a entrada em votação no plenário da lei contra o princípio da razoabilidade em segunda e terceira leituras”, disse Becher no encontro em Tel Aviv.

“A democracia está sucumbindo e estamos assistindo com dor de como isso arrasta ladeira abaixo a economia, a coesão social, nossa posição em termos internacionais e, antes de tudo, nossa segurança pessoal e ainda a capacidade da nossa força armada”.

Aqui um parêntese sobre a capacidade da força armada israelense. Uma força que foi usada em muito maior função na opressão do povo árabe palestino do que na defesa do país, está sofrendo pelo retorno para o interior do país da própria opressão e usurpação que leva a cabo por décadas a fio. Previsível, como alertou o filósofo Yeshayahu Leibowicz há mais de 50 anos.

A entidade dos advogados planeja peticionar, junto à Corte Suprema, uma apelação pela anulação da lei que acaba com o princípio da razoabilidade, se está passar no parlamento.

Na conferência também se pronunciou o ex-procurador-geral Avichai Mandelblit que alertou: “definitivamente, eles não pretendem parar por aqui”.

Mandelblit também destacou que o governo quer “destruir completamente a independência do Judiciário, incluindo a última linha de defesa da democracia de Israel, a Suprema Corte”.

“Isso pode levar a um regime autoritário sem prestação de contas ou defesas do cidadão, o que, portanto, representa um completo golpe de Estado”.

Fonte: Papiro