Na noite de 14 de julho de 1988, numa quinta-feira, dia de Oxóssi (Kabila na Nação Angola), no prédio da Biblioteca Pública do Estado da Bahia, bairro Barris, em Salvador, jovens negras e negros inconformados com as condições de vida da população negra e revoltados com a violência policial que aterrorizava o povo negro, fundaram a Unegro, com a promessa de lutar contra o racismo e suas múltiplas decorrências, contra a exploração sistêmica do capital, contra a opressão que impõe as mulheres negras às maiores desvantagens sociopolítica e econômica. Sim, são compromissos gigantescos, do tamanho da indignação que moveu esses jovens a assumi-los.

A esperança de prosperidade advinda das mãos de Oxóssi se materializou, após 35 anos de ininterruptas lutas o saldo é positivo. A Unegro se estabeleceu em todos estados brasileiros e no Distrito Federal, amealhou uma ampla militância, se consolidou como uma importante organização da luta popular e uma das maiores no movimento negro brasileiro.

Ao longo desse percurso a Unegro esteve em todas as lutas pautadas pela melhoria da qualidade de vida do povo, pelo aperfeiçoamento da democracia, pela defesa de direitos e da pátria. Desde 14 de julho de 1988 a Entidade é partícipe das contendas que produziram conquistas ao antirracismo, como cotas nas universidades e no serviço público, o Estatuto da Igualdade Racial, o avanço da pauta quilombola, a instituição de estruturas de igualdade racial no âmbito dos municípios, estado e governo federal, dentre inúmeras outras ações.

No ano que completa 35 anos, a Unegro vê como principais desafios, dessa quadra, a reconstrução econômica, democrática e a consequente vitória sobre o bolsonarismo e suas significações que ainda mobilizam quase um terço da população brasileira – fascismo, ódio, negacionismo, anti-ciência, violência, milícia, crime ambiental, amarmentismo, golpismo, mentira, desprezo a democracia, ao povo e ao pobre, misoginia, lgbtfobia e racismo.

O caminho mais eficaz para derrota do bolsonarismo é o sucesso do Presidente eleito pelo voto popular. Lula tem se mostrado mais experiente, comprometido e preparado para o desafio de superar a pobreza, gerar empregos, ampliar e qualificar as políticas públicas no campo da educação, saúde, cultura, moradia e segurança pública, retomar em padrões mais elevados as políticas de igualdade racial. Ainda assim, cumprir a pauta que o elevou à Presidência da República não será uma fácil engenharia, pois se encontra cercado por um Congresso e imprensa liberais/conservadores; pela maioria da Faria Lima e do agronegócio ideologicamente refratários ao governo; por uma ultradireita militante, histriônica e com grande capacidade de mobilização.

A Unegro compreende que o papel da sociedade civil mobilizada, defendendo um projeto de desenvolvimento nacional soberano, democrático e inclusivo é fundamental para varrer o fascismo do Brasil, por isso está comprometida a cerrar fileiras nas ruas junto aos movimentos sociais e ao movimento negro.     

Oke Arô!

*Edson França é presidente (em exercício) da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro)