Políticas de Juventude no combate ao neoliberalismo
O neoliberalismo (tenta) se reinventa o tempo inteiro, explorando e precarizando a vida da juventude. Marx e Engels já nos alertavam: o capitalismo depende da desigualdade. E quem sente isso com mais força? A juventude. Responsabilidades desproporcionais, cobranças diante do desemprego, da instabilidade e dos trabalhos precários, das falta de perspectivas e da mercantilização de todas as dimensões da vida. O neoliberalismo não se limita a reorganizar políticas públicas.
As reformas (deformas), tanto da legislação trabalhista quanto das diretrizes educacionais, a nível nacional e local, foram fundamentadas nos discursos que chamam para uma “modernização”, mas pautada, na verdade, nas retiradas de direitos e flexibilização das regulamentações das relações de trabalho, a serviço da manutenção das relações de exploração dentro do capitalismo. Assim, a produção de subjetividades e de sujeitos emoldurados, por meio dos processos educacionais formais, também são ajustados às demandas do capital, naturalizando suas relações de poder, fragmentando a classe trabalhadora e reforçando o individualismo.
Jovens, principalmente das periferias, mulheres, negras, LGBTQAPI+, e demais minorias sociais, antes mesmo de viver plenamente sua condição infanto-juvenil, são forçados por um sistema brutal sua transformação exclusivamente em capital humano, descontextualizados de sua história e de seu pertencimento coletivo. Caso o sujeito não consiga capitalizar qualquer capacidade concreta de gerar valor, está condenado à exclusão em vários níveis da vida. A adultização não acontece só nas redes sociais, crianças e jovens da periferia são adultizadas há muito tempo.
A governamentalidade neoliberal se manifesta de forma técnica e prática, não necessariamente de controle direto objetivo, mas como estratégias sutis de regulação de ações e pensamentos, dominação das subjetividades e produção de determinados regimes de verdades. Não é só um modelo econômico, é uma cultura artificial em processo de imposição.
Nas reformas e projetos educativos a serviço do neoliberalismo, o discurso propõe a centralidade nas competências, habilidades e desempenhos individuais. Passa a não idealizar o desenvolvimento de conhecimentos (críticos) em si, mas a construção de soluções rápidas de problemas imediatos. A presença do saber fazer deve ser entendida não como uma simples valorização de habilidades e competências para o dia a dia, mas como parte discursiva alinhada à racionalidade neoliberal.
Na escolarização, exigir que jovens demonstrem resultados por meio de indicadores de desempenho e rankings contribui com a produção subjetiva / ideológica de responsabilização individual, disputa e competitividade típica da lógica empresarial. Assim, de forma coercitiva, faz uma pressão nos alunos por meio dos medidores de desempenho em banco de dados, onde indivíduos e organizações farão o que for necessário para exceder ou para sobreviver, como afirma Stephen Ball, chamando esse processo de de performatividade e gerencialismo.
De modo geral, a educação passa a ser vista como um bem de serviço. A educação pública está sendo neoliberalizada, inclusive pelos governos de centro esquerda, de dentro para fora, por meio do empreendedorismo e suas lógicas mercantis. Denunciar o neoliberalismo é necessário, mas não suficiente. Precisamos mostrar alternativas concretas, e é aqui que entra o protagonismo das juventudes na construção de políticas públicas. Não se trata apenas de receber direitos: é de criar, intervir e transformar.
A juventude deve ser estimulada, orientada e guiada a ocupar espaços de intervenção concreta, disputar projetos e lutar pelo acesso das juventudes à educação, cultura, esporte, trabalho digno, lazer e protagonismo social e político. A construção de políticas públicas de juventude, principalmente nos municípios, tornam-se essenciais para garantir direitos e oportunidades reais. Gestores de juventude devem priorizar a construção coletiva de políticas de juventude, parcerias com grêmios estudantis e diretórios acadêmicos de universidades, escolas estaduais, municipais e instituições alinhadas politicamente e ideologicamente com o Partido, pautando a disputa sempre de forma crítica, popular, democrática e emancipatória.
É nesse terreno que a juventude se torna protagonista, articulando experiências, demandas e propostas que refletem suas necessidades. Entre as políticas municipais que podem ser fortalecidas e implementadas, destacam-se os Centros de Referência da Juventude, Espaços da Juventude, Estação Juventude, CEUs das Artes e Centros de Convivência. Esses aparelhos devem ser articulados com escolas públicas estaduais e municipais, institutos e instituições sem fins lucrativos de caráter social, assistencial, educativo e cultural, criando uma rede intersetorial de oportunidades.
Eles funcionam como ferramentas estratégicas de enfrentamento às várias formas de violência que atingem a juventude, como violência urbana, policial, simbólica, de gênero e racial. Ao mesmo tempo, garantem acesso a políticas de juventude de diferentes vertentes, promovendo educação, cultura, lazer, esporte, inclusão digital e protagonismo social nos territórios onde as juventudes estão presentes, sobretudo em periferias.
É necessário destacar o impacto das redes sociais e os efeitos do poder das big techs na vida das juventudes. Nesse sentido, neoliberalismo produz sujeitos submersos na racionalidade da performance, do mérito e da aparência, em constante exposição e competição virtual. É tarefa do partido promover o uso saudável das redes sociais, incentivando a produção de conteúdo por jovens, que reflita sua realidade, experiências e projetos de transformação, conectando-os com lutas sociais e culturais, sem subordinação às lógicas mercadológicas.
É também fundamental a atuação dos representantes que ocupam cargos em organizações de juventude, articulando os espaços em prefeituras, secretarias, DCEs e demais espaços de gestão ou proposição, mesmo em ambientes de instituições historicamente burguesas. Essa mediação e inserção amplia o impacto das políticas públicas, garantindo que a juventude possa ter a chance de intervir.
A tarefa da juventude é dupla: resistir e criar. Resistir à mercantilização da vida, ao individualismo e à alienação. Criar novas formas de solidariedade, de organização coletiva, de engajamento político. Uma juventude que se conecta com trabalhadores, mulheres, povos originários, movimento negro, comunidade LGBTQIA+ e todas as expressões democráticas e populares. Dentro do partido, a juventude não pode ser força auxiliar. Ela deve ser parte orgânica da vida partidária, participando efetivamente nos espaços de direção. Respeitar os períodos de gestão previstos no estatuto garante renovação de lideranças e evita que cargos se tornem propriedade pessoal. Só assim se assegura que a juventude seja guiada por quem vive a realidade juvenil.
A participação das juventudes comunista deve ir além de organizações paralelas, como UJS ou movimentos estudantis. Há jovens trabalhadores e trabalhadoras, das periferias, jovens mães e jovens que não estão ou nem desejam estar em espaços estudantis. A própria célula partidária deve ser espaço de acolhimento, formação e direção política, reconhecendo a pluralidade de experiências e fortalecendo a democracia interna. É urgente resgatar a dimensão crítica da formação
juvenil. Paulo Freire nos lembra: diálogo e prática coletiva são caminhos para consciência histórica e transformação social. Dispositivos de poder moldam subjetividades, inclusive dentro das organizações, e se não problematizados podem transformar a militância em mera formalidade.
Políticas de juventude não podem oferecer apenas espaços de participação. Elas devem promover reflexão crítica, compreensão da realidade material e prática coletiva de organização. Somente assim a juventude poderá cumprir seu papel histórico de força transformadora, consciente de sua inserção de classe e capaz de enfrentar os desafios do neoliberalismo e da exploração precária. Camaradas, a juventude não é apenas futuro: ela é presente.
O papel do Partido deve se concentrar em fomentar projetos de formação e ações participativas, incentivando cada vez mais a inserção e o protagonismo dos jovens na vida ativa partidária, bem como nos espaços externos. Ocupar! É necessário valorizar a cultura do partido, sua história e sua importância no mundo, garantindo que a juventude compreenda e fortaleça essa tradição, contribuindo de forma consciente, criativa e crítica para o presente e o futuro da militância e da sociedade. Essa é a juventude que pode e deve conduzir o Brasil a Revolução Brasileira, uma nova etapa de sua história: emancipação, democracia real e socialismo.