O projeto “Tarcísio 2026” está morto. Ao longo desta semana, o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), avisou a diversos aliados que não será candidato à sucessão do presidente Lula (PT), preferindo, assim, disputar a reeleição em São Paulo.

Embora sua pré-candidatura contasse com as bençãos de caciques do Centrão, Tarcísio buscava se viabilizar num momento em que Jair Bolsonaro – seu padrinho político – vivia uma “tempestade perfeita”. Os filhos do ex-presidente, em especial o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), não lhe perdoaram – e críticas privadas ao governador passaram a ser constrangedoramente públicas.

Em julho, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um tarifaço de 50% às exportações brasileiras, Tarcísio tentou desgastar Lula – no que foi repreendido tanto pelo setor empresarial como pela grande mídia. Ao se lançar, posteriormente, como interlocutor com representantes norte-americanos, a indisposição foi com os próprios bolsonaristas, que viralizaram nas redes a hahstag #TarcísioTraidor.

A exemplo da mulher de César – que precisava não apenas ser honesta, mas, acima de tudo, parecer honesta –, o governador resolveu demonstrar publicamente sua lealdade a Bolsonaro. Novamente, tropeçou no caminho. Primeiro, ao se vender como fiador de um projeto de anistia aos golpistas do 8 de Janeiro de 2023, mobilizando o Centrão para uma pauta indigesta. A proposta parecia avançar, mas a aprovação da urgência para a anistia na Câmara, ao lado da vergonhosa PEC da Blindagem, foi repudiada pela sociedade brasileira.

O afoito governador, cobrado por fazer defesas tímidas de Bolsonaro e não atacar o STF (Supremo Tribunal Federal), aproveitou o 7 de Setembro para pagar as duas dívidas. Em plena Avenida Paulista, defendeu a anistia em alto e bom som, denunciou a “tirania” do Judiciário e chamou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de “ditador”. A recompensa não chegou, mas o prejuízo, sim. Para se mostrar fiel ao padrinho, Tarcísio queimou pontes construídas por anos junto ao Supremo.

O “novo” Tarcísio, exposto à opinião pública, não convenceu nenhum dos lados. Pior: com a resposta firme de Lula à ingerência dos Estados Unidos, somada à condenação de Bolsonaro a mais de 27 anos de prisão, os ventos pré-eleitorais mudaram de lado. Nas pesquisas, a aprovação ao governo cresceu, assim como os índices de intenção de voto em Lula. Os representantes do bolsonarismo, em contrapartida, encolheram.

Surgiu, então, o boato de que Bolsonaro teria dado o “OK” ao Pupilo, chancelando sua candidatura nacional no ano que vem. “Não houve aval nenhum”, rebateu o próprio Tarcísio nesta semana. “Sou candidato à reeleição. Não existe nada além disso.”

A rigor, mesmo com a movimentação fora de São Paulo – notadamente em Brasília –, Tarcísio jamais assumiu publicamente o desejo de chegar ao Planalto. Mas o apoio crescente de partidos do Centrão à investida – com direito a um desembarque anunciado do governo Lula – levou até a uma corrida para postulantes a vice-presidente na chapa.

A despeito das negativas, Gilberto Kassab, secretário do governo Tarcísio e presidente nacional do PSD, manteve o tema em pauta. “Se (Tarcísio) for candidato (à Presidência da República), terá o nosso apoio”, afirmou. Ao mesmo tempo, Kassab disse que o próprio PSD tem nomes “preparados para comandar o Brasil”, citando os governadores Ratinho Jr. (PR) e Eduardo Leite (RS). Em outras palavras, sem o Plano A, abriu-se a temporada de Planos B, C, D…

Na segunda-feira (29), Tarcísio visitará Bolsonaro, que está em prisão domiciliar. A batalha quase perdida da anistia estará em discussão, mas o encontro também deve sepultar de vez o projeto “Tarcísio 2026”. De acordo com o Poder360, o governador dirá ao ex-presidente que tem preferência pelo nome de Ratinho Jr. Neste jogo de ratos, ratinhos e ratazanas, a ratoeira, até aqui, se saiu melhor.