Pequim: “Mentira sobre ‘ameaça nuclear da China’ é pretexto para expansão atômica dos EUA”
“Os EUA são principal fonte de ameaça nuclear no mundo”, afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, na quarta-feira (21), após artigo do jornal The New York Times, na véspera, revelar a existência de uma “revisão” da estratégia de guerra nuclear dos EUA, altamente confidencial, que pela primeira vez a reorienta para se concentrar na suposta expansão do arsenal nuclear da China, além de uma suposta “coordenação” no terreno nuclear entre China, Rússia e Coreia do Norte.
“A constante propaganda dos EUA da teoria da ‘ameaça nuclear da China’ é um pretexto conveniente para os EUA se esquivarem de suas próprias obrigações de desarmamento nuclear, expandirem seu próprio arsenal nuclear e buscarem predominância estratégica absoluta”, acrescentou Mao.
Segundo matéria do NYT dessa terça-feira (20), Biden aprovou a ‘revisão’ em março, redigida sob a premissa do Pentágono de que os estoques de arsenal nuclear da China rivalizarão com o tamanho e a diversidade dos EUA e da Rússia na próxima década.
“O tamanho do arsenal nuclear da China não está no mesmo nível dos EUA. A China segue uma política de “não primeiro uso” de armas nucleares e sempre mantém suas capacidades nucleares no nível mínimo exigido pela segurança nacional”, sublinhou Mao. Ela acrescentou que Pequim não tem intenção de se envolver em qualquer forma de corrida armamentista com os outros.
“Em contraste, os EUA têm o maior e mais avançado arsenal nuclear do mundo. Mesmo assim, Washington se apega a uma política de dissuasão nuclear de primeiro uso e investiu pesadamente para atualizar sua tríade nuclear e descaradamente elaborou estratégias de dissuasão nuclear contra outros. São os EUA que são a principal fonte de ameaça nuclear e riscos estratégicos no mundo”, afirmou a porta-voz da diplomacia chinesa.
Segundo o NYT, a revisão é tão confidencial que não há cópias eletrônicas, com apenas um pequeno número de cópias impressas distribuídas a alguns funcionários de segurança nacional e comandantes do Pentágono.
Já de acordo com a Reuters, a revisão da estratégia de guerra nuclear dos EUA, ou como ela coloca, “os novos desafios”, não têm sido tema de debate na campanha eleitoral presidencial. Biden nunca comentou publicamente sobre isso, nem a vice-presidente Kamala Harris, que agora concorre como candidata a presidente do Partido Democrata.
A Reuters acrescenta que, em discursos recentes, dois altos funcionários do governo Biden foram autorizados a aludir à revisão – “em frases únicas e cuidadosamente limitadas”. E que é aguardada uma notificação “mais detalhada e não confidencial” ao Congresso dos EUA antes que Biden deixe o cargo.
Vipin Narang, estrategista nuclear do MIT que serviu no Pentágono, disse no início do mês que Biden “emitiu recentemente orientações atualizadas sobre o uso de armas nucleares para dar conta de múltiplos adversários com armas nucleares”. “Em particular, estas diretrizes sobre armas têm em conta o aumento significativo no tamanho e na diversidade” do arsenal nuclear da China, disse Narang.
Em junho, Pranay Vaddi, diretor sênior de controle de armas do Conselho de Segurança Nacional, disse que a nova estratégia enfatiza “a necessidade de dissuadir simultaneamente a Rússia, a República Popular da China e a Coreia do Norte”.
Explicação análoga foi apresentada pelo NYT, segundo o qual foi “apenas uma questão de tempo até que um ambiente nuclear fundamentalmente diferente mudasse os planos e estratégias de guerra da América” e que o novo desafio seria a “possibilidade real de cooperação e até de conluio entre os nossos adversários com armas nucleares”.
Já para o professor da Universidade de Relações Exteriores da China, Li Haidong, essa revisão de estratégia reflete que os EUA atingiram “um nível de histeria quando se trata de competição com países como a China”. “Chegou a um ponto em que se diz preparado para um conflito nuclear, o que é extremamente perigoso”.
Ao tentar culpar a China, Washington coloca cinicamente o problema real de ponta-cabeça, pois são os EUA que mantêm uma política de cerco contra as nações soberanas – de que as 800 bases no exterior e as guerras por procuração da Otan são expressão -, enquanto prolifera suas armas nucleares mundo afora.
Inclusive está ativamente dedicado a instaurar no Pacífico a iminência de guerra nuclear, já tão visível na Europa, com a criação de alianças agressivas como o Aukus. Além de serem o único país que perpetrou a guerra de extermínio nuclear, como rememoram a cada agosto Hiroshima e Nagasaki.
Em julho, a China havia instado os EUA a abandonar os acordos de “compartilhamento nuclear” e “dissuasão estendida”, retirar as armas nucleares implantadas no exterior, abandonar o desenvolvimento e a implantação de um sistema global de defesa antimísseis e cessar imediatamente a implantação de mísseis terrestres de alcance intermediário na região da Ásia-Pacífico em uma sessão do Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento sobre o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
A declaração chinesa foi feita no âmbito da preparação da 11ª sessão do Comitê Preparatório para a conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que irá ocorrer em 2026.
Fonte: Papiro