Lula visita Cruzeiro do Sul, uma das cidades mais destruídas no RS. Foto: Ricardo Stuckert

Após pouco mais de um mês do início das enchentes, o Rio Grande do Sul batalha para se reerguer. Se no começo, a urgência era o socorro e o atendimento às vítimas, agora, a fase é de calcular a destruição e preparar a reconstrução de grandes dimensões que a nova realidade impõe. 

Os números impressionam. Segundo informações da Defesa Civil do RS, de 497 municípios, 476 foram afetados — o que corresponde a 95% do total. Com uma população de mais de 8,5 milhões, cerca de 2,4 milhões de pessoas foram atingidas — o que significa cerca de 28%. 

Até o momento, 172 mortes foram confirmadas, 44 pessoas seguem desaparecidas e mais de 800 ficaram feridas. Cerca de 575 mil ficaram desalojadas e 35 mil estão em abrigos. Cerca de 100 mil casas foram destruídas. 

Os prejuízos ainda estão sendo contabilizados, mas estimativas divulgadas até o momento dão uma noção do estrago geral. Segundo a Federação de Entidades Empresariais do RS (Federasul), a reconstituição da infraestrutura pode custar entre R$ 110 bilhões e R$ 176 bilhões. 

Em meados de maio, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) calculava que o prejuízo financeiro das cidades gaúchas ultrapassa os R$ 10 bilhões. 

Documento elaborado pela Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar) aponta que, no meio rural, quase 19,2 mil famílias tiveram perdas relativas às estruturas das propriedades.

Em relação à agroindústria, dados preliminares apontam prejuízos para cerca de 200 empreendimentos familiares. Ao todo, foram prejudicados cerca de 49 mil produtores de grãos, grande parte de milho e soja. Ainda de acordo com o levantamento, considerando o volume, a maior perda ocorreu na produção da soja. Foram 2,71 milhões de toneladas perdidas. 

“A produção pecuária gaúcha também foi severamente impactada, exigindo longo período para recuperação. As perdas de animais afetaram de forma significativa 3,7 mil criadores gaúchos. O maior número de animais mortos foi de aves, totalizando 1.198.489 indivíduos adultos. Também houve perdas substanciais de bovinos de corte e de leite, suínos, peixes e abelhas”, destaca a análise.

No caso das frutas, os citros, na região dos Vales, e a banana, nas encostas da Serra do Mar, foram as culturas mais prejudicadas, com impacto para 8,3 mil propriedades. 

No caso do setor automobilístico, o Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículo (Sindicov-Fenabrave) calcula perdas em torno de R$ 1,5 bilhão. 

Federações representativas do comércio, dos serviços, da indústria e da agropecuária calculam perdas de R$ 40 bilhões para a atividade econômica. A retração na produção gaúcha é projetada em 6,25% e o PIB, que tinha um aumento de 4,7% estimado para este ano, terá perda de 0,6%. 

As projeções de economistas quanto ao impacto dessas perdas no PIB nacional ficam em torno de 0,2% e 0,3% no segundo trimestre. Mas, conforme noticiado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) evita cravar um percentual por ora. 

Retomada

Rodovias destruídas no RS. Foto: Jeff Botega/Agência Brasil

A extensão e profundidade do desastre colocam uma série de desafios, aos governos e à sociedade, para que o Rio Grande do Sul possa se reconstruir e avançar. Neste sentido, o Estado tem papel central. No caso do Governo Federal, recursos bilionários vêm sendo aportados desde o socorro imediato até o processo de retomada das atividades econômicas. 

“Ao mesmo tempo em que estamos passando por uma crise sem precedentes, do ponto de vista da atividade econômica, o RS está recebendo uma injeção de recursos que faz com que haja uma resposta muito importante de movimentação da atividade econômica do estado”, disse à CNN, na terça-feira (4), o ministro extraordinário para Apoio à Reconstrução do RS, Paulo Pimenta. 

Dentre as medidas já tomadas que ajudam a aquecer a atividade local em curto prazo, Pimenta citou como exemplos a liberação de saques do FGTS, o Auxílio Reconstrução e a aquisição de imóveis via Minha Casa Minha Vida aos atingidos, as obras emergenciais nas estradas e a antecipação da restituição do Imposto de Renda no estado. 

“A retomada gera emprego, movimenta a economia e tenho a expectativa de que a gente possa neutralizar eventuais resultados negativos no PIB com a retomada, com força, da atividade econômica no estado”, destacou. 

Segundo o site Brasil Participativo, que concentra as medidas tomadas pelo governo Lula, até o momento, os investimentos no estado somam R$ 85,7 bilhões. Soma-se a isso a suspensão da dívida do estado por três anos, num total de R$ 23 bilhões (R$ 11 bi da suspensão e R$ 12 bi dos juros e correção). 

No caso do Auxílio Reconstrução — pagamento em parcela única de R$ 5,1 mil para os atingidos — até a quinta (6), 99,8 mil famílias haviam sido beneficiadas, num valor total de quase R$ 510 milhões. O Saque Calamidade, do FGTS, já chegou a R$ 1,4 bilhão. 

Nesta quinta (6) durante sua quarta visita ao RS, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o pagamento dois salários mínimos a 434 mil trabalhadores formais do estado, em troca da não demissão por quatro meses e da não redução salarial. O recurso previsto para esta medida é em torno de R$ 1 bilhão e será autorizado em novo crédito extraordinário.

Outra medida lançada foi a compra de imóveis já prontos para atender aos desabrigados pelas enchentes no estado. Os imóveis serão destinados a famílias das faixas 1 e 2 do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), com renda mensal de até R$ 4,4 mil.

“Nós não vamos faltar ao povo do Rio Grande do Sul. Vamos fazer dentro das limitações do Governo Federal tudo aquilo que estiver ao nosso alcance, aquilo que a lei permitir, aquilo que a gente conseguir fazer a Câmara e o Senado aprovar, aquilo que não haja implicação judicial. Nós vamos fazer tudo o que for necessário para a gente dar de volta a dignidade e o orgulho do povo gaúcho”, afirmou o presidente durante pronunciamento em Arroio do Meio, uma das cidades mais destruídas pelas chuvas.