Produção industrial foi fator central no crescimento de 2023 | Foto: Xinhua

O jornal Global Times saudou o crescimento anual do PIB da China de 5,2% no ano passado – “acima da meta estabelecida”, com a trajetória real da economia chinesa mostrando “robusta resiliência e potencial”, apesar do que descreveu com “certas visões pessimistas externas e até teorias do colapso”.

Como salientou o GT, usando as estimativas do Banco Mundial para as taxas de crescimento das principais economias em 2023, “o incremento econômico da China é aproximadamente 1,5 vezes o dos EUA e cerca de 16,5 vezes o da zona do euro”.

“A contribuição da China para o crescimento econômico global é maior do que as contribuições combinadas das Américas, Europa e Japão, tornando-se o motor líder para o crescimento econômico global”, sublinhou o Global Times.

De acordo com o jornal, a recuperação da economia chinesa em 2023 – no ano anterior havia crescido 3% – “não foi totalmente suave”, o que atribuiu a que o impacto do “efeito cicatriz” da pandemia na economia foi maior do que o previsto, com o setor imobiliário “persistentemente lento”.

Simultaneamente – acrescentou -, “a fraca recuperação econômica global exerceu pressão sobre o crescimento do comércio, e os efeitos colaterais de ações como os aumentos das taxas de juros do Federal Reserve e a valorização do dólar não devem ser subestimados”.

Quadro que deu margem a alertas de “deflação” e, entre os mais afoitos, até mesmo de “colapso da economia chinesa”.

Contexto que torna o resultado de 2023 ainda mais significativo e que, segundo o GT, ajuda observadores nacionais e internacionais a terem “uma compreensão oportuna e clara do quadro geral da economia chinesa”, mas que também serve como “refutação das várias teorias e especulações infundadas sobre a economia chinesa”.

Além disso – acrescenta o GT – fornece “um forte alento em meio às expectativas geralmente mais baixas para a recuperação econômica global este ano”.

O GT aponta que, com base em vários dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas, é evidente que a economia da China “passou por uma transformação acelerada no ano passado”.

“Em primeiro lugar, os tradicionais ‘três motores’ que impulsionam a economia – exportações, consumo e investimento – estão passando por mudanças significativas em sua contribuição para o crescimento econômico.”

Em 2023, a taxa de contribuição da procura interna, representada pelo consumo e pelo investimento, para o crescimento econômico, atingiu 111,4%, um aumento de 25,3 pontos percentuais face aos 12 meses anteriores, sublinhou o GT.

Para o jornal, existe também um problema de procura efetiva insuficiente, “e a combinação de reformas estruturais do lado da oferta e expansão da procura efetiva necessita de ser reforçada”.

O Global Times destacou que o ajuste estrutural e a transformação e modernização do desenvolvimento econômico da China têm vindo a acelerar-se. “Em 2023, mais de 1 trilhão de yuans (US$ 140 bilhões) em “novos três itens”, ou seja, veículos elétricos, painéis solares e baterias de lítio, foram exportados, com os investimentos em manufatura de alta tecnologia e serviços de alta tecnologia crescendo 9,9%. e 11,4%, respectivamente.”

O jornal observa que o potencial das indústrias de alta tecnologia para impulsionar a economia nacional ainda não foi totalmente realizado, mas enfatiza que “para uma economia de grande escala como a China, e um grande navio como a economia chinesa, o mais importante é determinar se ele está navegando na direção certa”

DESENVOLVIMENTO DE ALTA QUALIDADE

“No processo de desenvolvimento econômico acima mencionado, já testemunhamos o forte potencial de avançar em direção ao desenvolvimento de alta qualidade. É por isso que o número de 5,2% representa a confiança de que a economia chinesa pode enfrentar os desafios este ano”.

Agora – convoca o jornal -, a chave é “liberar esse potencial com paciência suficiente e esforços redobrados, e conseguir sem problemas a transformação e a atualização da estrutura econômica”.

Apesar de prever que 2024 também não será um caminho tranquilo, o Global Times registra que o que é certo é que, no contexto do crescimento econômico global que deve desacelerar, do aumento contínuo dos riscos geopolíticos, do início de um super ciclo de inovação e da aceleração da transformação verde global, a direção macroeconômica e política geral da China é “a mais clara e estável entre todas as principais economias”.

O GT conclui seu editorial chamando a buscar “novos fatores impulsionadores do crescimento por meio da inovação, transformação e atualização tecnológica, aumentando continuamente o investimento em áreas como economia digital, desenvolvimento de inteligência artificial e tecnologia verde, enquanto continuamos a exercer os efeitos políticos da estabilização do crescimento”. “A resiliente economia chinesa proporcionará ao mundo segurança e estabilidade.”

FUNDAMENTOS SÓLIDOS, DIZ LI QUIANG

No Fórum Econômico de Davos, o primeiro-ministro chinês Li Qiang havia antecipado o resultado do PIB, destacando que a China “estabeleceu fundamentos sólidos” e “a tendência geral de crescimento a longo prazo” do país “não mudará”. 

O governo chinês destacou a importância do investimento público e da aceleração da produção industrial no desenvolvimento do país.

“A economia chinesa está fazendo progresso constante e continuará a proporcionar um forte impulso à economia mundial”, assinalou o chefe do Escritório Nacional de Estatísticas, Kang Yi, apesar da pressão externa e das dificuldades internas.

Ele ressaltou a importância do mercado interno para o desenvolvimento econômico do país: “Na China, existem atualmente mais de 400 milhões de pessoas na faixa de rendimento médio, e espera-se que o número atinja 800 milhões na próxima década”. O país – ele acrescentou – “redobrou os

 esforços para expandir o consumo interno, otimizar a estrutura, aumentar a confiança e prevenir e neutralizar riscos”.

Pelo segundo ano consecutivo, a população da China diminuiu em mais 2,08 milhões, para 1,41 bilhão de pessoas, e a China foi ultrapassada pela Índia como país mais populoso do mundo.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS

– Crescimento do PIB de 5,2%, para 126,1 trilhões de yuans (US$ 17,7 trilhões).

– Vendas no varejo aumentaram 7,2%, para 47,1 trilhões de yuans.

– Renda per capita disponível: aumento de 6,3%.

– Desemprego: 5,2%, com uma queda de 0,4 ponto percentual em relação a 2022.

– Desemprego juvenil: 14,5%, depois de ter chegado em junho a um pico de 21,4%.

– Estabilidade nos preços, com alta de 0,2% na inflação.

– Produção industrial: aumento de 4,6%; sendo que a indústria de transformação aumentou 5% e a fabricação de equipamentos, 6,8%. A indústria automotiva teve seu valor agregado elevado em 13%, a fabricação de máquinas e equipamentos elétricos subiu 12,9% e a de produtos químicos 9,6%. A indústria metalúrgica cresceu 7,1%.

– Investimentos em ativos fixos: alta de 3%. Os investimentos na indústria de transformação e em infraestrutura puxaram o índice com 6,5% e 5,9% de crescimento, respectivamente. Os investimentos no setor imobiliário caíram 9,6%.

– Investimentos em alta tecnologia: alta de 10,3%, com destaque para o crescimento de 18,4% em aviação e 14,5% em naves espaciais.

– Serviços: crescimento de 5,8%.

– Comércio exterior: contração de 4,6% nas exportações e de 5,5% nas importações. A China continua sendo o maior exportador do mundo, com US$ 2,65 trilhões em 2023, comparado com US$ 1,8 trilhão dos EUA e US$ 1,43 trilhão da Alemanha.

— Investimento privado: queda de 0,4%; quando o setor imobiliário é excluído do cálculo, o aumento é de 9,2%.

– Agricultura: produção recorde de 695,4 milhões de toneladas de grãos.

– Consumo de eletricidade: aumento de 6,7%, para 9,22 trilhões de quilowatts-horas.

ALÉM DOS NÚMEROS

Em sua frieza, de certa forma esses números não expressam plenamente o que foi alcançado pela China em 2023. Como os avanços na disputa pelo domínio soberano da alta tecnologia, expresso pelo lançamento, pela Huawei, de seu smartphone Mate 60, com novo chip 5G de 7 nanômetros Kirin 9000s, apesar do bloqueio decretado pelos EUA, que proíbe venda à China de quaisquer equipamentos de ponta que contenham algum componente norte-americano.

Ou o fato de a China ter se tornado o maior exportador de automóveis do mundo, com 5,2 milhões de unidades, suplantando o Japão, com 4,3 milhões.

Também na transição energética, é evidente a dianteira que a China está tomando, tendo se tornado no maior produtor de veículos movidos por eletricidade (VEs) no mundo.

Nos últimos dois anos, o número de unidades vendidas anualmente no país cresceu de 1,3 milhão para 6,8 milhões, fazendo de 2022 o oitavo ano consecutivo em que a China foi o maior mercado mundial de VEs. No mesmo período, os Estados Unidos venderam cerca de 800 mil unidades.

Problemas reais, como a crise no setor imobiliário, demandam soluções chinesas, e não as do figurino da especulação imobiliária e do rentismo dos países centrais. Ou seja, mais intervenção estatal, sob o lema do presidente Xi Jinping, de que casa é para morar, não para especular.

Fonte: Papiro