Polícia e exército atuam em Quito contra organizações do narcotráfico | Foto: Cambio21

Em meio ao acirramento da violência, os principais ataques das gangues ligadas ao narcotráfico se concentraram em Guayaquil. A cidade equatoriana viveu o dia de extrema tensão na terça-feira, dia 9, com invasão de emissora de TV, ataque a Universidade e a hospital.

No caso da TV, funcionários foram sequestrados ao vivo e a situação só se normalizou com a chegada da polícia que encontrou explosivos e armas e liberou os funcionários. Treze agressores foram presos, informou o comandante geral da Polícia Nacional do Equador, César Augusto Zapata Corrêa. Na Universidade de Guayaquil estudantes foram rendidos e por pouco não houve sequestros, segundo informa o chefe da polícia. No Hospital, houve roubo de pertences de pacientes.

Ao decretar o “Estado de exceção” no Equador, o presidente Daniel Noboa conclamou à unidade nacional para derrotar o “conflito armado interno”.

A tensão já estava em um crescendo com a fuga no domingo (7) do criminoso que chefia o bando Los Choneros, José Adolfo Macías Villamar (Fito), condenado a 34 anos por organizar narcotráfico e participar de assassinato no Cárcere Regional de Guayas. Ele fugiu sem deixar vestígios. Na terça (9), um dos chefões da gangue Los Lobos, Fabricio Colón Pico, também fugiu. Ele tinha sido preso na sexta-feira pelo crime de sequestro e a suposta responsabilidade em um plano para assassinar a procuradora-geral do país.

O descontrole geral leva Noboa, há poucos meses de governo, mobilizar por 60 dias as Forças Armadas, dispor de tanques e suspender direitos civis. . Só a tentativa de recaptura de Fito mobiliza mais de 3.000 policiais.

A taxa de assassinatos aumentou de 5,8 para 25,32 para cada 100 mil habitantes em 2022, e saltou para 40 no ano passado, a mais alta da história, tornando-se o país o mais perigoso da América Latina, com 7.800 mortes violentas.

É preciso “dispor a mobilização e intervenção das Forças Armadas e da Polícia Nacional em todo o território para garantir a soberania e integridade territorial contra o crime organizado transnacional, organizações terroristas e os atores não-estatais beligerantes, conforme o exposto no presente Decreto Executivo”.

Logo a seguir, são identificados os 22 grupos de crime transnacional, entre eles o Águilas, AK47, Cuartel de las Feas, Lobos e Patrones. Com base na atualização das informações técnicas, o Conselho de Segurança Pública e do Estado complementará a lista com os grupos identificados.

Segundo explicitado no decreto, será determinado às Forças Armadas executar operações militares, sob o direito humanitário internacional e respeitando os direitos humanos, para “neutralizar” tais grupos criminosos.

Dos 137 parlamentares da Assembleia Nacional, a Ação Democrática Nacional, do governo Noboa tem apenas 17 contra 52 do movimento oposicionista Revolução Cidadã (RC), dirigido por Luisa González, e integrado pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017).

Diante das vacilações do governo Noboa, o RC deu o respaldo necessário para que adotasse as medidas, “em vez de realizar uma Consulta Popular que, além de gastar US$ 60 milhões, adiaria o enfrentamento com as máfias e bandos de criminosos”. E foi além, conclamando-se a todos a somarem-se “de maneira patriótica” à iniciativa.

A proposta de consulta, assinalou a bancada parlamentar da RC, “resulta inútil para enfrentar a gravidade dos problemas e desperdiça dois elementos fundamentais: tempo e dinheiro”. Por conta disso, a RC entrou em bloco na mesma segunda-feira com um projeto de lei para deter “a sangria que vivemos”, possibilitando que a economia sirva para a contratação de mais policiais, compra de equipamentos, reforço do sistema de inteligência nas penitenciárias e outras ações urgentes. “Exigimos transparência e responsabilidade neste momento crítico do país. Basta de improvisação”, sublinhou o comunicado.

“Temos uma guerra interna e o Estado deve responder com toda a sua força legítima”, respalda o ex-presidente Rafael Correa

Exilado político na Bélgica, Rafael Correa esclareceu que “o Equador chegou a este ponto de violência depois de sete anos de destruição e desaparição do Estado de Direito”. “Os governos de Guillermo Lasso (2021-2023) e Moreno (2017-2021) são os culpados pelo que está passando”, ressaltou Correa, frisando “nunca ter visto um processo de destruição em época de paz como no caso equatoriano”.

“O crime organizado se espalhou e se fortaleceu. Sempre houve, mas a diferença é que se infiltraram no governo Lasso e nas estruturas das Forças de Segurança. Milhares de policiais foram transferidos para cargos burocráticos e essas tropas devem retornar às ruas”, propôs o ex-presidente.

A avaliação é reforçada pelo renomado historiador equatoriano Juan Paz y Miño Cepeda, para quem “o crime busca o terror e o caos”. “As organizações políticas apelaram à unidade nacional e ao apoio ao governo nestas circunstâncias. As implicações para a democracia são imprevisíveis. Afinal, desde Moreno e Lasso, as capacidades estatais foram desmanteladas”, acrescentou.

VIZINHOS, PERU E COLÔMBIA DÃO SUPORTE

O governo da Colômbia reiterou seu “explícito e inequívoco respaldo à institucionalidade democrática e ao Estado de Direito na irmã República do Equador”. Neste sentido, esclareceu, “rechaça os recentes atos de violência ocorridos em várias cidades do país irmão e expressa sua solidariedade com as pessoas afetadas”.

Da mesma forma, o governo peruano declarou “emergência” em toda a fronteira norte do país e disse que enviará tropas para que vigiem a zona equatoriana. “Condenamos energicamente os atos de violência ocorridos, que violam os direitos fundamentais dos equatorianos e ameaçam a segurança desse país irmão”, expressou.

SOLIDARIEDADE LATINO-AMERICANA

“O governo brasileiro monitora com preocupação e condena as ações violentas realizadas por grupos do crime organizado em diversas cidades do Equador. Também expressa solidariedade ao governo e ao povo equatoriano diante dos ataques”, apontou a diplomacia do governo de Inácio Lula da Silva. De forma enfática, Lula rechaçou as “ações do crime organizado” no Equador.

Da mesma maneira, o presidente da Bolívia, Luis Arce, repudiou “os atos de violência ocorridos nas últimas horas na irmã República do Equador” e expressou solidariedade ao povo e às autoridades na sua luta contra o crime. “Ressaltamos que é urgente trabalhar na regionalização do combate ao tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, bem como na criação de organizações supranacionais como a Aliança Latino-Americana Antinarcóticos (ALA), sob os princípios da soberania e dignidade do nosso povo; proposto pelo nosso país em diversas reuniões internacionais”, apontou Arce.

Para o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, a “desestabilização das instituições”, que provocou os atos de violência no Equador manifestou a sua “forte rejeição”. “Somos solidários com o governo equatoriano e as famílias afetadas”, acrescentou.

Fonte: Papiro