Charles Michel presidente do Conselho Europeu, presidente chinês Xi Jinping e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia | Foto: Dario Pignatelli/AFP

Ao recepcionar os dois principais líderes da União Europeia em Pequim, o presidente chinês Xi Jinping sublinhou que a China e a UE devem ser parceiros para uma cooperação mutuamente benéfica, construir consensos estratégicos, cimentar os laços de interesse partilhado, eliminar interferências e enfrentar conjuntamente os desafios globais.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, participaram na China da 24ª Cúpula China-EU, na quinta-feira (7). A cúpula foi a primeira reunião dos principais líderes da UE com o presidente Xi Jinping desde 2019.

As declarações dos líderes europeus refletem um distanciamento com relação à política de Guerra Fria que o governo Biden vem desencadeando não apenas contra a Rússia, mas também contra a China, em particular na pressão sobre países europeus para que não vendam máquinas que possibilitam a produção de chips de maior densidade e portanto de dimensões mais reduzidas, como é o caso dos equipamentos holandeses que trabalham com raios infravermelhos.

“A China e a UE devem ser parceiros para uma cooperação mutuamente benéfica”, disse Xi, chamando ambos os lados a “proporcionar maior estabilidade para o mundo e um impulso mais forte para o desenvolvimento”.

A relação China-UE tem “significado estratégico e implicações para a paz, estabilidade e prosperidade globais” em meio à situação internacional cada vez mais turbulenta, enfatizou o presidente Xi, observando que a China e a UE são duas grandes forças que promovem a multipolaridade, dois grandes mercados em apoio à globalização e duas grandes civilizações que defendem a diversidade.

Por sua vez, von der Leyen e Michell, segundo o portal europeu euronews, enfatizaram que a UE não tem intenção de “dissociar” da China e saudaram o papel da China nas mudanças climáticas e na energia verde e consideraram “franca” a discussão de questões delicadas entre os dois lados, como o “desequilíbrio comercial” e a crise na Ucrânia.

No entendimento de Pequim, na cúpula a UE mostrou procurar uma relação a longo prazo, estável, previsível e sustentável com a China. Expressou ainda a esperança de que as duas partes continuem a fortalecer o diálogo e a cooperação nos campos econômico e comercial, verde e digital, trabalhem juntas para manter as cadeias de suprimentos e industriais estáveis e seguras e fortaleçam o diálogo e a cooperação sobre as principais questões globais relativas ao futuro da humanidade, como as mudanças climáticas e a inteligência artificial.

“Todos são sinais positivos, indicando que a UE pode voltar ao caminho da cooperação e do benefício mútuo nas suas relações com a China”, disse ao Global Times Zhang Jian, vice-presidente do Instituto Chinês de Relações Internacionais Contemporâneas.

MAIORES PARCEIROS COMERCIAIS UM DO OUTRO

China e União Europeia são os maiores parceiros comerciais um do outro e no ano passado o comércio bilateral chegou a 847,3 bilhões de dólares, um crescimento de 2,4% em relação ao ano anterior, apesar de todo o impacto na economia europeia de sua política de rompimento com o fornecimento de gás barato russo e da guinada europeia para uma subordinação a Washington, que se expressaram ainda em conclamações ao “desacoplamento” e caracterizações da China por certos círculos como “adversário estratégico”.

Para o presidente Xi, desde o final do ano passado, a relação China-UE vem mostrando um bom momento de consolidação e crescimento, e os diálogos de alto nível China-UE nos campos estratégico, econômico e comercial, verde e digital produziram resultados expressivos, o que serve aos interesses de ambos os lados e atende às expectativas de seus povos.

Sobre o resultado da cúpula, a presidente da Comissão Europeia, von der Leyen, registrou, “um mergulho profundo em nossas relações econômicas e comerciais. Juntos, trabalharemos para reequilibrar nossas relações comerciais e resolver as divergências”.

Às vésperas da cúpula, em declarações à AFP, von der Leyen havia reclamado do “desequilíbrio”, dizendo haver um déficit no ano passado de quase 400 bilhões de dólares, o que equivaleria a que, “para cada três contêineres que chegam da China ao espaço europeu, dois deles voltam vazios”.

Embora houvesse outro lado dessa ‘moeda’, que é a extensa participação de grandes fabricantes alemães no mercado chinês, que é o maior do mundo.

De acordo com o governo chinês, nos 11 primeiros meses de 2023 esse déficit caiu para 200 bilhões de dólares, a metade.

OS VEÍCULOS ELÉTRICOS CHINESES

Na discussão com von der Leyen, de acordo com o euronews, o primeiro-ministro Li Qiang observou que a China se opõe “à politização das questões econômicas e comerciais”, e espera que o lado europeu seja “prudente na introdução de políticas econômicas e comerciais restritivas e no uso de remédios comerciais”.

Palavras que o portal europeu considerou aludirem “à recente oposição de Pequim à chamada investigação anti-subsídios da UE sobre veículos elétricos (EVs) da China”.

Visita preliminar do comissário de comércio da UE, Valdis Dombrovskis,  à China em setembro, havia preparado um terreno comum para a cúpula. Ele chegou pouco mais de uma semana depois de a Comissão Europeia ter dito que avaliaria a imposição de tarifas punitivas para proteger os produtores europeus da importação de veículos elétricos chineses mais baratos do que os fabricados na Europa.

Ali ele reiterou que a União Europeia não tinha a intenção de se dissociar da China, mas “precisava se proteger quando houver abuso de sua abertura econômica”. O que, segundo ele, justificaria a investigação europeia sobre os veículos elétricos chineses.

A UE acusa a China de subsidiar os fabricantes chineses de veículos elétricos, um tema muito importante na economia europeia, pelo peso que a indústria automobilística tem, e num momento de transição no setor, e em meio à virada da China para a alta tecnologia. E tendo como pano de fundo a entrada das marcas chinesas no segmento dos elétricos na Europa, “invertendo” a lógica, pelo menos do ponto de visto dos europeus.

“As medidas tomadas pela UE violam os princípios da economia de mercado e as regras do comércio internacional. Não contribuem para a estabilidade da cadeia de abastecimento global na indústria automóvel e não são do interesse de ninguém, incluindo a UE. A UE deve ouvir atentamente as vozes da indústria e proporcionar um ambiente de mercado justo, não discriminatório e previsível para as empresas estrangeiras”, reagira, então, Mao Ning, porta-voz da chancelaria chinesa, à “investigação anti-subsídio”.

INTERESSES COMUNS

Ainda segundo o euronews, von der Leyen disse depois da cúpula que a UE “não vai tolerar que a nossa base industrial seja prejudicada pela concorrência desleal”.

Ela se disse satisfeita com “termos acordado com o Presidente Xi que o comércio deve ser equilibrado entre nós”. Mas voltou a reclamar que empresas europeias não podem competir “em pé de igualdade” devido ao “tratamento preferencial concedido às empresas chinesas”.

Para Li Haidong, professor da Universidade de Relações Exteriores da China, “há diferenças entre a China e a Europa, mas os interesses comuns entre os dois superam em muito as diferenças”.

Não há razão para que a cooperação China-UE, com seu amplo escopo e base sólida, não aproveite o evento diplomático mais importante deste ano entre a China e a Europa para avançar ainda mais a cooperação e a coordenação estratégica, ele disse ao Global Time.

Há fortes complementaridades econômicas e estratégicas entre a China e a Europa, e ambas as partes expressaram vontade de cooperar, pelo que a próxima coordenação, mesmo que seja tortuosa, será um processo de avançar, acrescentou Li Haidong, apontando que “uma relação estável China-UE será um estabilizador no atual cenário internacional incerto”.

Fonte: Papiro