O 16º Congresso do PCdoB coloca, como tarefas centrais, o reposicionamento estratégico do Partido, a ampliação da sua influência política e o fortalecimento de sua base social e territorial. Trata-se de um momento crucial, marcado por uma conjuntura de crescentes pressões conservadoras, pela ofensiva das grandes plataformas digitais e pela fragmentação do campo progressista. Nesse cenário desafiador, a combinação entre tradição política e inovação tecnológica revela-se essencial para garantir a continuidade e a renovação da presença do Partido na vida nacional.

Entre as várias contribuições surgidas nas discussões congressuais, destaca-se uma preocupação recorrente: a superação de obstáculos históricos à renovação, à territorialização da ação partidária, à representatividade racial e de gênero e à profissionalização das campanhas e do trabalho de base. Essas questões não são novas, mas tornam-se ainda mais urgentes diante da velocidade das mudanças tecnológicas e sociais. É nesse contexto que a ciência de dados se consolida como uma aliada estratégica de primeira ordem.

Nos últimos anos, a ciência de dados passou a ocupar posição central no debate político e social. O volume de informações disponíveis cresce em ritmo exponencial, e apenas com métodos analíticos rigorosos é possível transformar esse oceano de dados em conhecimento útil. Governos, empresas e movimentos sociais já utilizam intensamente análises estatísticas, mineração de dados e inteligência artificial para orientar decisões.

No campo eleitoral, o impacto é ainda mais visível: compreender padrões de votação, prever tendências e otimizar recursos tornou-se parte indispensável de qualquer projeto político moderno. O desafio, para partidos progressistas como o PCdoB, é apropriar-se dessas ferramentas sem renunciar a sua identidade, transformando-as em instrumentos de fortalecimento democrático e popular.

Reconhecendo essa necessidade, o PCdoB desenvolveu e vem atualizando a base de dados a cada eleição, um sistema de inteligência de dados voltado para a análise, consolidação e visualização de dados eleitorais oficiais do TSE. Essa plataforma recebeu o nome Elza Eleições, em homenagem à camarada Elza Monerat, militante que, em períodos de maior adversidade, dedicou-se à construção e fortalecimento das políticas partidárias, organizando informações buscando a ampliação dos quadros do PCdoB.

O Elza não é apenas uma ferramenta técnica, mas também um símbolo de continuidade histórica: conecta o esforço de militantes do passado à necessidade atual de profissionalização e modernização da ação política. Ao mesmo tempo em que preserva a memória, projeta o partido para o futuro.

O Elza permite analisar diversos tipos de dados eleitorais para apoiar a estratégia do partido, por meio de relatórios, painéis em Power BI e exportação customizável. Exemplos específicos de dados que podem ser analisados:

  • Histórico de votos: totais nominais, de legenda, nulos, brancos e abstenções, por candidato, cargo, estado, município e zona eleitoral, ano, turno e tipo de voto.
  • Indicadores estratégicos: evolução dos votos por candidato, cargo, estado, município e zona eleitoral.
  • Planejamento orientado por dados: identificação de tendências, perfis e padrões de votação (crescimento, retração, concentração de votos) em séries históricas.
  • Análises comparativas: desempenho do partido frente a outros partidos e federações, com dados nominais e percentuais.
  • Perfil das candidaturas: análise por gênero, raça/cor, faixa etária, escolaridade, ocupação, estado civil, nacionalidade e cargo disputado.
  • Perfil do eleitorado: composição por gênero, raça/cor, faixa etária, escolaridade, identidade de gênero, condição de biometria.
  • Mapeamento territorial: identificação de redutos eleitorais, áreas de expansão, regiões estratégicas, localidades de maior ou menor desempenho.
  • Comparecimento e abstenção: análise detalhada de abstenções por região, público e engajamento de segmentos como eleitores com deficiência.
  • Otimização de recursos: dados para orientar alocação de tempo, orçamentos e equipes de campanha conforme o potencial de retorno eleitoral.
  • Simulações de cenários: projeção de resultados de acordo com diferentes hipóteses (por exemplo, onde investir para superar a cláusula de barreira).
  • Impacto de campanhas passadas: comparação da evolução dos votos em ciclos anteriores, identificando o efeito de estratégias adotadas.

Essas informações podem ser cruzadas, segmentadas por múltiplos filtros e exportadas para uso em diagnósticos, tomadas de decisão, negociação política e melhoria contínua das campanhas do partido, tornando a ação eleitoral muito mais fundamentada e eficiente.

O Elza auxilia na identificação de tendências eleitorais regionais ao permitir análises detalhadas de votação por diferentes recortes geográficos—região, estado, município, zona eleitoral e local de votação—ao longo de toda a série histórica de eleições desde 2002.

Trabalhando com dados oficiais do TSE, transforma grandes volumes de dados eleitorais em dashboards e relatórios dinâmicos que respondem a perguntas e confere à direção partidária e às equipes de campanha uma visão clara sobre as tendências eleitorais nas diversas escalas regionais, orientando decisões práticas para fortalecimento e expansão do partido em todo o Brasil.

É neste cenário que a plataforma Elza Eleições emerge como um vetor decisivo de transformação.

1.  Superar o “achismo”: planejamento estratégico orientado por dados

O Elza Eleições rompe com a tradição do “achismo” e das estratégias pautadas apenas pela intuição. Seus módulos oferecem às direções, candidatos e equipes de campanha um diagnóstico preciso de onde o partido cresce, onde recua, que perfis de candidaturas prosperam, quais territórios têm potencial inexplorado e onde os recursos são mais necessários para superar adversidades eleitorais ou fortalecer alianças.

2.  Renovação e inclusão: monitoramento e promoção de perfis diversos

Debates sobre baixa renovação, envelhecimento e subaproveitamento das mulheres e da juventude são recorrentes nas contribuições ao Congresso. O Elza permite mapear com exatidão o perfil de candidaturas lançadas e eleitas pelo Partido (gênero, raça/cor, idade, escolaridade etc.), identificando gargalos e oportunidades para políticas afirmativas, formação de novos quadros e campanhas voltadas para diversificação.

3.  Presença territorial e mobilização nas bases

O mapeamento dos redutos e vazios eleitorais, cruzado com dados socioeconômicos e de abstenção local, torna possível coordenar campanhas locais, fortalecer a atuação em zonas vulneráveis e redesenhar prioridades organizativas para além dos grandes centros. Isso também contribui para a estratégia de atuação integrada nas ruas e redes, apontada como crucial nos textos congressuais.

4.  Otimização de recursos e táticas eleitorais

Num contexto de recursos restritos e competição acirrada, o Elza oferece ferramentas para alocar com precisão tempo, fundos, materiais e equipes, priorizando regiões e segmentos decisivos para a consolidação dos objetivos eleitorais do PCdoB, como superar a cláusula de barreira e manter ou ampliar bancadas.

5.  Instrumento de democratização e formação

Ao fundamentar as decisões do partido em dados transparentes e compartilhados, a plataforma fortalece a democracia interna, forma quadros aptos ao uso de tecnologia e torna a direção partidária mais clara e racional em suas decisões, como defende o Projeto de Resolução.

6.  Sustentar alianças e negociação

O embasamento de negociações e alianças em evidências concretas sobre tendências, potencial de votos, êxitos e dificuldades regionais torna o partido mais respeitado e assertivo na construção de consensos, tanto no campo progressista quanto nas relações institucionais.

7.  Combate à abstenção e fortalecimento da participação popular

Ao identificar padrões de ausência eleitoral e características do eleitor que mais se abstém, o partido pode desenhar estratégias de contato direto ou remoto, mobilização segmentada e campanhas educativas para recuperar votos perdidos, como sugerido entre as prioridades do 16º Congresso.

Conclusão

O uso estratégico do Elza pode otimizar as campanhas do PCdoB para a vitória em 2026 em múltiplos aspectos:

  • Mapeamento de redutos e áreas de expansão.
  • Análise de tendências históricas e antecipação de desafios.
  • Comparação com concorrentes e embasamento de alianças.
  • Segmentação de campanhas para públicos prioritários.
  • Otimização de tempo, orçamento e equipes.
  • Diagnóstico aprofundado de candidaturas e eleitorado.
  • Simulações de cenários eleitorais.

Mais do que uma ferramenta técnica, o Elza Eleições se apresenta como uma alavanca de transformação política. Ele conecta a tradição partidária às exigências da era dos dados, capacitando militantes e direções para atuarem com mais inteligência, clareza e capacidade de renovação. Sua adoção generalizada pode converter-se em referência nacional de profissionalização de campanhas, consolidando o PCdoB como partido preparado para enfrentar os desafios contemporâneos e fortalecer sua presença no futuro da política brasileira.

*Cientista de Dados/Desenvolvedor de Software. Militante do PCdoB de São Paulo