A desvalorização do peso em 54% frente ao dólar e a explosão dos preços leva insegurança à Argentina | Foto: AFP

Descrito por vários meios de comunicação da Argentina como “ajustaço fiscal” ou “choque econômico”, as medidas de “austericídio” anunciadas terça-feira (12) pelo governo de Javier Milei no seu plano “Motosserra” reiteram o que o presidente havia dito ao tomar posse no domingo (10): “a situação vai piorar”. E muito.

Em menos de 20 minutos, o ministro da Economia, Luis Caputo assegurou que a situação atual é feia, ficará horrenda. Entre as medidas está uma imediata desvalorização de 54% do peso, a moeda nacional, em benefício do dólar, violentos cortes nos subsídios aos serviços e transportes e um mais do que apertado ajuste fiscal. Retirando o Estado da economia em benefício do “mercado”, adota o surrado estilo “apertem os cintos, o piloto sumiu”.

A reação foi imediata. O dirigente da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA Autônoma), Hugo Godoy, frisou que “acaba de se repetir o mecanismo de exagerar a situação de crise herdada para justificar medidas inadmissíveis que em questão de dias vão aumentar os níveis de pobreza por cima do 50% da população”.

O editorial do reconhecido jornalista Víctor Hugo Morales, no programa de rádio na AM750 deixou claro que simplesmente “não haverá mais obras públicas”. “Os subsídios para energia e transporte diminuem. Vão aumentar as tarifas da luz, gás e passagens. Eles não disseram quanto. No começo vai ser bem selvagem. Mas daqui a cinco meses, quando tiverem que fazer as contas de tudo que vão perder com essas medidas, certamente estarão piores”.

“Caputo anunciou um assassinato social sem vacilar como um psicopata prestes a massacrar suas vítimas indefesas”, afirmou o líder da Frente Pátria Grande, Juan Grabois, frisando que a desvalorização representará um aumento de pelo menos 80% nos próximos três meses.

Para o deputado Eduardo Toniolli, da Frente para a Vitória-Movimento Evita, “Milei declarou guerra econômica ao povo argentino sem distinguir entre classes médias, pobres, trabalhadores formais e informais”. “Não há ajuste, o que existe é uma brutal transferência de renda em favor daqueles que ganham mais quando a Argentina vai mal”, acrescentou.

Segundo Gerardo Martínez, dirigente da Central Geral dos Trabalhadores (CGT) e da poderosa Uocra (União dos Operários da Construção da Argentina), o impacto nas obras públicas “será um tsunami social total e algo semelhante nos aspectos financeiros e econômicos”.

SUBMISSÃO AO FMI

De acordo com Luis Caputo, que já ocupou a pasta e presidiu o Banco Central no governo neoliberal de Maurício Macri, responsável por atrelar as finanças do país com sangrias insanas aos cofres do Fundo Monetário Internacional (FMI), é disso que a Argentina necessita.

“Hoje o Estado mantém artificialmente preços muito baixos nas tarifas de energia e transporte através de subsídios. A política sempre fez isso porque assim engana as pessoas, fazendo-as acreditar que estão colocando dinheiro no bolso. Esses subsídios não são gratuitos, mas são pagos com a inflação”, declarou o porta-voz dos banqueiros. Algo tão mentiroso quanto dizer que a dolarização e a eliminação do Banco Central, apontados por Milei como “salvação”, garantirão “soberania” e trarão “progresso e desenvolvimento” para a nação.

Conforme foi relatado, tiveram de ser gravadas duas versões para o anúncio governamental ser aprovado pelo presidente. Milei achou que a primeira versão da farsa não estava o suficientemente convincente. Cumprindo as determinações do fascista, o ministro tentou esconder que as medidas são direcionadas fundamentalmente à satisfação do capital financeiro, que verá a economia argentina ser sangrada como nunca.

Caputo atuou como Chefe de Negociação para a América Latina no JP Morgan entre 1994 e 1998, e ocupou o mesmo cargo para a Europa Oriental e América Latina no Deutsche Bank entre 1998 e 2003, e desse ano até 2008 presidiu a sucursal argentina do Deutsche Bank. É preciso dizer mais? Este foi o marionete indicado para dar a largada no que muitos apontam como “a mais violenta e dolorosa transferência de recursos das últimas décadas dos trabalhadores até a terceira idade” para o bolso da banca internacional.

Entre as medidas anunciadas estão a não-renovação de contratos menores de um ano com o estado – paralisando obras e elevando o desemprego-; redução de transferência de recursos do governo federal para as províncias (estados) e fim dos subsídios para a energia e o transporte – turbinando as tarifas rumo às galáxias. Comprometido até a medula com as transnacionais, Caputo disse que “avançará com a eliminação de todas as tarifas de importação, que impedem o desenvolvimento da Argentina”., comprometendo-se a acelerar o processo de desindustrialização do país, cortando empregos e arrochando salários.

Fonte: Papiro