Casal Fátima e Ahmed al-Khaldi, ambos mortos por tropas de Israel. Na foto de arquivo, com os dois filhos Adam (e) e Faisal (d) | Foto de arquivo cedida

O Middle East Eye denunciou outra atrocidade cometida pelas tropas de ocupação de Israel em Gaza: o assassinato de uma família palestina, dentro da própria casa, no bairro de Skaik Ridwan, na cidade de Gaza, perpetrado no dia 21 de dezembro, e que só posteriormente se soube.

A família al-Khaldi correu para o porão da sua casa enquanto as forças israelenses bombardeavam as proximidades, pensando que aquele seria o local mais seguro, registrou o MEY. Um ataque aéreo israelense atingiu a casa ao lado por volta das 13h, matando alguns vizinhos e ferindo Fatima al-Khaldi, mãe de dois filhos. A casa abrigava cerca de 30 pessoas, incluindo algumas que foram deslocadas no início da guerra de outras partes da cidade.

Por volta das 20h, os soldados israelenses chegaram. Sem consideração pelas mulheres, crianças ou idosos que dormiam, [eles] atiraram duas granadas para dentro de casa”, disse Fahed al-Khaldi, cunhado de Fátima, que estava no sul de Gaza na ocasião.

“Eles então abriram fogo diretamente contra as pessoas e de maneira indiscriminada, sem diferenciar entre jovens e velhos”, acrescentou al-Khaldi, relatando o que lhe foi dito mais tarde por seu irmão Mohammad.

Cinco pessoas morreram imediatamente, incluindo Ahmed, outro irmão de Khaled e marido de Fátima. Um de seus filhos, Faisal, ficou ferido. “Quem ainda estiver vivo, saia da sala agora”, ordenaram os soldados, segundo Fahed.

Os sobreviventes, entre eles o irmão mais velho de Fahed, Mohammed, foram então colocados na fila no quintal da casa, antes de serem despidos. Depois de serem revistados, os soldados lhes deram ordem de fugir se quisessem sobreviver.

Eles partiram, temendo por suas vidas, e deixaram para trás os mortos e feridos. “Os soldados então voltaram para a sala e executaram todos os feridos”, disse Fahed.

Fátima, que estava grávida, foi deixada sangrando até a morte. Faisal, seu filho de quatro anos ferido no ataque, sobreviveu e mais tarde foi levado ao hospital al-Shifa.

Lá, o seu tio Mohammed ficou chocado ao saber que o menino precisava de seis operações cirúrgicas, que os médicos do hospital – destruído anteriormente pelas forças israelenses – não tinham recursos para realizar.

O intestino e a bexiga de Faisal foram rompidos e ele permanece em estado crítico em al-Shifa, segundo Fahed. “Publiquei muitos apelos nas redes sociais e através de jornalistas e tentei contatar o Comitê Internacional da Cruz Vermelha para transferir Faisal para outro hospital no sul, mas tudo foi em vão”, disse ele. “Tudo o que queremos agora é tratar Faisal com urgência.”

Dois dias depois, Mohammed regressou à área depois da retirada das forças israelenses. Ele contou os corpos de nove pessoas que estavam na casa, incluindo Ahmed, Fátima, seu tio idoso e cego, sua esposa e outros.

A história da família al-Khaldi foi confirmada pelo Observatório Euro-Med de Direitos Humanos, que denunciou outras execuções semelhantes no terreno levadas a cabo pelo invasor nos últimos dias.

Agora, à medida que as tropas israelenses se retiram de alguns locais, os residentes sobreviventes revelam detalhes dos crimes chocantes cometidos contra eles.

O escritório de mídia do governo palestino disse ter recebido testemunhos sobre pelo menos 137 palestinos executados pelas forças israelenses no norte da Faixa de Gaza. Em alguns casos, grupos de pessoas foram alinhados numa cova cavada pelas forças israelenses, antes de serem baleados e depois enterrados em valas comuns, disse o gabinete de comunicação social.

Outros casos incluíram o assassinato de mulheres grávidas a caminho do hospital e agitando bandeiras brancas, bem como de homens baleados e mortos na frente das suas famílias.

O Euro-Med disse ter documentado pelo menos nove casos diferentes em que grupos de civis foram baleados e mortos sem representar uma ameaça para as forças israelenses.

O Middle East Eye não conseguiu verificar estas afirmações de forma independente. No entanto, o exército israelense admitiu no início deste mês ter matado três prisioneiros israelenses em Gaza que estavam sem camisa, agitando uma bandeira branca e pedindo ajuda em hebraico.

Também o gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) disse ter “recebido informações perturbadoras” sobre um dos casos de alegadas execuções sumárias. As mortes foram confirmadas, disse a agência da ONU, mas a verificação das circunstâncias ainda está em andamento.

Acrescentou que a ocorrência de assassinatos “suscita o alarme sobre a possível prática de um crime de guerra” e surge “na sequência de alegações anteriores relativas ao ataque e assassinato deliberado de civis pelas mãos das forças israelenses”.

Fonte: Papiro