Tal Mitnik recebe apoio de jovens israelenses diante da base onde ficará preso por recusa a servir o exército | Foto: Linda Dayan/Haaretz

“Estou aqui, de pé, diante da base de Tel Hashomer [próxima a Tel Aviv] e anunciando minha recusa ao alistamento, minha recusa em tomar parte na guerra em Gaza. Massacre não resolve massacre”, declarou o jovem Tal Mitnik ao se despedir de apoiadores e de sua mãe que o acompanharam e realizaram um ato de despedida e repúdio ao genocídio em Gaza antes dele entrar para a base de onde seria enviado para a cadeia para cumprir uma sentença inicial de 30 dias, que pode se estender caso ele se mantenha na posição de se negar a servir às forças de ocupação israelenses.  

Ele abraçou os demais e sua mãe e ouviu de um dos presentes com lágrimas nos olhos: “Não é um tempo fácil. Meu amigo está indo para a prisão”.

“Estou um tanto estressado”, disse Mitnik na noite anterior, 26, ao jornal israelense Haaretz, “mas eu sei que conseguirei enfrentar e sei que estou fazendo o que é o certo”.

Mitnik está cumprindo com um compromisso assumido em setembro, quando estava no auge a revolta israelense contra a supressão do Judiciário por Netanyahu, uma carta foi assinada por centenas de jovens israelenses intitulada “Jovens contra a ditadura”, quando ele afirmara: “Nós adolescentes às vésperas do alistamento dizemos não à ditadura – tanto em Israel quanto nos territórios palestinos ocupados – e anunciamos que não serviremos até que a democracia seja garantida a todos que vivem sob regime israelense”.

À época, Mitnik, um dos organizadores da carta, deixou claro sua visão sobre o momento dramático de Israel sob o tacão nazifascista de Netanyahu e dos colonos Smotrich e Gvir: “Queremos mostrar que há muita gente que não servirá a esta ditadura que já se estende por dezenas na Cisjordânia palestina”.

Aí veio o ataque do Hamás em 7 de outubro e o número de apoiadores à recusa diminuiu, mas ainda persiste.

Mitnik manteve a decisão e acrescenta que “desde o início da guerra, minha decisão se fortaleceu. O ataque de 7 de outubro levou a dor a todos os lares de Israel, mas também demonstra que não é possível realizar uma ocupação e manter milhões sobre cerco a 12 quilômetros de sua casa [referindo-se ao cerco a Gaza] e não sentir as consequências disso”.

Mas a decisão de Mitnik, como ele mesmo admite, não teve um apoio amplo como ele gostaria. “Desde o dia 7 de outubro, houve um enorme crescimento do espírito macarthista contra palestinos israelenses e também contra judeus israelenses que se declararam em solidariedade com os civis em Gaza e contra a guerra. Pessoas foram demitidas de seus empregos, ou até pior, têm sido presas simplesmente por publicarem suas opiniões via internet. Este governo está basicamente usando esta guerra para levar adiante o golpe que já estava buscando perpetrar antes, para se fortalecer, para aprofundar a ocupação e proibir qualquer tipo de dissidência”.

Os manifestantes que acompanharam Mitnik trouxeram cartazes e tambores para a frente da base militar e conclamaram os jovens que chegavam para se alistar a seguirem o exemplo e também se recusarem a servir.

“Essa guerra não tem vitoriosos”, “Você também pode se recusar” e “Em Gaza e Sderot (cidade israelense próxima à Faixa de Gaza] as crianças querem viver”.

Os jovens manifestantes proclamavam: “Nem como secretária, nem como piloto, não vamos para o exército!” e “Soldado, atenção, recuse-se ao massacre!” e ainda: “Libertem os reféns, libertem os prisioneiros palestinos”.

Alguns jovens que tinham acabado de se alistar ameaçaram agredir os manifestantes, mas foram repelidos aos brados de “Fim à guerra”, entoados em hebraico e árabe.

Para Mitnik, inspirar outros a seguirem seu exemplo vale o sacrifício de parar em uma prisão militar. “Se uma pessoa seguir meu ato e decidir não se juntar ao exército por razões políticas e humanitárias eu ficarei mais otimista”.

Também este ano, antes do ataque do Hamás, Yuval Dag esteve preso por 64 dias por se recusar a servir e se pronunciou a favor de Mitnik: “Não é fácil, mas eu consegui enfrentar e você também o fará”.

Outros dois jovens israelenses, Sofia Orr e Iddo Elam, já declararam que devem seguir os passos de Mitnik e Dag e se recusarão publicamente a servir quando chegar o momento de seus alistamentos.

Sofia Orr, espera ser convocada em fevereiro e já declara que no seu entender “não há outra opção que não a recusa”. Ela destaca que tomará esta decisão apesar de “assustadora” diante das consequências e de saber que muitos se afastarão dela devido a seu gesto.

Fonte: Papiro