Pedro Sánchez e Alexander De Croo, premiê belga, visitam o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas | Foto: AFP

O chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, defendeu durante um ato em Rafah, no Egito, nesta quinta-feira (23) que “a comunidade internacional, especialmente a União Europeia [que preside atualmente], tomem decisões sobre o reconhecimento do Estado palestino”. Diante do morticínio praticado por Israel contra a população da Faixa de Gaza, ressaltou, seria chave “que muitos membros da UE o fizessem em conjunto, mas se isso não acontecer, a Espanha tomará naturalmente as suas próprias decisões”.

Sánchez, que em inúmeras ocasiões condenou o reiterado descumprimento pelo governo israelense das resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU), pediu que os reféns fossem libertados e dada a permissão de acesso de ajuda humanitária pela passagem de Rafah.

A ênfase do mandatário espanhol foi amparada na declaração do subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários de que “68% dos mortos em Gaza são mulheres e crianças”. “É o pior que já vi, não digo isso levianamente. É uma carnificina completa”.

Sendo assim, enfatizou Sánchez, “acredito firmemente que temos de apelar a Israel para que cumpra as suas obrigações para com o direito internacional”.

Durante reunião em Jerusalém com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, Sánchez reconheceu o papel do Egito nas negociações do conflito, na complexa operação de troca de reféns e na libertação de prisioneiros, e admitiu o direito de Israel defender-se, “mas dentro dos parâmetros e limitações impostos pelo Direito Internacional Humanitário, e este não está sendo o caso”. “A matança indiscriminada de inocentes civis, incluídos milhares de meninos e meninas é completamente inaceitável”, ressaltou o líder espanhol, frisando que “necessitamos substituir a violência por paz e esperança”.

Assim como Sánchez, o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, que o acompanhou na visita à região, usou o termo “inaceitável” para as atrocidades, defendeu que não há solução militar para o conflito e alertou Israel que a lei internacional precisa ser respeitada.

A contundência das denúncias e a conclamação à negociação por parte dos dois mandatários fez com que Netanyahu os condenasse “energicamente” e os acusasse de “apoiar o terrorismo” e de divulgar informações “falsas” contra o estado sionista. Na prática, repetiu contra Espanha e Bélgica o mesmo comportamento já adotado em relação à ONU.

A chamada “solução de dois Estados” implica a criação da Palestina com plenos direitos e independência dos territórios, criminalmente ocupados pelos sionistas em 1967: Cisjordânia, Gaza e Jerusalém.

Este Estado representaria apenas 22% do território do que era a Palestina histórica antes da proclamação de Israel em 1948. Em 1947, 70% da população era palestina e 30% judia. O plano de partilha proposto pelas ONU nesse mesmo ano concedeu 44,8% do território da Palestina aos palestinos e 54,7% a Israel, que a partir de então adotou uma política expansionista, de cerco e aniquilamento da população árabe nativa.

MURO DO APARTHEID

Entre as barbaridades erguidas pelo Estado Sionista está um gigantesco muro de mais de 600 quilômetros, que priva os palestinos de 10% do seu já diminuto território e impõe o isolamento entre suas vilas e cidades dentro da própria Cisjordânia. Há também os inúmeros checkpoints – postos de controles militares israelenses-, assentamentos ilegais e estradas de uso exclusivo israelense, que conjuntamente com o muro fragmentam e separam o território palestino, transformando-o num conjunto de ilhas desconectadas.

Além disso, Israel controla as fronteiras, o espaço aéreo e marítimo dos territórios palestinos – também em Gaza – bem como a gestão dos impostos aduaneiros. A criação de um Estado Palestino significaria o fim de todo este controle e colocaria um ponto final na política de apartheid.

Fonte: Papiro