O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, realizaram uma reunião na noite desta quarta-feira (27), marcando o primeiro encontro deste ano entre as duas autoridades. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, presente na reunião, destacou a importância da interação entre os líderes e esclareceu que Lula não fez pedidos específicos ao chefe do Banco Central.

Em uma coletiva de imprensa subsequente, Haddad enfatizou: “Presidente pediu alguma coisa? Não se pede nada. Cada um faz seu trabalho. Importante é a interação.” A reunião foi caracterizada como uma relação institucional de excelente nível e um passo em direção à aproximação entre a Presidência e o Banco Central, assim como ocorreu com Câmara e Senado.

Reconciliação 

Essa reunião marca o primeiro encontro entre Campos Neto e Lula desde que o presidente assumiu seu terceiro mandato à frente da presidência da República. A agenda foi solicitada pelo presidente do BC, que vem se mostrando disposto a dialogar com o governo ao longo do ano, especialmente em relação à política de juros.

Lula assumiu o governo com críticas anteriores à política monetária e ao Banco Central, especialmente em relação às taxas de juros elevadas. No entanto, após enormes recuos na postura anterior de Campos Neto, este encontro marcou uma nova fase de relações institucionais, visando construir um entendimento comum sobre questões econômicas.

Desta forma, este seria mais um recuo de Campos Neto, desde que Lula assumiu confrontando sua política monetária recessiva. Desde então, ele não apenas passou a reduzir gradualmente os juros básicos, como votou neste sentido contra outros membros do Copom. Aproximou-se de Gabriel Galipolo, indicado por Haddad para o Copom e tem dado declarações favoráveis à política fiscal do Governo. Algumas falas de Roberto Campos Neto chamaram a atenção como quando disse que é preciso fazer de tudo para aproximar o BC do governo.

É importante lembrar que Lula não teve a oportunidade de realizar mudanças na diretoria do BC, devido à autonomia do BC aprovada pelo Congresso durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Campos Neto é indicação de Bolsonaro, tendo mantido a política econômica alinhada com o ex-ministro Paulo Guedes. No entanto, o assunto das indicações para a diretoria do BC, em 2024, não foi abordado na reunião.

Concordância mútua

Fernando Haddad também ressaltou que as divergências não devem ser consideradas como antagonismo, pois são normais em um ambiente democrático. Durante a reunião, foram apresentados números e argumentos, com o intuito de promover um diálogo construtivo entre as partes. Haddad enfatizou que a aproximação do BC com o governo, por meio do Ministério da Fazenda já vinha ocorrendo naturalmente.

Roberto Campos Neto, em coletiva de imprensa realizada na manhã seguinte ao encontro, confirmou que o combinado com o presidente Lula foi não discutir os detalhes da reunião. Ele afirmou: “Espero que você [repórter] me perdoe, mas nós combinamos de não falar sobre.” O presidente do Banco Central também acrescentou que sua primeira reunião com Lula foi produtiva e que concorda integralmente com os comentários feitos por Haddad.

Durante o encontro, estiveram presentes apenas Lula, Roberto Campos Neto e Fernando Haddad. Campos Neto destacou que está empenhado em construir uma relação de confiança com o governo. Novas reuniões devem acontecer com expectativa de alinhar a política econômica com a política monetária.

O ministro disse que os participantes não conversaram de tópicos específicos, e apontou a agenda como um encontro institucional, de “construção de relação” e de pactuação em torno de “conversas periódicas”.

A reunião, que durou pouco mais de uma hora e ocorreu no Palácio do Planalto, marca o início de um processo que fortalecerá as relações institucionais entre o governo e o Banco Central. Observadores indicaram uma preocupação em preservar o sucesso deste primeiro encontro, dada a alta sensibilidade da relação entre Lula e Campos Neto, considerando críticas anteriores feitas pelo presidente e seus aliados ao chefe do BC.

O comportamento dos governistas, incluindo ministros e parlamentares, em relação a Roberto Campos Neto após a reunião, será um sinal importante dos efeitos do encontro no cenário político e econômico do Brasil.

Pouco antes da reunião

Campos Neto expressou sua opinião de que o governo federal deve persistir em seus esforços para eliminar o déficit das contas públicas em 2024, mesmo que essa meta não seja atingida. Essas declarações foram feitas durante uma audiência pública na Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados, ocorrida na mesma quarta-feira, horas antes da reunião planejada com Lula e Haddad.

As declarações são interpretadas como uma tentativa de aproximação e apaziguamento com o Governo Lula, após um clima de tensionamento inicial. “Eu acho que o que os agentes econômicos vão ver é qual foi o esforço que o governo teve na direção de cumprir a meta”. Ele também lembrou que o Ministério da Fazenda destacou a necessidade de “receitas adicionais bastante grandes” para alcançar o objetivo de déficit zero em suas contas em 2024, que demandaria um aumento de arrecadação de R$ 168 bilhões, de acordo com cálculos da área econômica. Haddad tem procurado demonstrar como fazer para aumentar a arrecadação.

Enquanto especialistas argumentam que cortes de gastos são necessários para equilibrar as contas, Campos Neto expressou compreensão pela dificuldade do governo em reduzir despesas: “Apesar de todo mundo entender a dificuldade de atingir a meta e de ser muito difícil cortar gastos, é importante persistir na meta. A nossa mensagem é de persistência, está bem alinhada com o que o ministro Haddad tem dito. A gente acha que esse é um caminho bem promissor.”

Roberto Campos Neto também demonstrou apoio à taxação de recursos mantidos por brasileiros em “offshores” no exterior. Ao ser questionado sobre empresas no exterior e fundos exclusivos, confirmou possuir empresas “offshore” e expressou sua aprovação por uma taxação mais rigorosa dessas entidades, até maior do que a proposta pelos parlamentares. 

Essas declarações são dadas em um momento crucial para a economia brasileira, pois o governo busca equilibrar suas contas públicas e melhorar sua credibilidade junto aos agentes econômicos.

(por Cezar Xavier)