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Um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) prova que o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, mentiu sobre não saber com antecedência que caminhoneiros bolsonaristas iriam realizar bloqueios violentos em estradas depois da vitória de Lula no segundo turno.

O relatório, obtido pelo site Metrópoles, alerta para o risco de bloqueios em estradas e foi enviado para a PRF e outros órgãos do governo federal no dia 27 de outubro de 2022. O segundo turno e os primeiros bloqueios em estradas aconteceram no dia 30.

Silvinei Vasques disse em depoimento à PF que nenhum órgão tinha conseguido “prever o bloqueio nas rodovias”. O documento produzido pela Abin mostra que isso é mentira e que a PRF, na verdade, se omitiu de impedir os bloqueios golpistas.

Independente de saber ou não com antecedência, a PRF dirigida por Silvinei atuou com extrema passividade diante dos bloqueios criminosos quando eles vieram.

Três dias antes das eleições, no entanto, a Abin informou sobre a existência de “chamamentos para que os caminhoneiros parem à beira de rodovias, visando uma eventual paralisação, em caso de derrota do atual Presidente da República”. O risco, naquele momento, foi considerado médio.

“Atos pontuais tendem a ocorrer, especialmente após a divulgação dos resultados, com possível participação de empresas de transporte e de caminhoneiros ligados ao agronegócio”, continuou o órgão de inteligência.

O relatório diz ainda que o movimento golpista, “ainda que de forma espontânea e descoordenada, tem potencial para impactar as rodovias, com consequências para a circulação de pessoas, bens e serviços”.

A Abin ainda alertou que o “sucesso inicial de pequenos bloqueios tem potencial para incentivar ações similares em outras regiões do país, devido à rapidez com que grupos de caminhoneiros se comunicam por meio de aplicativos de mensageria, ampliando os impactos e o potencial de crise”.

A Agência enviou o relatório para a PRF, o Ministério da Justiça, o Ministério da Defesa, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Polícia Federal. Ou seja, todo o governo Bolsonaro sabia da articulação que existia para os bloqueios.

Outros órgãos, como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, também receberam o documento.

Sabendo com antecedência, o então diretor-geral Silvinei Vasques decidiu que a PRF não iria agir para impedir os bloqueios. Depois que eles já tinham começado, a corporação ainda demorou para dispersá-los.

Os primeiros bloqueios foram realizados poucas horas depois da confirmação da derrota de Bolsonaro nas eleições.

No dia 31 de outubro, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou que a PRF deveria desobstruir as vias ocupadas pelos bolsonaristas. No dia seguinte, 227 bloqueios ainda existiam pelo país.

Silvinei Vasques está preso por ter usado a PRF para tentar interferir nas eleições presidenciais, realizando blitze ilegais em regiões onde Lula tinha mais força do que Bolsonaro. O plano foi articulado junto com o então ministro da Justiça, Anderson Torres.

Um mapeamento com os locais onde Lula obteve maior vantagem foi produzido no Ministério da Justiça. O mesmo documento foi encontrado no celular de agentes da PRF. Além disso, a Polícia Federal obteve conversas que também mostram a existência de um “policiamento direcionado” no dia do pleito.

Fonte: Página 8