Luta antirracista – Parte II
Sendo o ser humano possuidor de algo que talvez lhe seja único dentre os outros animais, a CONSCIÊNCIA, é preciso pensar em uma forma de unir a POPULAÇÃO PRETA E NÃO PRETA e conscientizá-las de sua cultura, da luta diária das pessoas pretas e do valor de ser preto.
O combate à discriminação deve ocupar todos os ambientes da sociedade e o legislativo tem grande influência nessa luta antirracista. O tal do racismo estrutural que todos nós temos que combater.
A Carta Magna de 1988 estabeleceu como fundamento da República Federativa do Brasil, a dignidade da pessoa humana e ter consagrado como objetivos fundamentais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a da erradicação da pobreza, marginalização e redução das desigualdades sociais, além da promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Contextualizando a História,1888. O Brasil foi o último país das Américas a abolir com a escravidão, apenas no ano de 1888.
Porém, o fim do uso da mão de obra escrava em nosso país não foi resultado do humanismo ou da benevolência da família real brasileira, conforme muitos acreditam, mas aconteceu porque um grande número de pessoas, mobilizou-se para forçar o Império a pôr fim ao trabalho escravo, incluídos nessa luta homens e mulheres, que rebelados tomavam o controle da propriedade na qual eram escravizados e matavam seus senhores. Em muitos locais, os escravos organizavam-se para se rebelar nos “dias santos”, isto é, dias de festas religiosas ou de missas. Tudo isso reforça uma visão trazida pelos historiadores de que os escravos foram agentes ativos na luta pela emancipação que não se calaram e levantaram a cabeça contra a escravidão.
De lá para cá, a luta é para que o indivíduo possa se identificar com as tradições e valores culturais que remetam às suas raízes afrodescendentes, além de tomar consciência da violência que os negros sofrem e sofreram historicamente tanto no Brasil como em outras partes do mundo, a partir do autorreconhecimento do indivíduo como negro.
Segundo dados do censo do IBGE (2010), a população negra compõe 55% do território brasileiro. E, mesmo assim, ainda ocupa os menores cargos do mercado, ganha salários inferiores aos brancos, possui uma menor probabilidade do acesso ao nível superior e a taxa de desemprego entre eles cresceu de 14,5% para 14,9% no ano de 2019. A taxa de analfabetismo é de 9,9%, enquanto dos brancos é de 4,2% (PNAD 2016). Em 2016, 1.835 crianças de 5 a 7 anos trabalhavam; 63,8% delas eram pretas ou pardas (PNAD).
Um debate de luta e reflexão, com princípios de uma reparação histórica ainda sem sucesso ou efetivação, num Brasil onde 70% das vítimas de assassinatos no país são pretas, além de serem 64% da população carcerária.
O Brasil tem os piores índices de escolaridade, renda, emprego e moradia. 75 por cento de nossa população em extrema pobreza é negra. É um índice acima da composição desta população na sociedade brasileira que é de 56 por cento. Além de estar em maiores condições de vulnerabilidade socioeconômica, população negra é a que mais sofre vítima de violência. Segundo o Mapa da violência 2021 (IPEA), 77% das vítimas de homicídio no Brasil são negras. Um negro tem 2,6 vezes mais chances de ser assassinado do que um não negro. Na violência contra a mulher, 67 por cento das mulheres mortas eram negras.
A escrita desses dados e informações da História, NÃO SÃO APENAS AS MINHAS REFLEXÕES. E se elas não justificam o porquê de se ter consciência acerca de que a vida, a cultura, a dignidade das pessoas negras importam, então elas são apenas letras e números.
Como um breve recorte das inúmeras contribuições na arte e cultura fundamentais para ajudar no combate ao racismo e a igualdade social. Há décadas em nosso país, a fome, as múltiplas violências são narrativas para poesia, para a música pelas vozes de nossas mulheres e mães pretas.
Faço destaque para três vibrantes atuações.
Histórias como as que Carolina Maria de Jesus registradas em formas de diário, acerca de sua dura rotina, ganharam destaque como uma literatura de testemunho, em que a autora expõe a realidade em que vive e reflete sobre ela. Nessa perspectiva, seu principal livro “Quarto de despejo” (1960), expõe o que pensa e vive uma mulher negra e favelada, catadora de ferro e papel, mãe solo de três crianças, que garimpa no lixo restos de alimentos e aparas de carne e ossos bovinos entre os descartes de um frigorífico na tentativa vã de amenizar a fome de seus filhos.
Outra grande e celebrada artista “sobrevivida” (sim, pois muitas de nós não somos “nascidas”, e já nascemos desafiando a sobrevida) do “Planeta Fome”, Elza Gomes da Conceição, ou deslumbrantemente Elza Soares, como a conhecemos. A canção fala sobre a força para resistir à vida dura e aos problemas constantes, força que marcou a vida dura de Elza, desde a fome aos casamentos conturbados, a solidão e a perda dos filhos.
E como não falar sobre as “escrevivências” de Conceição Evaristo? Uma infância e a adolescência marcadas pela miséria, logo começou a trabalhar como babá e faxineira enquanto cursava os estudos secundários, em busca de sua formação com Professora. Militante ativa do movimento negro, Conceição registra sua participação em eventos relacionados a militância política social e repercute em sua pauta a figura feminina como protagonista da resistência à pobreza e à discriminação.
(Re)Conhecer personalidades negras que foram importantes nas mais diversas áreas, apesar das adversidades, não é “reparação histórica”. É a tecitura de História que é repleta de diversidade, de legitimidade, de deias genuínas e pluralidade de “gentes” essenciais para construção das características e da personalidade da sociedade brasileira.
Harriet Tubman! Maria Firmina dos Reis! Dandara de Palmares! Tia Ciata! Angela Davis! Sueli Carneiro! Shonda Rhimes! Kwame Nkrumah! Malcolm X! Jesse Owens! Bob Marley! Michael Jackson! Muhammad Ali! Nelson Mandela! Luiz Gama! Zumbi de Palmares! Machado de Assis! Grande Otelo! Pixinguinha! Abdias Nascimento! Milton Santos! Tereza de Benguela!
*É Secretária Municipal da Mulher do Comitê Municipal do PCdoB de Parnamirim/RN. Professora – SEEC/RN e Mestranda em Antropologia Social – Linha de Pesquisa Gênero, Corpo e Sexualidade – PPGAS/UFRN