A rainha Elizabeth II (foto Samir Hussein/WireImages)

A rainha britânica Elizabeth II morreu nesta quinta-feira (8) aos 96 anos, em sua residência de verão no castelo de Balmoral, depois do mais longo reinado na história do país, de 70 anos. A BBC tocou o hino nacional, “God Save the Queen”, sobre um retrato de Elizabeth, assim que sua morte foi anunciada, e a bandeira sobre o Palácio de Buckingham foi baixada a meio mastro. Do mundo inteiro, chegaram a Londres mensagens de condolências e homenagem.

Seu filho de 73 anos, o príncipe Charles – que nem de perto tem o carisma da rainha Elizabeth II -, tornou-se automaticamente monarca e será conhecido como rei Charles III, segundo seu gabinete. Em junho, a Grã-Bretanha havia celebrado seu Jubileu de Platina com dias de festas e concursos. Seu marido, o príncipe Philip, com quem foi casada por mais de 73 anos, morrera no ano passado, aos 99 anos. Ela deixa quatro filhos, oito netos e 12 bisnetos.

Ao longo desse reinado, Elizabeth II foi testemunha ocular do desmanche do império colonial inglês – no qual o sol jamais se punha desde os tempos da rainha Vitória -, sob os ventos libertários trazidos pela vitória sobre o nazifascismo, que se desdobraram na derrocada do colonialismo e independência das colônias.

Como observou a Associated Press, “um elo com a geração quase desaparecida que lutou na Segunda Guerra Mundial, ela foi a única monarca que a maioria dos britânicos já conheceu”. Na terça-feira, ela havia realizado o último ato político de seu reinado: aprovar a nomeação de Liz Truss para primeira-ministra britânica e o fim da interinidade de Boris Johnson.

Possivelmente, ela era o símbolo mais conhecido no mundo da sobrevivência de restolhos feudais em pleno século 21, séculos após tal sistema já ter ido para a lata de lixo da história, com seus privilégios e parasitismo, castelos herdados e jóias, ‘superioridade’ por origem divina, sangue azul e tolices do gênero.

Nos últimos anos, a rotina das atividades reais – como cortar fitas de inauguração, comparecer a festas e solenidades – já vinha sendo cumprida pelo príncipe Charles. Seu irmão, o príncipe Andrew, caíra no ostracismo, para imenso desgosto de Elizabeth II, após a exposição de seu envolvimento no círculo de pedofilia comandado por Jeffrey Epstein, o bilionário dono do ‘Air Lolita’.

Em favor de Elizabeth II, há também a conhecida história de que tinha um relacionamento frio com a Dama de Ferro, Margareth Thatcher, aliás, de quem a nova primeira-ministra Truss almeja ser um arremedo.

Ela sequer nascera para ser rainha, o rei então era seu tio, Edward VIII, que abdicou – segundo os mais otimistas, por um caso de amor, e, para outros, por nutrir certas preferências pelo nazismo, como era comum na época nas altas rodas dos dois lados do Atlântico.

Seu pai tornou-se então rei britânico sob o nome de George VI. Em 1952, quando Elizabeth tinha 25 anos, ele faleceu e ela precisou assumir o posto.

Talvez seu momento mais difícil na vida política, o que já foi estampado em livros e filmes premiados, foi quando a conturbada morte da ex-esposa do príncipe Charles, a princesa Diana, que era uma plebeia, em 1997, em um acidente bastante suspeito, e o mutismo que se seguiu de sua parte, ameaçou estremecer os laços entre a população inglesa e a monarquia, em meio a um luto

público sem precedentes. Apenas depois de vários dias, ela finalmente fez um discurso televisionado para a nação e a crise foi superada.

Além das recepções e formalidades, a rainha também era conhecida pelo trato com os cavalos e cães de raça e seus castelos.

Elizabeth II se vai, antes que o Brexit diga a que veio, e com a “Global Britain” no lugar da falida Great Britain, proposta por gente como Boris Johnson, e a reboque de Washington, de improvável sucesso.

Nominalmente, Elizabeth II ainda é a rainha de países como o Canadá e a Austrália, embora neles cada vez mais se ouçam proclamações pela, enfim, decretação da república. Medida já tomada por algumas ex-colônias menores no Caribe.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, a homenageou: “Ela personificava a dignidade e a decência na vida pública.” Dias antes da morte da rainha, a Grã Bretanha perdera a posição de quinta maior economia do mundo, sob o critério do PIB nominal, para sua ex-colônia, a Índia, antiga “joia da coroa britânica”.

Além das homenagens, nas redes sociais também começam a surgir comentários sobre o estilo de vida dos aristocratas. Um, impagável, mostra a face triste do príncipe Charles, e a legenda: “Imagine começar a trabalhar aos 73 anos”.

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