Putin concedeu entrevista coletiva em Samarcanda (Tass/Yevgeny Paulin)

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, condenou a política dos Estados Unidos e da Organização dos Tratados do Atlântico Norte (OTAN) que, em crise, querem transformar a Ucrânia em “enclave anti-russo” e a principal ferramenta para desintegrar o país, como está sendo demonstrado com o apoio militar ocidental ao regime de Kiev.

“São antigas potências coloniais, mas ainda vivem no paradigma da filosofia colonial. Eles estão acostumados a viver à custa dos outros”, afirmou Putin, em entrevista na última sexta-feira (16), após a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) em Samarcanda, Uzbequistão. O fato, acrescentou, é que “eles ainda não podem se livrar desse paradigma na prática de sua política diária”.

Destruir a Rússia e “desintegrá-la” em vários pequenos Estados, fragilizados e manuseáveis, ressaltou o presidente, sempre foi uma prioridade para o Ocidente, e a Ucrânia, em sua potencialidade, e seu governo, por sua debilidade, foi escolhida para cumprir este triste papel.

“O fato de que eles sempre lutaram pela desintegração do nosso país é certo. É lamentável que em algum momento eles tenham decidido usar a Ucrânia para atingir esses objetivos. Para evitar tais desenvolvimentos, lançamos a operação militar especial”, explicou Putin, em sua primeira entrevista coletiva desde julho.

O presidente russo destacou que “a operação militar especial não é um aviso de algum tipo, mas uma operação militar especial”, que visa preservar a soberania nacional e a integridade do povo russo. “Estamos testemunhando tentativas de encenar ataques terroristas, tentativas de danificar nossa infraestrutura civil. Respondemos a isso com moderação, mas apenas por enquanto”, disse Putin, advertindo que o tipo de intervenção pode mudar. “Recentemente, as forças armadas russas fizeram alguns ataques sensíveis, digamos que foram um aviso. Se a situação continuar a se desenvolver dessa maneira, a resposta será mais séria”, frisou.

Questionado sobre eventuais mudanças na operação militar especial, o líder russo reiterou que “não há ajustes no plano”, com o Estado-Maior tomando decisões operacionais no decorrer da campanha sobre o que é considerado um objetivo estratégico. “O objetivo principal é a libertação de todo o território de Donbass. Este trabalho continua, apesar das tentativas de contra-ataques do exército ucraniano”, enfatizou Putin, ponderando que é muito cedo para tirar conclusões da contraofensiva em curso pelas forças de Kiev.

De acordo com o dirigente, a Rússia estava pronta para concordar com as garantias de segurança à Ucrânia propostas durante as negociações de Istambul em março, mas que a saída diplomática foi arruinada por Zelensky. “As tropas foram retiradas de Kiev para criar condições para a concretização deste acordo. Em vez de assiná-lo, as autoridades de Kiev abandonaram imediatamente todos os acordos. Eles anunciaram que não buscariam nenhum acordo com a Rússia, mas buscariam a vitória no campo de batalha. Bem, deixe-os”, sentenciou.

Quanto às perspectivas de futuras negociações com o regime ucraniano, Putin declarou permanecerem incertas. “Primeiro de tudo, eles devem concordar [em realizar as negociações]. Mas eles se recusam. Zelensky declarou que… ele não estava pronto e não estava disposto a conversar com a Rússia. Bem, se ele não estiver pronto – não há necessidade [para isso]”, sublinhou.

Em relação à grave crise de energia na Europa, que os governos da região têm atribuído à Rússia e às consequências do conflito na Ucrânia, Putin esclareceu que os problemas iniciaram bem antes dos eventos em andamento, mas que agora maus administradores tentam resolvê-los “às custas de outros”.

CRISE ENERGÉTICA

“A crise energética na Europa não começou com o início da operação militar especial da Rússia na Ucrânia, em Donbass, não com isso, muito antes, um ano atrás, se não antes”, descreveu Putin, apontando que seu início, “embora possa parecer estranho, tenha sido com a agenda ‘verde’”. Segundo o líder, embora a introdução da energia verde seja importante para combater as mudanças climáticas, vários países europeus optaram por abandonar a energia de combustível fóssil de uma única vez – sem planejamento – para alcançar metas de curto prazo, que se demonstraram inatingíveis.

Finalmente, o presidente russo ridicularizou a ideia lançada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, de enviar as crescentes contas de energia para Moscou, apontando como mais uma tentativa irresponsável de trocar o problema “da dor de cabeça de uma cabeça doente para uma saudável”.

Anteriormente à entrevista, Putin havia se reunido com os líderes da China, Índia, Paquistão, Irã, Turquia, Uzbequistão, Azerbaijão, Quirguistão, Turcomenistão e Mongólia, ampliando laços de parceria e solidariedade.

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