“Zero governo”, por Perpétua Almeida
A pandemia do coronavírus traz os mais variados riscos à vida de milhares de brasileiros diante da irresponsabilidade do governo Bolsonaro em gerir a crise. Faltam atitudes proativas para preparar preventivamente o sistema de saúde e também para minimizar os graves prejuízos da recessão, que vem minguando economias pelo mundo.
Perpétua Almeida*
Qual a ação adotada pelo Executivo para liderar o país neste cenário tão sombrio? Não há um plano! O capitão do Titanic age de forma irresponsável! Chegou a dizer que a situação era “fantasia”. No dia seguinte, precisou se submeter a exame que, segundo a Fox News, foi confirmado positivo. Depois, apareceu em uma live usando máscara. A epidemia, de fato, chegou ao Palácio do Planalto, contaminando integrantes próximos a Bolsonaro e, comenta-se, pode ter infectado personalidades na Casa Branca.
Em seu pronunciamento à nação na TV quinta-feira, Bolsonaro não falou em iniciativas concretas. Aproveitou para pedir a suspensão das manifestações deste domingo num raro gesto de prudência, após ter jurado que não havia convocado essas mobilizações. A cautela não se manteve por muito tempo. Hoje ele divulgou vídeos das manifestações pelo Brasil, num claro gesto de incentivar os protestos. Não foram atos pró-governo. Os atos foram pelo fechamento do Congresso, do STF, pela intervenção militar, conforme demonstraram majoritariamente os cartazes e faixas. Em Brasília, chegou a tirar fotos com manifestantes na saída do Planalto, quebrando recomendações de isolamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), ultrapassando todos os limites.
Para a Democracia e os pilares que sustentam a República, este pode ter sido o pior dia até aqui, desde que Bolsonaro chegou à Presidência da República. É chocante que o presidente e vários parlamentares não estejam respeitando os decretos para suspensão de eventos e aglomerações de pessoas. Bolsonaro desmoraliza o seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, uma das raras vozes de sanidade, neste momento de pandemia. Eu, no lugar do ministro da Saúde, pediria demissão.
Essa pandemia, de tão grave que é para o sistema financeiro e de saúde, ameaça seriamente a soberania do país, e o presidente Bolsonaro não se dá conta disso. Afinal, nem temos as condições financeiras e muito menos de saneamento como China e Europa, que já contabilizaram a maior parte das 5 mil mortes. Milhões de pessoas limitaram seus deslocamentos na mais grave emergência de saúde deste século, disseram estadistas europeus e asiáticos.
Em outra frente, a falta de reação do ministro da Economia, Paulo Guedes, desnudou o que já sabíamos: ele não está à altura do cargo, não entende de economia e está totalmente perdido, na defesa do rebatismo e da cartilha do desmonte do Estado. Ao Congresso, apresentou propostas vagas que agravam os problemas e não resolvem as enormes turbulências dos próximos meses. Reformas, como a administrativa, não são solução.
É fato que o setor de serviços, que concentra mais de 60% do PIB brasileiro, será fortemente atingido. Quando os eventos são cancelados, não há viagem de avião nem corrida de táxi e jantar no restaurante. Diferentes segmentos deixam de faturar. Isso sem falar nos estragos já gerados pela crise internacional do petróleo. O real é a segunda moeda que mais perde valor no ano, mais de 20%.
Outros países se mexem para proteger a saúde e a renda do seu povo. A Alemanha anunciou que vai oferecer ajuda ilimitada para as empresas, mesmo que precise assumir dívidas adicionais. A Itália adiou o recebimento de tributos em setores mais afetados pela pandemia, como montadoras e laboratórios, e ainda reforçou o orçamento do programa de seguro-desemprego. Coreia do Sul e China também lançaram programas para ajudar pequenos negócios, como suspensão temporária de tributos e compensação de perda de receita.
É urgente a retomada do investimento público brasileiro em infraestrutura de saúde, fortalecendo o SUS, mas também incentivar empresas que movimentem setores estratégicos da economia nacional.
Nós da Oposição estamos comprometidos em votar projetos, destinar recursos e oferecer saídas. Já lançamos documento com 12 propostas para a retomada do crescimento, geração de empregos e de promoção da inclusão social. Veja a íntegra
A principal sugestão é a revisão imediata da regra do teto de gastos, implementada pela emenda constitucional 95, que congelou o investimento por mais de 20 anos no país. A sociedade precisa se mobilizar e cobrar investimentos. Temos de unir esforços e juntos vencer todas as ameaças que contaminam o futuro do Brasil e dos brasileiros.