“Zelensky diz uma coisa e faz o contrário”, diz Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin

“O governo ucraniano tem o hábito de tomar posições que se contradizem”, denuncia, nesta sexta-feira (27), o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov. “No momento, as negociações estão congeladas por decisão do lado ucraniano. Esta é a primeira coisa que está absolutamente em contraste com as declarações de Zelensky. Em segundo lugar, a liderança ucraniana faz constantemente declarações contraditórias. Isso torna impossível compreender totalmente o que eles querem e se estão prontos para mostrar uma atitude realista e enfrentar a situação real”, acrescentou.

Não é a primeira vez que Zelensky disse querer negociar direto com Putin. Já o fez em várias ocasiões, antes e depois de começar a operação militar da Rússia, sem se dispor a, de fato, concretizar qualquer encontro.

Uma das recentes perorações dessa natureza veio esta semana em uma videochamada durante um café da manhã de trabalho do Fórum Econômico Mundial em Davos. Lá, mentiu ainda ao fingir admitir que as negociações com a Rússia seriam necessárias para acabar com o conflito, mas que a Rússia é que não estaria disposta a dialogar.

A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, sublinhou que foram os próprios dirigentes ucranianos que detiveram e impediram o prosseguimento das negociações com a Rússia e não responderam às propostas de Moscou sobre o projeto de tratado, denunciando as falsas afirmações do governo ucraniano.

Mariupol

Zelensky e outras autoridades têm afirmado repetidamente que suas forças estavam vencendo a luta contra a Rússia e que a única questão era quanto tempo levaria para Kiev prevalecer e a que custo. O presidente ucraniano disse anteriormente que as conversas com a Rússia só serão possíveis depois que a Ucrânia retomar o controle sobre todos os territórios perdidos durante a campanha russa de três meses. Kiev também quer que a Crimeia seja devolvida.

Como mentira tem perna curta, o que se vê no terreno é que o lado ucraniano sofreu várias derrotas militares este mês, e o gabinete do presidente tem lutado para conter a publicidade negativa desse resultado. Por exemplo, a rendição de milhares de soldados ucranianos em Mariupol, que foi descrita por Kiev como uma “evacuação” que os agentes de inteligência ucranianos teriam “ajudado a organizar”.

Já nesta semana, as tropas russas assumiram o controle de Liman, uma cidade estrategicamente importante no Donbass. Até os conselheiros de Zelensky reconheceram que a situação no terreno estava indo mal para a Ucrânia.

As divisões na União Europeia na esteira da crise ucraniana estão cada mais vez maiores. Bloco está longe de apresentar consenso em questões como sanções comerciais à Rússia.

Como aponta a agência Reuters, alguns países estão determinados a adotar uma linha dura contra Moscou mesmo antes da cúpula do bloco que será realizada na próxima semana. Já a Itália e a Hungria encabeçam países que pedem alterações na declaração conjunta que será feita durante o encontro.

Um esboço do documento para a cúpula de 30 e 31 de maio, visto pela Reuters e datado de 19 de maio, descreve a UE como “inabalável em seu compromisso de ajudar a Ucrânia a exercer seu direito inerente de autodefesa contra a agressão russa”.

O texto não menciona negociações de paz. O embaixador da Itália propôs mudanças, dizendo que o documento deveria se referir a negociações de paz.

Recentemente, a Itália propôs à ONU que o organismo internacional intermediasse negociações a começar por um cessar-fogo imediato.

Essa proposta foi apoiada pela Hungria e Chipre. A Hungria se opõe a um embargo ao petróleo planejado, enquanto o Chipre se preocupa também por medidas que interferem em negócios entre os países, relata a agência Sputnik Brasil.

A Itália propôs na semana passada um plano de paz que envolveria as Nações Unidas, a UE e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) como facilitadores para organizar um cessar-fogo.

Apesar da proposta italiana ser menos hostil do que a continuidade da guerra como quer Washington, para a porta-voz do Ministério do Exterior da Rússia, Maria Zakharova, a proposta está de cabeça para baixo, para ela primeiro as negociações deveriam ser retomadas e o avanço dos entendimentos é que poderiam desembocar em uma cessar-fogo,

Ela classificou a proposta italiana para a União Europeia de “fantasiosa”: “Não se pode ao mesmo tempo suprir a Ucrânia de armamentos com uma mão e vir com planos de resolução pacífica da situação com a outra”.