Em uma videoconferência com líderes da União Europeia na sexta-feira (1), o presidente chinês Xi Jinping exortou o bloco de 27 países europeus a adotar uma política externa de moto próprio e, conjuntamente com Pequim, a jogar um papel positivo por negociações e cessar-fogo na Ucrânia e por um quadro de segurança coletiva no continente que seja eficaz e sustentável.

“A China e a UE devem desempenhar um papel construtivo ao adicionar fatores estabilizadores a um mundo turbulento”, convocou Xi. “Está provado que ambos compartilham amplos interesses comuns e uma base sólida para a cooperação”.

Evocando sua primeira visita à sede da UE em Bruxelas, Bélgica, oito anos atrás, quando sugeriu que Pequim e a Europa “construíssem uma ponte de amizade e cooperação em todo o continente eurasiano”, o presidente chinês enfatizou que essa visão se tornou ainda mais relevante em meio às crises atuais, incluindo a situação na Ucrânia e a contínua pandemia da Covid-19.

Foi a 23ª cúpula de líderes China-UE, com a participação do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do chefe da diplomacia europeia, Joseph Borrell.

Também, pelo lado chinês, do primeiro-ministro Li Keqiang, concretizando o que o jornal Global Times caracterizou como uma discussão franca e profunda, que abrangeu desde os laços econômicos entre as duas partes até às diferenças de percepção sobre a crise na Ucrânia.

Em paralelo, através do porta-voz da chancelaria chinesa, Pequim responsabilizou a Otan – e sua expansão até às fronteiras da Rússia – pela crise na Ucrânia, enquanto que encontro entre os chanceleres russo, Sergei Lavrov, e chinês, Wang Yi, reafirmou a concepção comum de que o planeta marcha para um mundo multipolar, mais democrático e mais justo.

EUA: divisões e confrontos

Como registrou o jornal porta-voz oficioso de Pequim para as questões mais polêmicas, o Global Times, “é muito importante e valioso que a China e a UE possam dialogar na atual situação internacional. Após a eclosão da crise na Ucrânia, o fantasma da Guerra Fria que assombra a Europa parece estar ressuscitado”. Enquanto isso – acrescenta -, “a campanha de pressão máxima dos EUA está criando mais divisões e confrontos”.

“Como duas potências que mantêm a paz mundial, dois mercados que promovem o desenvolvimento comum e duas civilizações que impulsionam o progresso humano, a China e a UE podem trazer mais esperança e garantir a paz e a estabilidade mundiais com suas conversas e cooperação”, sublinhou.

Do lado da paz

Em sua explanação, o presidente Xi reiterou a Michel e von der Leyen que a China considera profundamente lamentável que a situação na Ucrânia tenha chegado onde está hoje e que Pequim está sempre do lado da paz e tira suas conclusões de forma independente com base nos méritos de cada assunto.

Xi disse ainda que a China apoia os esforços da UE para uma solução política da questão da Ucrânia e vem incentivando as negociações de paz à sua maneira. A China permanecerá em contato com a UE para evitar uma crise humanitária maior.

Afirmação que por si só contrasta fortemente com a notória mensagem desde Washington e Londres de que o objetivo é lutar (contra a Rússia) “até o último ucraniano”.

Xi observou que a causa raiz da crise na Ucrânia são as tensões de segurança regional na Europa que se acumularam ao longo dos anos – leia-se, a expansão da Otan. Uma solução fundamental é acomodar as preocupações legítimas de segurança de todas as partes relevantes, que leve a um quadro de segurança equilibrado, eficaz e sustentável na Europa.

Xi também assinalou que a China e a UE precisam se comprometer a manter a situação sob controle, evitar o transbordamento da crise e, mais importante, manter o sistema, as regras e a base da economia mundial estáveis, para reforçar a confiança do público.

Busca dos consensos

O Global Times observou que a China e a UE “compartilham um amplo consenso sobre a defesa do multilateralismo, o fortalecimento da governança global, o combate às mudanças climáticas e o combate conjunto à pandemia”.

“Mesmo na questão da Ucrânia, a China e a UE têm muitas áreas de consenso: os dois lados não estão dispostos a ver caos e guerra; ambos esperam realizar um cessar-fogo e parar a guerra o mais rápido possível; em termos de assistência humanitária, não há diferenças entre os dois”.

Ainda: “deve-se notar que, à medida que a questão da Ucrânia se arrasta, pode levar a graves crises econômicas, de refugiados, energéticas, alimentares e financeiras globais. É a Europa que vai suportar o peso. A China não está diretamente envolvida na crise da Ucrânia, mas espera sinceramente que a Europa possa alcançar a paz permanente”.

“Enquanto isso, a China acredita que sanções extremas só levarão a danos mútuos, complicarão a situação e intensificarão os conflitos. A Europa também sabe disso”.

Cooperação bilateral

A publicação registrou que, mais importante, “não há conflitos geopolíticos fundamentais” entre China e UE , “nem conflitos de interesses irreconciliáveis”.

“Pelo contrário, há uma força motriz para a cooperação bilateral. O comércio da China com a UE em 2021 totalizou US$ 828,1 bilhões, um aumento de 27,5% em relação ao ano anterior. A China é o maior parceiro comercial da UE há dois anos consecutivos. Nos primeiros dois meses deste ano, a UE ultrapassou a ASEAN para se tornar o maior parceiro comercial da China”.

O GT apontou também que, entre os casos de sucesso da cooperação Pequim-Bruxelas dos últimos anos, estão a salvaguarda do multilateralismo, o trabalho conjunto diante da pandemia de COVID-19, o apoio à cúpula do clima COP26 de Glasgow e a busca de solução para a questão nuclear do Irã. “Do ponto de vista amplo do processo de desenvolvimento humano, a China e a UE não devem ser rivais sistemáticos, mas parceiros estratégicos abrangentes”, enfatiza.

Enquanto a China demonstrou toda essa abertura, líderes europeus após a cúpula ainda insistiam nas “advertências” a Pequim sobre “não ajudar a Rússia a contornar as sanções”.

Falando a repórteres, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, declarou que ele e von der Leyen instaram Pequim “a ajudar a acabar com a guerra na Ucrânia” e a ver a “violação da lei internacional da Rússia”. Ele acrescentou que “qualquer tentativa de contornar as sanções ou fornecer ajuda à Rússia prolongaria a guerra”.

Para a publicação, a principal razão para a complexidade atual nas relações China-UE “é a manipulação política de Washington – Washington não está disposto a ver a reconciliação entre a Europa e a Rússia por meio de negociações, nem a cooperação ganha-ganha entre a China e a Europa, porque realiza seus interesses estratégicos sacrificando a UE”.

A este respeito – destacou -, a Europa “necessita urgentemente de clarificar os seus interesses, formar uma cognição independente, aderir a uma política independente”.

A história muitas vezes oferece sabedoria e esclarecimento, registrou o GT. “Desde o início, o desenvolvimento das relações China-Europa foi marcado pela ruptura com o confronto como testemunhado entre os diferentes campos durante a Guerra Fria”.

“Da França, Itália e outros países que assumiram a liderança para romper as barreiras da Guerra Fria e estabelecer relações diplomáticas com a China, ao estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e a Comunidade Europeia (precursora da UE) em 1975, todas essas são decisões políticas com grande visão estratégica tomadas por líderes chineses e europeus sob o pano de fundo da Guerra Fria e do confronto entre os EUA e a União Soviética”.

Embora a crise na Ucrânia tenha perturbado o ritmo de muitas coisas, “não mudou os aspectos fundamentais das relações China-EU”, apontou.

“Quanto mais complicada e turbulenta a era que a China e a Europa enfrentam, mais devem insistir em se ver de uma perspectiva estratégica e mais devem aderir à independência, objetividade e racionalidade para promover o desenvolvimento estável e de longo prazo mútuo. É o chamado dos tempos e a responsabilidade histórica”.