Washington adia retirada de tropas dos EUA do Afeganistão
A Casa Branca anunciou que, ao invés de 1º de maio, data acertada no acordo Trump-Talibãs de 2019, a retirada total das tropas norte-americanas no Afeganistão será em 11 de Setembro, data que possivelmente é considerada mais propícia pelo horóscopo e pelos marqueteiros.
“Iniciaremos uma retirada ordenada das forças restantes antes de 01 de maio e planejamos que todas as tropas dos EUA saiam do país antes do 20.º aniversário de 11 de setembro”, disse Biden em declarações aos jornalistas, garantindo que essa partida seria “coordenada” e simultânea com o das outras forças da NATO.
As tropas norte-americanas saem pela porta dos fundos, derrotadas pela guerrilha, depois de quase 20 anos de invasão, ocupação e destruição. Período em que o país, sob a mira das armas dos marines, se tornou responsável por 90% do fornecimento mundial de ópio, matéria-prima para a heroína e seu tráfico. A tal ponto que, segundo uma estimativa da ONU, o ópio é responsável por 15% da economia afegã.
Como registrou certa vez a revista Rolling Stone, “a droga está entrelaçada aos mais altos níveis da economia e do governo afegãos de uma maneira que faz parecer amador o negócio da cocaína na Colômbia da era Pablo Escobar. A fatia do tráfico e da produção de cocaína no PIB da Colômbia atingiu no máximo 6% no final da década de 1980”.
Ao comunicar que irá bater em retirada, Biden tentou aparentar não perder a pose. “Dissemos aos talibãs, sem qualquer ambiguidade, que responderemos energicamente a qualquer ataque a soldados americanos, enquanto procedemos à retirada ordenada e segura”.
O principal compromisso assumido pela guerrilha foi de impedir qualquer grupo terrorista de operar em território afegão contra os EUA. Que foi o compromisso oferecido pelo Talibã para evitar a invasão e recusado por W. Bush.
A Rolling Stone esclareceu como “todos aqueles campos de papoulas floresceram bem na cara de uma das maiores missões militares internacionais da nossa época”. “A resposta está em parte nas barganhas profundamente cínicas obtidas pelo ex-presidente afegão Hamid Karzai em sua tentativa de consolidar o poder, e em parte na maneira como o Exército norte-americano ignorou a corrupção de seus aliados na luta contra o Talibã”.
Resumindo, o governo de Cabul instalado por Washington é um governo recheado de barões da droga – além de ladrões.
O Pentágono vinha pressionando para manter um pé no Afeganistão, visto como cabeça de ponte para intervir no projeto da nova Rota da Seda, ou para insuflar jihadistas uigures contra a China.
Negociações iniciadas em setembro entre a guerrilha e o governo alugado por Washington seguem emperradas. Uma vez que o governo ‘afegão’ instalado pelos EUA depende inteiramente da sustentação externa, seu colapso é esperado após a retirada dos EUA.
A decisão havia sido antecipada pelo Washington Post que, citando uma “pessoa familiarizada com as deliberações” disse que Biden não deseja reiniciar a luta contra o Talibã. “Se quebrarmos o prazo de 1º de maio negociado pelo governo anterior sem um plano claro de saída, estaremos de volta à guerra com o Talibã, e isso não era algo que o presidente Biden acreditava ser do interesse nacional”, disse a pessoa, acrescentando , “Estamos indo para zero tropas em setembro.”
Não se sabe como a guerrilha reagirá ao anúncio feito por Biden. O Talibã cumpriu sua parte no acordo de fevereiro de 2019 com os EUA, e desde então não houve nenhum soldado norte-americano morto.
Há oficialmente 2.500 soldados americanos no Afeganistão, embora alguns relatórios digam que o número está perto de 3.500. Além da presença dos EUA, há 7.000 outras tropas da coalizão no país, principalmente da Otan. Além dos militares, há 18 mil paramilitares ‘contratados’ realizando serviços para o Pentágono e a Otan no Afeganistão.