Russian Foreign Minister Sergei Lavrov meets with Chinese Foreign Minister Wang Yi in Guilin on March 22, 2021. (Photo by Handout / RUSSIAN FOREIGN MINISTRY / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / Russian Foreign Ministry / handout " - NO MARKETING - NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS

Pequim e Moscou, cujo tratado de amizade e cooperação está completando 20 anos, marcaram a data com a ida do ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov a Guilin, cidade turística do sul da China, onde se reuniu na segunda-feira (22) com seu homólogo chinês, Wang Yi, na primeira visita de alto nível desde o início da pandemia. O acordo será prorrogado por mais cinco anos.

Lavrov e Wang se cumprimentaram com os cotovelos efusivamente, o que, de acordo com o jornal South China Morning Post, passa a mensagem de que “a abordagem dura por parte dos Estados Unidos não vai funcionar”.

“Quanto mais instável for o mundo, maior será a necessidade de continuar a cooperação China-Rússia”, destacou a porta-voz chinesa Hua Chunying. “Lado a lado em estreita cooperação e firme oposição à hegemonia e intimidação, China e Rússia têm sido um pilar da paz e estabilidade mundial”, sublinhou.

A reunião se torna ainda mais significativa por ocorrer logo após o confronto entre a China e os EUA na abertura da cúpula no Alasca da semana passada.

Bem como do episódio em que o presidente Vladimir Putin respondeu ao insulto de Joe Biden dizendo que “assassino” era como o próprio norte-americano se via no espelho – pelo mecanismo psíquico da projeção.

Seu convite a Biden para um debate on line ao vivo sobre as relações entre os dois países e as questões internacionais por razões óbvias não foi acatado pela Casa Branca.

Quadro sui generis nas relações entre potências nucleares de primeira ordem, sintetizado pelo portal da rede norte-americana CNN com o curioso título “insultos voam e Biden atraca chifres com Rússia e China”.

À chegada à cidade cujo nome, Guilin, em mandarim, soa como ‘vizinho honrado’, Lavrov reiterou que “não é muito sensato sancionar a Rússia e a China”.

Ele acrescentou que Pequim e Moscou estão à procura de uma ordem internacional “justa e democrática”, sem sanções e ultimatos e sob a Carta das Nações Unidas e do direito internacional.

De acordo com Lavrov, as relações entre Moscou e Pequim estão “no seu melhor de toda a história” e que o “diálogo mutuamente respeitoso deve servir de exemplo”.

Lavrov condenou Washington por pretender, “a qualquer custo”, preservar o domínio na economia global e na política internacional, “impondo a sua vontade a todos e em todos os lugares”.

Ele assinalou que o mundo está atravessando “mudanças complexas” com a “crescente influência dos novos centros” econômicos, financeiros e políticos que, defendeu, estão levando o mundo para “um sistema verdadeiramente multipolar”.

Os dois chanceleres também discutiram o acordo nuclear iraniano, o processo de paz no Afeganistão, a situação em Mianmar, a Síria, a mudança climática e a reforma da ONU, segundo um comunicado do Ministério das Relações Exteriores chinês.

Ainda segundo esse comunicado, os dois chanceleres instaram os EUA a parar com suas atividades de intimidação, parar de interferir nos assuntos internos de outros países e parar de formar grupos para confrontar outros países.

E que prevaleça a Carta da ONU e não a tal de ‘ordem internacional das regras’ determinadas por um pequeno grupo de países – isto é, para bom entendedor, desde Washington e Wall Street.

Sobre o frenesi de Washington e Bruxelas quanto às sanções, Lavrov observou que “esqueceram-se em grande parte de como se faz a diplomacia clássica. A diplomacia implica na relação entre as pessoas, é a capacidade de ouvir os outros, ter em consideração o seu ponto de vista, encontrar um equilíbrio de interesses”.

“São exatamente estes os valores que a Federação Russa e a República Popular da China estão promovendo na diplomacia”, sublinhou.

Quando uma conversa a nível diplomático ou político adquire caráter de ultimato, procurando pressionar a contraparte a “reconhecer os seus erros” e aceitar as exigências formuladas, não se trata de diplomacia, afiançou.

“Assim que nossos parceiros ocidentais encontram uma rejeição educada, eles imediatamente passam para as sanções”, disse o ministro. A União Europeia seguiu o mesmo “caminho”, ao anunciar sanções contra a Rússia sob pretexto fictício e sem apresentar quaisquer fatos ou provas, assinalou.

“Em geral, hoje é errado punir qualquer ator na arena internacional e tentar aplicar essa medida à Rússia ou à China é simplesmente insensato”, disse ele.

Para Lavrov, esse tipo de conduta começou “com Barack Obama, continuou por 4 anos, quando o presidente Trump estava na Casa Branca. Agora estamos vendo os mesmos ‘traços’ mostrados pela nova administração dos EUA”, acrescentou.

O chanceler lembrou que os Estados Unidos declaram sua meta de limitar as possibilidades de desenvolvimento tecnológico da Rússia e da China.

Para resistir a esse regime de sanções, Lavrov enfatizou a necessidade de reduzir seu impacto através do fortalecimento da independência tecnológica, mudando para moedas nacionais ou alternativas ao dólar em saldos recíprocos, e pediu a rejeição dos sistemas de pagamentos internacionais controlados pelo Ocidente.

Para o chefe da diplomacia russa, os países ocidentais “estão promovendo sua agenda ideológica com o objetivo de manter seu domínio, travando o desenvolvimento de outras nações. Essa política vai contra a tendência objetiva e, como dizem, está do lado errado da história”.

Nessas circunstâncias, explicou, a Rússia foi obrigada a seguir “uma linha de desenvolvimento econômico e social de forma que não dependamos desses ‘caprichos’ de nossos parceiros”.

Como registrou o jornal chinês Global Times, a parceria estratégica abrangente de coordenação entre a China e a Rússia para uma nova era “se tornou o ativo diplomático e estratégico mais importante da China e da Rússia, respectivamente, e tem apoiado os dois países no enfrentamento de desafios externos consecutivos”.

“As duas sociedades sentiram os benefícios estratégicos. O conceito de “compromisso compartilhado com uma paz duradoura e cooperação ganha-ganha” entre os dois países está profundamente enraizado no coração das pessoas, e as áreas de cooperação entre os dois países têm se expandido”, registrou o jornal.

Apesar do impacto da pandemia em 2020, o comércio China-Rússia ultrapassou US $ 100 bilhões pelo terceiro ano consecutivo, e a China continuou sendo o maior parceiro comercial da Rússia pelo 11º ano consecutivo.

A Rússia exportou 83,57 milhões de toneladas de petróleo para a China em 2020, logo a seguir à Arábia Saudita, com 84,92 milhões de toneladas para a China. Suas exportações aumentaram a segurança energética da China.

A China também é o maior mercado de exportação de produtos agrícolas russos, o que não acontecia há dez anos. Entre outros projetos na área da alta tecnologia, a China e a Rússia acabam de assinar um memorando de entendimento para a construção conjunta de uma estação lunar internacional de pesquisa, que estará aberta a outros parceiros internacionais.