Até quando suportaremos recordes de mortes diárias de brasileiros, o aumento da média semanal das mortes por Covid-19? Até quando nossas UTIs nem sequer terão vagas para quem está à beira da morte? Até onde se pode aceitar a irresponsabilidade de um governo federal – caso praticamente único no mundo – que boicota o enfrentamento da pandemia, em suposta “defesa da economia”, que na verdade é defesa de sua reeleição?

Não se pode falar de “proteção da economia” com um auxílio emergencial que não sustenta sequer metade de uma cesta básica. De que economia se pode falar se morrerão 300, depois 400 mil seres humanos? Em que os pequenos e médios empreendedores, tendo investido no negócio as economias de toda a vida, naufragam, são levados à humilhação perante si próprios?

Até quando as forças da produção e das finanças estão dispostas a deixar de pôr cobro a um governo que tem, em meio à maior crise sanitária da história em mais de 100 anos, o quarto Ministro da Saúde, ainda dizendo que “a política do governo é uma só”, ou seja, manter a orientação de Bolsonaro, que não pode reconhecer a necessidade do isolamento social sob pena de passar a si mesmo o atestado de falência do que fez em todo o tempo?

Não é hora de persistir numa política econômica suicida, antes de ser criminosa, de falar em arrefecer a curva de crescimento da dívida pública, elevar os juros e arcar com a inflação, tão pesada na carestia para o povo que já está no limite da pobreza, do desemprego e do desalento. Não tem cabimento manter o teto de gastos, desvinculações e desobrigações orçamentárias, regras de falso ouro, em nome de um fiscalismo que só assegura os interesses de 400 grandes conglomerados empresariais do país. Não pensem as forças econômicas dominantes que poderão se eximir dessa responsabilidade.

Não é moralmente aceitável haver nesta hora rinhas políticas ou omissões políticas no cumprimento de papéis institucionais. Será profundo descompromisso com o povo deixar de colocar a travessia de 2021 acima de qualquer precipitação das eleições de 2022. O mesmo ocorrerá se o Congresso Nacional permanecer inerme, perdidos em mesquinhezes e não representar as aflições do povo, não aprovar sequer a CPI da Covid-19, um importante instrumento de pressão na proteção da vida dos brasileiros.

A situação é gravíssima, não é de normalidade. Situações excepcionais demandam soluções excepcionais, “fora da caixinha” do acomodamento e das fórmulas. As instituições democráticas precisam tomar nas mãos o destino do país em hora tão grave, é isso que se faz quando o país recebe uma declaração de guerra do inimigo. Não se deve calar nessas horas.

A vida política nos exige inventividade, criar as condições de superação dos impasses. É válida a insubordinação civil de governadores e da sociedade civil em pactuar respostas que não são promovidas nem aceitas pelo governo federal. É válido que os setores mais organizados da sociedade se arrisquem em manifestações de rua, com as premissas necessárias de proteção contra a pandemia, assim que suspensos os lockdowns.

Que tomem a voz os líderes com descortino do que vivemos e viveremos. Que assegurem, já e sem delongas, as condições para preservar a vida e a própria retomada da economia. Se não forem imperativos agora, o país cujo rumo se disputará em 2022 estará desagregado.

Que se manifestem os ex-presidentes de diferentes orientações, as lideranças religiosas, da sociedade civil, das artes e da cultura, do meio jurídico e político. Que se faça um chamamento ao STF e ao Congresso: é preciso paralisar o quanto antes esse governo, sob risco de irresponsabilidade histórica, aquela que se pagará com o opróbrio.

É preciso uma direção única e responsável: defender a vida pela vacinação, o isolamento social e os auxílios emergenciais que não apenas do governo federal, como também dos entes estaduais. É preciso “parar esse cara” e parar essa política econômica que vive da senilidade, de um receituário que já foi deixado de lado até mesmo por seus criadores do Norte.

A nação não pode ter um povo enviado ao matadouro, governado com mentiras e agressões permanentes. A sociedade, liderada por palavras e ações, nesse rumo, responderá de pronto, com certeza, com novo estado de espírito, se estiver confiante de que há outro caminho a trilhar no interesse nacional e das famílias. Só não o fará se entender que, no fundo, o que há é disputa política mesquinha, a “briga de políticos” medonha para estes tempos, que sempre lhe foi desfavorável.

É preciso catalisar esse estado de espírito na sociedade, numa só voz e ação. O Brasil não pode arcar com o governo Bolsonaro! Bolsonaro só tem cálculos políticos em torno de sua reeleição. Crimes penais e de responsabilidade não faltam. O futuro certamente não absolverá suportar mais 566 dias de martírio com Bolsonaro no governo.

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Walter Sorrentino* é vice-presidente nacional e secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

 

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