Nos últimos dias, uma série de ataques foi desferida nas redes sociais contra a presidente da UNE, Bruna Brelaz. Dessa vez, esses ataques não vieram apenas das artilharias bolsonaristas, mas de alguns segmentos ditos de esquerda.

Por Wadson Ribeiro*

Tais atos virulentos revelam uma rede de ódio que não mais é patrimônio exclusivo da direita radicalizada, mas acomete também quem se arvora dono de uma ética e de uma moral irretocáveis. Lamentavelmente, os ataques à Bruna revelam a intolerância e o sectarismo de setores que parecem antagônicos, mas são apenas lados opostos de uma mesma moeda.

A UNE está correta em dialogar com amplos setores e personalidades das distintas matizes políticas e ideológicas. O governo Bolsonaro não é apenas um governo de direita e liberal, mas tem se revelado um governo com fortes características fascistas. Portanto, a sua derrota através de um impeachment não se dará apenas com a boa vontade dos partidos e das organizações políticas identificadas com a esquerda.

É uma conta matemática e política básica. Desde a eleição do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em fevereiro de 2015, a esquerda nunca ultrapassou 130 votos no plenário. Além disso, destituir um governo fascista não é tarefa apenas da esquerda, mas sim de todos os cidadãos e cidadãs que defendem as instituições democráticas, o Estado Democrático de Direito e a Constituição Federal contra ameaças golpistas.

Bruna Brelaz foi atacada por se reunir com Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes, MBL e meia dúzia de outras lideranças e organizações de centro-esquerda, de centro e de direita. Talvez os que hoje criticam a UNE por sua amplitude política queiram uma UNE deslegitimada perante os estudantes e subordinada a alguns partidos políticos. Mas a UNE e sua presidenta souberam honrar seu legado de lutas e de compromisso com o Brasil e a democracia. Em um momento complexo como esse não se apequenaram, e colocaram acima das divergências das correntes políticas de esquerda que atuam na UNE os verdadeiros interesses do Brasil.

Os oito anos de governo Lula sempre contaram com o apoio de partidos de direita – inclusive os que hoje compõem o chamado Centrão – e isso foi não foi ruim para seu governo. Do contrário, permitiu que com essa base de apoio ele pudesse ter feito um dos melhores governos que o país já teve. Será que Luis Carlos Prestes errou ao se encontrar com Getúlio Vargas em 1945 – Vargas foi o responsável pela prisão de Prestes e pela entrega de sua então companheira Olga Benário, morta num campo de concentração, aos nazistas alemães – ou naquele momento Prestes sabia quem era o verdadeiro inimigo?

Tenho a impressão que alguns no campo da esquerda não pretendem tirar Bolsonaro da Presidência antes das eleições de 2022. Acreditam que a polarização é tão boa para Bolsonaro quanto para Lula, seu principal adversário. Por isso, atacam tudo aquilo que possa representar uma ampliação política real, que torne o impeachment algo viável. Atacaram fisicamente Ciro Gomes na passeata de São Paulo, colocaram diversos senões para não participarem do ato em conjunto com o MBL e outras organizações de caráter liberal, e, pelo mesmo motivo, atacam a UNE.

Nada é mais importante nesse momento do que a derrota do governo Bolsonaro. Para isso, há de se ter amplitude, capacidade de diálogo. Sobretudo, é necessário reacender a esperança, a alegria e o amor entre as pessoas, tão desapontadas frente ao genocídio promovido por Bolsonaro, pela miséria crescente e pelos descaminhos pelos quais o Brasil vai se aventurando.

A UNE acerta mais uma vez ao lutar por uma frente política amplíssima para derrotar Bolsonaro e defender a democracia. A esquerda não surgiu com a vitória de Lula em 2002, nem tampouco acabou com o golpe contra Dilma em 2016. A razão de sua existência é a luta por um mundo solidário, fraterno, justo, desenvolvido. A esquerda não pode pactuar com a intolerância, com o machismo, com o racismo, e sobretudo, com a falta de compreensão sobre a realidade. Toda a solidariedade à UNE e à Bruna Brelaz!

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*Presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.

(Artigo publicado originalmente no portal Hoje em Dia)

 

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