A posse do governador Romeu Zema à frente do governo de Minas foi a primeira vitória expressiva do partido Novo em todo o Brasil. Composto por gente “diferenciada”, o partido Novo e o governador venderam a marca da eficiência administrativa e da diminuição do tamanho do Estado como panaceias para os problemas fiscais e sociais. Contudo, administrar Minas é bem diferente do que gerir uma empresa ou uma rede de lojas. Requer espírito público para lidar com crises como a do coronavírus e sensibilidade humana para proteger os mais vulneráveis.

Por Wadson Ribeiro*

Antes mesmo da pandemia, Zema já havia acumulado um enorme desgaste com os servidores públicos do Estado e com a Assembleia Legislativa. Em uma mesma tacada ele conseguiu se indispor com os servidores da segurança pública, ao trair o acordo com a categoria de um reajuste de 13% em 2020 e 12% em 2021 e 2022. Garantiu apenas o percentual de 2020 e vetou o restante do projeto que é de autoria do próprio Executivo. Também vetou uma emenda aprovada pela Assembleia que estendia o reajuste para demais categorias. O episódio produziu a renúncia do segundo secretário estadual de Governo, o deputado federal Bilac Pinto, que se viu impotente diante da quebra de acordo.

No plano da política nacional, Zema vem tomando posições erráticas. Flertou com a proposta de flexibilização do isolamento social anunciada por Bolsonaro, estimulou setores do comércio e do empresariado, que em carreatas exigiu a abertura de lojas e, se recusou a assinar a carta dos governadores, que cobrava do governo federal uma postura de ajuda aos estados e de obediência às orientações da OMS. Enquanto a imagem pública de governadores Brasil a fora cresceram devido suas posturas no enfretamento ao vírus, como é o caso de João Doria (SP), Wilson Witzel (RJ), Flávio Dino (MA) e Ronaldo Caiado (GO), entre outros, independentemente de seus partidos, Romeu Zema se apequenou. O governador de Minas fez o movimento contrário, se aliou a Jair Bolsonaro esperando receber migalhas do governo federal e facilidades para o ingresso na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Na contramão da mobilização nacional, que contou com o apoio do Congresso, e impôs uma derrota a Bolsonaro elevando de R$ 200 para R$ 600 (podendo chegar em alguns casos a R$ 1.200) a renda básica emergencial para trabalhadores desempregados, informais, micro empreendedores individuais e contribuintes individuais da previdência, como forma de um número maior de brasileiros terem algum recurso para suportarem a crise com o mínimo de dignidade, o governo de Minas faz o contrário. Essa semana divulgou não ter data para o pagamento dos servidores do Estado, o que coloca centenas de milhares de mineiros no limbo, sem salário e sem poderem acessar o benefício da renda emergencial, por obviamente não se enquadrarem nos critérios exigidos.

A Vale tem R$13,6 bilhões bloqueados em função do crime de Brumadinho e grande parte desse recurso poderia ser utilizado para amenizar a crise. Além disso, Minas tem a receber R$ 135 bilhões de ressarcimento da Lei Kandir. Nesse momento é preciso ter força política nacional e autoridade moral para fazer valer o peso do estado e disponibilizar esses recursos para enfrentar a crise. Os servidores não podem ouvir passivamente do governador que levarão um calote e ficar calados. Onde está o estado diferente? Onde está o governo eficiente? Onde estão as medidas para proteger as micro e pequenas empresas e garantir a manutenção dos empregos? Onde estão as políticas de proteção às cidades turísticas, a gastronomia e o artesanato? Por que não atraímos grandes empresas para o estado?

Os mineiros e os servidores estaduais merecem muito mais do que um pedido de desculpas pelo não pagamento de seus salários devidos. Merecem um governo digno e à altura dos desafios que o mundo e Minas enfrentam. Romeu Zema é um fiasco.

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