Jair Bolsonaro (sem partido)

As múltiplas crises que assolam o Brasil desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro ganham contornos mais expressivos e colocam a gestão de Bolsonaro em um dos seus momentos mais difíceis. A volta de Lula ao cenário político e eleitoral, a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado Federal para investigar as atrocidades cometidas pelo governo federal na pandemia e os impasses envolvendo o orçamento de 2021, dão mostras de como o atual governo encontra-se imobilizado e acuado a pouco mais de um ano das próximas eleições presidenciais.

Por Wadson Ribeiro*

No âmbito da política nacional, a reviravolta no STF cancelando as ações do ex-juiz Sérgio Moro que condenaram Lula no âmbito da Lava-Jato, reintroduziram o petista no cenário eleitoral de 2022. Lula, diferentemente de outros pré-candidatos até então, é o único com popularidade e capilaridade nacional, com prestígio no Norte e Nordeste, além de aprovação e penetração em extratos sociais mais pobres dos grandes centros urbanos. Além disso, Lula exerce uma grande atração sobre diversos setores políticos e sociais, de empresários a partidos do Centrão, que hoje, ocasionalmente, apoiam Bolsonaro. O isolamento internacional do Brasil e a crise econômica em curso – que só fazem aumentar o desemprego e a miséria – ressuscitam no imaginário da população os bons momentos vividos no Brasil até 2010 nos governos do ex-presidente.

Por outro lado, pela primeira vez, o governo Bolsonaro vai encarar uma CPI no Senado que pretende investigar a conduta do governo frente à maior crise sanitária encarada pelo Brasil. Com mais de 375 mil mortes e uma conduta deplorável do presidente da República, de seus ministros e auxiliares, que se pautaram no antagonismo em relação às orientações da Organização Mundial de Saúde e da ciência como um todo, a CPI terá que investigar o grau de responsabilidade do governo federal com essa verdadeira tragédia civilizacional produzida no Brasil. Os maus exemplos de Bolsonaro estimulando o tratamento precoce com hidroxicloroquina e ivermectina; a subestimação do uso de máscaras e do isolamento social; o negligenciamento na aquisição antecipada de vacinas; a falta de respiradores mecânicos, de medicamentos e de sedativos para intubação e, sobretudo, a insensibilidade e indiferença de um chefe de Estado frente a morte de centenas de milhares de seus compatriotas, cobrará seu preço nessa CPI.

Além disso, uma outra pauta deixa um rastro que, num futuro próximo, poderá colocar Bolsonaro em uma situação na qual ele incorra em crime de responsabilidade. Refiro-me ao orçamento aprovado pelo Congresso e ainda não sancionado, que constitui uma verdadeira obra de ficção. Para atender ao Centrão e o pagamento das emendas parlamentares, o governo deixou R$ 100 bilhões de fora da meta fiscal e que não serão contabilizados no teto de gastos. Sou contra as políticas econômicas neoliberais e o teto de gastos, contudo, lei é lei e se valeu para a ex-presidenta Dilma Rousseff, condenada erroneamente pelas “pedaladas fiscais”, o que dizer do orçamento de Bolsonaro que subestima as despesas obrigatórias para manobrar o pagamento de emendas aos parlamentares. Alguém está mentindo nessa história, ou Bolsonaro não pagará as emendas parlamentares e sua base política se rebelará, ou cortará o orçamento dos ministérios e comprometerá a já ineficiente gestão do governo federal. O orçamento como tal, se sancionado, poderá dar fôlego a um processo de impeachment.

A mudança mais qualitativa na política brasileira nesse primeiro quadrimestre de 2021 é que Bolsonaro, em que pese ainda demonstrar resiliência, vai perdendo apoio político e popular e caminha para a disputa da reeleição em condições mais frágeis do que disputou em 2018. Tomara que esse pesadelo esteja próximo de acabar.

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Wadson Ribeiro* é presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.

 

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