Wadson Ribeiro é presidente do PCdoB-MG e pré-candidato da legenda a prefeito de Belo Horizonte.

Perto de completar um ano e meio de governo, Bolsonaro enfrenta seu pior momento no Palácio do Planalto. Sua marcha pela insensatez no combate ao Covid-19 mergulhou o país em uma crise sanitária que já matou cerca de 13 mil brasileiros. A economia amarga índices de desemprego estratosféricos, o dólar bate recorde de valorização e há projeções que apontam para uma retração do PIB perto de 10% no próximo ano. Somado a isso, avoluma-se uma crise política que pode gerar consequências jurídicas que levem ao impedimento do presidente.

Por Wadson Ribeiro*

Da mesma forma relâmpago com a qual Bolsonaro chegou à Presidência da República, sua saída também poderá se dá por uma causa fortuita. Os primeiros relatos da reunião do dia 22 de abril chamam a atenção porque confirmam as declarações do ex-ministro Sergio Moro, que afirmou ter havido tentativa de interferência política no comando da Polícia Federal por parte do presidente. A indicação de Alexandre Ramagem – amigo dos filhos de Bolsonaro – para o cargo de diretor-geral da PF, e que só não se efetivou pela negativa do ministro do STF Alexandre de Moraes, confirma a interferência. Na reunião, além de ataques ao STF, aos governadores e aos prefeitos, fica evidente a tentativa de Bolsonaro de intervir na Superintendência Regional da PF do Rio de Janeiro em nome de um maior controle das operações contra seus familiares e amigos.

Além da divulgação do vídeo da fatídica reunião, que logo em breve deixará claro o conteúdo dos diálogos, os depoimentos dos ministros militares são cuidadosos e não saem em plena defesa de Bolsonaro, preferem, como sempre, relativizar o momento e atribuir possíveis excessos por parte do presidente a um estilo pessoal. Contudo, para além das fanfarrices do presidente que sempre grassaram impunemente, pela primeira vez vai se construindo materialidade e provas concretas de atos ilegais praticados por Bolsonaro. Não há outro caminho senão aquele em que a PGR apresente denúncia contra Bolsonaro e que o Congresso Nacional abra uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra o presidente. Por um lado, Bolsonaro estará cercado pelos procuradores da República e, por outro, dependente do centrão no Congresso para evitar um impeachment.

Aliado a esse cenário de crise política com perigosos reflexos para a continuidade do governo, o Brasil tem batido recordes diários de mortes pela Covid-19 e o cenário que se avizinha é ainda mais preocupante. Para que se tenha uma ideia, nessa mesma reunião, em plena pandemia e com casos de morte crescendo no Brasil, o governo reúne sua cúpula durante mais de quatro horas e não há um ponto na pauta sobre o tema pandemia no Brasil. O descaso do governo com a vida dos brasileiros e a forma irresponsável como encaram a Covid-19, faz a aprovação do governo desabar. A avaliação negativa do governo cresceu 12,4%, saltando entre os meses de janeiro a maio de 31% para 43,4%. A avaliação negativa do governo é maior que a positiva, que caiu no mesmo período de 34,5% para 32%. Outros 55,4% desaprovam o desempenho pessoal do presidente. Esses dados estão na pesquisa CNT/MDA divulgada esta semana.

Bolsonaro ainda não é um cachorro morto. Goza de prestígio e aprovação em uma parcela da população. No entanto, é inegável que caminha para uma situação de grande isolamento político e de desgastes na opinião pública. Não basta um presidente não reunir mais condições de governar para ser retirado do cargo. É preciso que as condições subjetivas estejam dadas e a nova saída pactuada. Foi assim com Itamar e Temer recentemente. Uma frente de salvação nacional comprometida com a democracia, com desenvolvimento nacional, com a soberania e os direitos do povo, se faz urgente para dar sentido e perspectiva a esses dias obscuros vivenciados no Brasil.

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