Wadson Ribeiro, pré-candidato a prefeito de BH e presidente do PCdoB em Minas Gerais

Na mesma semana em que o Brasil alcança o terceiro lugar no mundo em número de casos confirmados da Covid-19, com mais de 27 mil pessoas infectadas, o presidente da República faz piada com a dor e a angustia de milhões de brasileiros, dizendo que as pessoas de direita tomarão Cloroquina e as de esquerda, refrigerante Tubaína.

Por Wadson Ribeiro*

Nesse momento, o que se espera de um governo patriótico é a defesa de todos os compatriotas que correm risco de vida diante da pandemia, independentemente de suas opções ideológicas, que nesse momento, aliás, é o que menos importa ao povo.

Nunca nutri ilusões em relação ao governo Bolsonaro. Desde as eleições e, logo após a posse, cada ato do governo e cada pronunciamento de ministros, confirmavam em mim as convicções de que o Brasil não havia elegido apenas um governo conservador de direita, mas sim um governo com fortes inclinações fascistas. Da mesma forma como Bolsonaro trata com desdém a dor daqueles que perderam seus entes para o Coronavírus, tratou as famílias daqueles que perderam seus filhos nos porões da ditadura ou nas selvas do Araguaia.

Bolsonaro não é apenas despreparado intelectualmente, seu problema principal é a falta de uma moral estadista, impregnada nos grandes homens públicos, que em momentos de dor de seu país e de seu povo, não os divide pelas suas convicções políticas ou ideológicas, mas os une por seus desafios.

A decadência do governo Bolsonaro não se revela apenas pela inaptidão ao enfrentar a pandemia e os reflexos imediatos que isso tem no aumento da avaliação negativa do governo. A prova cabal das dificuldades enfrentadas está no casamento forçado de Bolsonaro com o chamado “centrão”, para tentar dar governabilidade a um governo ingovernável por natureza.

Tudo o que Bolsonaro dizia antes, faz ao contrário hoje, numa espécie de estelionato eleitoral. Dizia que os partidos que compunham o “centrão” eram o que havia de pior na política. Hoje oferece a eles o FNDE, o DNOCS e outros tantos cargos, com orçamentos bilionários, para agradar os novos amigos políticos e salvar sua cabeça de uma CPI ou de um processo de impeachment. Ou seja, “Está tudo como dantes no quartel d’Abrantes”.

Quando Bolsonaro e a ala ideológica de seu governo vão às redes ou falam à imprensa, não têm a pretensão de falar para todos os brasileiros, mas mirando a turma de Olavo de Carvalho, dos policiais militares espalhados pelo Brasil, dos segmentos religiosos mais radicalizados e obscurantistas. Falam para a parcela de empresários e de endinheirados que lucram com todos os governos, para os que defendem uma nova ditadura militar, o fechamento do Congresso e do STF, enfim, falam para quem os escuta, e isso é um mérito. Bolsonaro governa com o pulsar das redes sociais e de seus robôs. Os algoritmos os ensinam que não se deve governar para todos, mas sim, para os 30% que o apoia e que o levará para o segundo turno em 2022, exatamente por defender a Cloroquina e coisas do gênero.

Por fim, deixo claro que prefiro a Tubaína. Aliás, aqui em Belo Horizonte poderia ser o Mate Couro, um guaraná muito mais gostoso. Se o presidente realmente fosse um patriota, estaria puxando a fila do combate à pandemia no Brasil, estaria em harmonia com a OMS, com os médicos, com os enfermeiros, com os especialistas e com a ciência.

Estaria solidário e respeitoso com a dor de quem perdeu familiares e amigos. Estaria ao lado das micro e pequenas empresas, dos desempregados e dos autônomos. Se ele fosse patriótico, entenderia que um dia teremos no Brasil muito mais Tubaínas e empresas nacionais.

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