Wadson Ribeiro: É preciso libertar os rios para combater enchentes
As chuvas do mês de janeiro têm provocado inúmeros estragos, prejuízos e mortes em Minas Gerais. Mais de 30 mil famílias estão desalojadas ou desabrigadas, especialmente nas regiões Metropolitana, Zona da Mata e Vale do Rio Doce. Infelizmente, o Estado contabiliza, até o momento, 53 mortes em virtude de deslizamentos e inundações, uma verdadeira tragédia para um início de ano. No entanto, as chuvas fortes e as inundações, não são novidades para um Estado que já passou por situações como essas. O que deixa a população estarrecida é a inoperância dos governos no que tange a prevenção e políticas públicas que deem respostas a esses fenômenos que se repetem anualmente.
Por Wadson Ribeiro*
Em Belo Horizonte há 90 áreas sujeitas a inundações, de acordo com a Carta de Inundações, documento da Prefeitura Municipal que deveria ser uma política de prevenção e enfrentamento às enchentes. Em janeiro, a cidade recebeu o maior volume de chuva de toda a sua história. No acumulado foram até agora mais de 923 mm de chuva. É exatamente aí que reside o problema. Belo Horizonte está construída em cima de seus rios, córregos e ribeirões, uma cidade que sufoca suas bacias hidrográficas com o peso do concreto e do asfalto. A combinação de um volume maior de chuvas com uma cidade impermeabilizada é um dos fatores decisivos para que a água escoe com maior velocidade, sem ser absorvida pelo solo, causando assim erosões e destruição de ruas, praças, lojas, casas e tudo que tiver pela frente.
É preciso que a Prefeitura assuma para si a responsabilidade pelo desenvolvimento de um conjunto de iniciativas que possam minorar esse quadro. A variação da intensidade das chuvas sempre existirá. Isso depende de fatores naturais e também humanos, contudo, prevenir essas catástrofes de forma a evitar a perda de vidas e os prejuízos materiais, é função do poder público. Kalil foi eleito dizendo que Belo Horizonte não precisava de obras. Talvez ele não conhecesse tão bem a cidade. Para não dizer de outras áreas, tratando apenas das inundações, Belo Horizonte precisa de muitos investimentos estruturais e de políticas de prevenção. Passados quase quatro anos de seu governo, o prefeito Kalil não apresentou à cidade um plano consistente para atacar o problema das enchentes e das mortes provocadas pelas chuvas. Ao contrário, a cidade parece mais vulnerável.
Não é possível encontrar saídas fáceis para a complexidade da questão urbana. A diretriz até aqui construída privilegiou os carros e pra isso asfaltou a cidade, tornando-a menos permeável. O mau uso do espaço urbano e a concentração de renda fizeram com que fossem erguidos grandes prédios nas áreas nobres, e vilas e favelas, muitas delas construídas em áreas de risco. O padrão de consumo atual faz a população produzir um volume maior de lixo, que quando não tratado ou descartado de forma deseducada, contribui com as enchentes. A falta de investimentos em infraestrutura para drenagem de áreas potencialmente alagáveis e para o desassoreamento de rios e córregos também contribuem para os alagamentos. Precisamos integrar os rios, ribeirões, riachos, nascentes à vida da paisagem urbana, como forma de tornar a cidade mais permeável, libertá-los dos concretos e ferros que os fazem apenas escoarem esgoto.
Enfim, as chuvas sempre existiram de forma intensa, as inundações também não são novidades para Belo Horizonte, o que é novo é a construção de um projeto consistente, que vá na contramão das experiências equivocadas e prepare a cidade para uma época em que as catástrofes possam ser minoradas, a prevenção evite mortes e o meio ambiente seja revitalizado.