O assassinato do garoto Adam vem se somar à longa lista de negros e latinos abatidos pela polícia

Uma vigília em Chicago, que incluiu uma marcha até as imediações da casa da prefeita Lori Lightfoot, na sexta-feira (16) expressou a enorme indignação gerada pelo fuzilamento sumário, por um policial, de um garoto de 13 anos, um ‘chicano’ (mexicano), Adam Toledo, com um tiro no peito, segundos após atender à ordem de mãos ao alto e se virar, desarmado, em um beco do bairro pobre de Little Village.

O crime em Little Village aconteceu no dia 29 de março, mas o vídeo da câmera corporal do policial só foi divulgado na quinta-feira passada (15). Os policiais haviam ido até o local após denúncias de som de tiros. Antes da divulgação do vídeo, a polícia divulgara a versão de que teria havido uma “confrontação” e que o garoto estava armado e só faltaram culpar o garoto pela própria morte. O policial foi identificado como Eric Stillman.

O assassinato do garoto Adam vem se somar à longa lista de negros e latinos desarmados abatidos pela polícia, sob o racismo e a certeza de impunidade, uma violação do mais elementar direito humano, o direito à vida. Questão que não costuma figurar nas preleções do Departamento de Estado sobre os direitos humanos que ousa fazer no mundo inteiro.

“Esse vídeo foi repugnante e ficamos indignados quando o vimos”, desabafou ao jornal Chicago Sun-Times uma manifestante, Andréa Serrano, que conduzia uma placa com o nome do garoto Adam. Veja o vídeo relatado em espanhol:

“Isso continua acontecendo e simplesmente precisa parar”, sublinhou Serrano, que acrescentou que “estamos aqui para mostrar nosso apoio à comunidade neste assassinato injustificado”.

A polícia de Chicago montou bloqueios, para impedir que os manifestantes chegassem até à casa da prefeita Lightfoot que, aliás, se elegeu prometendo uma “reforma policial” para acabar com a impunidade e a brutalidade.

No protesto, faixas como “parem de matar nossos filhos” e “48 horas de encobrimento”, o tempo que a promotoria gastou para admitir ter falsamente dito em tribunal que Adam tinha uma arma ao ser morto. Também: “Parem o terror policial racista”.

À ABC News 7, manifestantes disseram que estavam lá para protestar contra “um sistema de policiamento que simplesmente não está funcionando” e queriam que a prefeita “ouvisse essa mensagem”.

Um promotor-assistente foi afastado na sexta-feira, após ter declarado em uma audiência no tribunal que o garoto Adam estava segurando uma arma enquanto era baleado, o que foi desmentido pelo vídeo corporal do policial assassino.

Relatório do Departamento de Polícia de Chicago também estabeleceu, falsamente, que Adam representava “ameaça iminente de agressão com arma” e que usara “força susceptível da causar morte ou lesões corporais”.

De acordo com o Ministério Público, Adam estava com um jovem de 21 anos, identificado como Rubén Roman e preso. Ele compareceu a um tribunal no sábado passado, acusado de uso ilegal de uma pistola, disparo imprudente de arma de fogo e de colocar uma criança em perigo.

A prefeita Lightfoot considerou as imagens do vídeo do tiro no garoto Adam “insuportáveis” de assistir. “Nós falhamos com Adam”, acrescentou, dizendo que “não podemos falhar com mais um jovem em nossa cidade”. Ela admitiu que “uma longa história de violência policial e má conduta” aflige Chicago.

Brutalidade

No julgamento em Minneapolis do policial Derek Chauvin pelo assassinato de George Floyd no ano passado, foram apresentados na segunda-feira (19) os argumentos finais da acusação e da defesa, e um júri começará suas deliberações.

Na capital dos EUA, Washington, manifestantes se concentraram na sexta-feira à noite na Black Lives Matter Plaza, perto da Casa Branca, e marcharam pelas ruas, exigindo o fim da brutalidade policial e da impunidade, e homenageando as vítimas desse massacre, entoando seus nomes.

Em Minnesota, estado em que Chauvin está sendo julgado, mais de 100 pessoas foram presas por estarem protestando diante da sede de polícia de Brooklyn Center contra a morte do negro Daunte Wright ao ser parado em uma blitz no trânsito no dia 11 de abril.

A policial Kim Potter, que atirou em Wright, pediu demissão na terça-feira e no dia seguinte foi acusada de homicídio culposo, quando não há intenção de matar, e está sujeita a 10 anos de prisão se condenada. Ela disse ter confundido o taser – arma de eletrochoques – com o revólver.

Entre os manifestantes de Minessota, estavam Tiffany Burns, a irmã de Jamar Clark, que foi morto pela polícia de Minneapolis em 2015, e Toshira Garraway, fundadora de Famílias Apoiando Famílias contra a Violência Policial. “Queremos uma investigação federal em todos esses departamentos – aqueles que assassinaram nossos entes queridos, que sejam processados e acusados, os casos reabertos”, exigiu Garraway.