Onyx esteve na Câmara

O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) confrontou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, em torno da versão do governo Bolsonaro sobre o esquema de corrupção na compra da Covaxin e reafirmou que levou os documentos até Jair Bolsonaro.

Onyx Lorenzoni foi convocado pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados por conta das ameaças que fez contra o deputado Luis Miranda depois que este falou publicamente que levou o escândalo até Jair Bolsonaro e ele não denunciou para a Polícia Federal.

Na reunião da Comissão, realizada na quarta-feira (14), Luis Miranda disse que ele e seu irmão, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, se reuniram com Jair Bolsonaro, no dia 20 de março, e apresentaram documentos que apontavam para irregularidades na compra da vacina Covaxin, entre eles um invoice (nota fiscal prévia) que previa pagamento adiantado, duplicava o pagamento do frete e incluía uma empresa que não era citada no contrato.

“Eu não tenho dúvida nenhuma de que existe corrupção no Ministério da Saúde. Nenhuma. É questão de tempo se provar que existe corrupção”, disse Miranda.

A versão do governo Bolsonaro, que tenta proteger Jair Bolsonaro da acusação de ter acobertado o esquema de corrupção, é de que os irmãos Miranda falsificaram o invoice e não apresentaram nenhuma evidência para Jair Bolsonaro de que havia corrupção no governo.

“Nos encontramos com o presidente com os documentos que estavam no processo e era impossível não estar o invoice ali, porque o presidente para entender não ia ler o contrato inteiro”, relatou Luis Miranda.

De frente para Onyx, que estava sentado na Mesa da comissão, Luis Miranda contou todo o processo em que se deu a conversa com Bolsonaro.

O deputado disse que mostrou para Jair Bolsonaro a irregularidade na quantidade de doses que seriam importadas e na presença de uma empresa que não estava no contrato.

“A invoice que o ministro [Onyx] afirmou ser falsa, mas que é verdadeira e ele tem certeza disso, foi a invoice principal que o presidente analisou de forma tranquila” durante a reunião do dia 20 de março.

Luis Miranda disse ainda que Jair Bolsonaro pesquisou e viu que a Precisa Medicamentos, intermediadora da venda, era ligada à Global Saúde, que tinha histórico de fraude junto ao líder de seu governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR),

O deputado afirmou que contou para Jair Bolsonaro que seu irmão Luis Ricardo estava sofrendo pressão de seus superiores no Ministério para assinar uma Licença de Importação para a Covaxin, mesmo com todas as irregularidades nos invoices.

Um dos que pressionou foi Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística. Dias falou à CPI que uma das mensagens que Luis Miranda apresentou como prova de que sofreu pressão era referente a uma outra importação que o Ministério estava fazendo.

Para Luis Miranda, Roberto Dias “é um mentiroso maluco”. Esta outra carga já estava “com Anvisa liberada e carga embarcada” e não precisava mais de assinatura na Licença de Importação. “A única LI que tramitava naquele momento para ele cobrar no dia 20/03, sábado à noite, era a LI da Covaxin, que eles queriam que emitisse mesmo com a invoice errada”, confirmou.

Luis Miranda aproveitou a reunião para dizer que não está “atacando o governo, eu confiei no governo tanto que levei para ele a informação”.

“Tem que parar essa história de que nós queremos prejudicar o governo, se o governo não fez nada, ele que se autoprejudicou, não foi o Luis Miranda. Que loucura é essa em que você não pode mais denunciar para o presidente uma suspeita, em que vão nos calar, levar para o Conselho de Ética?”, questionou.

“Essa é a versão dos fatos verdadeira. Eu não tenho porque mentir”, enfatizou Miranda.

Logo depois que a denúncia veio à público, Onyx Lorenzoni e o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, fizeram uma coletiva de imprensa para dizer que os irmãos Miranda estavam mentindo e tinham falsificado documentos.

Onyx chegou a ameaçar Luis Miranda. “Deputado Luis Miranda: Deus está vendo. Mas o senhor não vai só se entender com Deus não. Vai se entender com a gente também”, disse na coletiva.

Os dois irmãos processaram Onyx Lorenzoni por ameaça e calúnia.