Vereadora Bruna sofre violência de gênero na Câmara de Porto Alegre
Um novo episódio de violência política de gênero ocorreu nesta quarta-feira (1º), mostrando que ainda há muitos obstáculos a serem vencidos na luta contra o machismo. A vereadora Bruna Rodrigues, do PCdoB de Porto Alegre, sofreu assédio na Câmara Municipal por parte do vereador bolsonarista Alexandre Bobadra (PSL).
O caso ocorreu após reunião de líderes, na qual Bruna chegou a ser interrompida ao menos três vezes em sua fala pelo vereador — o que levou à intervenção do presidente em exercício, vereador Idenir Cecchim (MDB). Em seguida, conforme relatado por Bruna nas redes sociais, “o vereador machista Bobadra disse que sinto ‘tesão’ por ele. Nós, mulheres negras, conhecemos bem o lugar sexualizado e inferiorizado que há séculos tentam nos colocar. Luto para que não tenhamos mais que passar por esse tipo de opressão”.
Indignada, Bruna completou dizendo: “Que a Câmara de Vereadores é um espaço hostil às mulheres, eu já sabia. Talvez alguns homens desse lugar é que não sabem que sou do tipo das que não leva desaforo para casa. Medidas estão sendo tomadas!”.
Solidariedade e repúdio
O caso repercutiu e gerou uma corrente de apoio a Bruna. Militantes do PCdoB, da União Brasileira de Mulheres (UBM) e da União da Juventude Socialista (UJS) foram à Câmara em apoio à vereadora e em repúdio à atitude machista do parlamentar do PSL. Bruna também recebeu apoio pelas redes sociais.
“Fui recebida por uma rede de solidariedade e luta na saída do plenário, nesse dia tão difícil. Que bom poder contar com vocês, minhas companheiras de luta da UBM e da UJS que fizeram esse momento de acolhimento, e aqueles que lutam ao meu lado na Câmara contra o machismo e o racismo”, disse Bruna.
A vereadora Daiana Santos, também do PCdoB, reforçou a necessidade de que a Câmara de Porto Alegre tome providências. “Toda solidariedade à minha camarada e amiga vereadora Bruna Rodrigues. Isso é um absurdo e precisa urgentemente ser apurado pela mesa diretora, Procuradoria da Mulher e Comissão de Ética da Câmara de Vereadores”.
A jornalista e ex-deputada Manuela d’Ávila também se manifestou: “Mais um ataque machista feito por um bolsonarista a uma de nós: dessa vez a vítima foi minha amiga Bruna Rodrigues dentro da Câmara de Porto Alegre. Quando um misógino diz que uma mulher de luta sente tesão por ele, está revelando parte de suas frustrações e recalques”.
PCdoB e UBM
Bruna recebe apoio dos vereadores Daiana Santos (PCdoB), Jonas Reis (PT) e Karen Santos (PSol). Foto: Ederson NunesCMPA
Em nota assinada pela secretária de Mulheres do PCdoB de Porto Alegre, Fabiane Dutra, e pelo presidente municipal, Adalberto Frasson, o partido expressou apoio e solidariedade a Bruna e destacou: “o vereador bolsonarista Alexandre Bobadra cometeu assédio sexual, desrespeitando a vereadora com palavras chulas e machistas. Não admitimos que a vereadora Bruna e nenhuma mulher sofra violência política de gênero em pleno exercício da representação política que lhe foi conferida pelo voto popular num espaço de poder e decisão que batalhamos muito para conquistar”.
A nota termina dizendo: “Estamos tomando medidas cabíveis para que o agressor seja punido e que este tipo de ação repugnante nunca mais aconteça nem no parlamento e em nenhum outro lugar”.
Também por meio de nota, as seções da UBM de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul colocaram: “É inadmissível que ao levantarmos nossa voz para manifestar nossa opinião sejamos tratadas como objetos sexuais. Ao atacar assediando a vereadora Bruna, o vereador em questão tenta, na verdade, intimidá-la com uma típica demonstração do machismo que nós mulheres somos submetidas também nos espaços da política”.
Leia abaixo a íntegra das notas do PCdoB-Porto Alegre e da UBM:
Nota do PCdoB-Porto Alegre
O PCdoB de Porto Alegre se solidariza e presta todo o apoio e acolhimento a nossa vereadora Bruna Rodrigues que sofreu hoje na Câmara Municipal de Porto Alegre, violência política de gênero.
O vereador bolsonarista Alexandre Bobadra cometeu assédio sexual, desrespeitando a vereadora com palavras chulas e machistas.
Não admitimos que a vereadora Bruna e nenhuma mulher sofra violência política de gênero em pleno exercício da representação política que lhe foi conferida pelo voto popular num espaço de poder e decisão que batalhamos muito para conquistar.
O machismo, o racismo e a misoginia são promovidos pelo patriarcado e pela cultura do estupro.
Temos que dar um basta à violência contra as mulheres. Não nos calaremos!
Estamos tomando medidas cabíveis para que o agressor seja punido e que este tipo de ação repugnante nunca mais aconteça nem no parlamento e em nenhum outro lugar.
Fabiane Dutra – Secretária de Mulheres do PCdoB de Porto Alegre
Adalberto Frasson – Presidente Municipal do PCdoB.
01 de setembro 2021
Nota da UBM
Viemos por meio desta nota manifestar sobre os acontecimentos da Câmara de Vereadores de Porto Alegre e deixar nosso repúdio ao assédio sexual e violência política de gênero sofrida pela vereadora Bruna Rodrigues.
A sessão de hoje na Câmara foi marcada por violências, a marca desse período obscuro que vivemos e estimulada pelo sentimento bolsonarista de total impunidade. Em meio ao debate no plenário da Câmara de Vereadores sobre a extinção dos cobradores de ônibus, logo após os trabalhadores terem sido expulsos com spray de pimenta, mesmo com todas as tentativas da oposição de mantê-los na casa, ao retomar a sessão, em meio às discussões e às discordâncias sobre o projeto que seria votado e que retira o emprego de mais de 3 mil pessoas, o Vereador Alexandre Bobadra, do PSL, se direciona a vereadora Bruna Rodrigues, do PCdoB, dizendo nas palavras dele “tu tem tesão em mim né?!”
Nós sabemos o quão duro e machista são os espaços da política, nós mulheres lutamos muito para chegar a esses lugares, mas nem eleitas estamos livres do assédio e da violência de gênero. Para nós é inadmissível que ao levantarmos nossa voz para manifestar nossa opinião sejamos tratadas como objetos sexuais. Ao atacar assediando a Vereadora Bruna, o vereador em questão, tenta na verdade intimidá-la, como uma típica demonstração do machismo que nós mulheres somos submetidas também nos espaços da política.
Nos solidarizamos com a Vereadora Bruna e não aceitaremos ser silenciadas ou assediadas em qualquer que seja o espaço que ocupamos. Manifestamos nosso repúdio e exigimos que sejam tomadas todas as medidas cabíveis para que o agressor seja punido e outras ações como essas não voltem a acontecer.
Estamos contigo Bruna!
UBM Porto Alegre
UBM Rio Grande do Sul
Por Priscila Lobregatte