Onehundred and one year old Gertrud Haase receives the Pfizer/BioNTech COVID-19 vaccine at the Agaplesion Bethanien Sophienhaus nursing home from vaccinator Fatmir Dalladaku in Berlin, Germany December 27, 2020, the day when the country starts its vaccination programme. Kay Nietfeld/Pool via Reuters

O início da vacinação conjunta contra a Covid-19 demarcou, neste final de semana, um feito histórico para os 450 milhões de habitantes dos 27 países da União Europeia (UE), espraiando esperança pelo continente, que sofre a maior crise de saúde em um século.

A maior parte da primeira dose das injeções foi dada neste domingo, mas a alemã Edith Kwoizalla, de 101 anos, ganhou a sua já no sábado. A senhora vive em uma clínica de cuidados para idosos na cidade de Halberstadt e, junto dela, mais 40 residentes e 11 funcionários receberam a vacina desenvolvida pela Pfizer-BioNTech, que deve ser mantida 70 graus negativos. Na Alemanha, o governo planeja entregar mais de 1,3 milhão de doses até o final do ano e três milhões de doses em janeiro.

Em Praga, o primeiro-ministro checo Andrej Babis foi vacinado logo ao amanhecer e reiterou “não haver nada a temer”. Em Roma, cinco médicos e enfermeiros se sentaram e formaram um semicírculo no hospital de doenças infecciosas Spallanzani para receber sua dose.

“Vacinar-se é um ato de amor e responsabilidade para com toda a coletividade”, declarou Claudia Alivernini, uma enfermeira de 29 anos, a primeira pessoa vacinada na Itália, país que já registrou mais de 71 mil mortos pelo vírus.

Com mais de 62 mil mortos e dois milhões e meio de infectados, a França vibrou com a chegada das primeiras 20 mil doses às comunidades próximas a París e Dijon. Até o final de fevereiro serão um milhão de doses. Uma senhora identificada como Mauricette, de 78 anos, foi a primeira a ser inoculada, acompanhada de um médico de 65 anos, Jean-Jacques Monsuez.

A lógica para toda a União Europeia foi a mesma: prioridade aos trabalhadores da saúde, cuidadores e idosos. Alguns governantes também foram imunizados, principalmente para demonstrar à população de que está segura.

Na UE foram registrados pelo menos 16 milhões de casos de coronavírus e mais de 336 mil mortes, números que os especialistas acreditam ser inferiores aos reais, devido a infecções que não foram relatadas às autoridades. A Europa foi o primeiro continente a superar o meio milhão de mortos, com 60% dos óbitos concentrados em cinco países: Itália e Reino Unido (66.500 cada), França (59.300), Espanha (48.600) e Rússia (49.100) – que não integra a UE.

Conforme o ministro de Saúde da Itália, Roberto Speranza, a campanha coordenada pela UE traz esperança para o continente, mas reiterou que todos devem permanecer alertas e seguir cuidando-se, porque “ainda nos aguardam meses complicados”. “Este é um dia maravilhoso, mas devemos agir com cautela. Esta vacina é o verdadeiro caminho para pôr fim a esta difícil temporada”, disse.

O bloco registrou alguns dos primeiros epicentros da pandemia, como Itália e Espanha. Outros países membros, como a República Checa, driblaram o pior da crise no começo, mas seu sistema de saúde esteve a ponta de colapsar recentemente.

Em Portugal, país onde a enfermidade fez 6.478 vítimas fatais dos 391.782 infectados, a primeira a ser vacinada logo cedo foi a médica Sandra Braz, das equipes de profissionais de saúde dos centros hospitalares universitários do Porto, São João, Coimbra, Lisboa Norte e Central. Para o presidente do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Daniel Ferro, a prioridade dada a médicos e enfermeiros “é um reconhecimento daqueles que todos os dias enfrentam o risco mais elevado da pandemia”. A escolha de Sandra deveu-se ao fato de estar “na linha da frente” com os doentes, mas também de ter “a responsabilidade de coordenar todas as equipes”.

Com 96 anos, Araceli Rosario Hidalgo foi a primeira a se vacinar na Espanha. Moradora do Centro de Idosos de Los Olmos, em Guadalajara, foi informada de muitos amigos que partiram, sem poder dizer adeus. “Estivemos metidos aqui todo este tempo, sem sair nem poder ver a família. Foi realmente horrível”, acrescentou Araceli. Depois dela, quem recebeu a picada foi a auxiliar de enfermagem Mónica Tapias, que relatou estar “orgulhosa”. “O que queremos é que se vacine a maior quantidade de gente”, acrescentou.

Na avaliação de Mónica, que conviveu com vários dos que partiram sem retorno, e os conhecia com nome e sobrenome, a vacinação é mais do que imprescindível. “Temos nos mantido enclausurados, sem visitas, sem esse calor da família, é muito triste, mas necessário”, relatou. Afinal, foi graças a estes cuidados, enfatizou, que desde julho nenhum dos internos foi contagiado. “Seguimos rigorosamente as medidas de precaução: máscaras, distanciamento, ventilação e higiene constante das mãos. Agora, é aguardar os 21 dias para tomar a nova dose da vacina”, comemorou.

 

 

(PL)