União Africana condena “atos racistas” das tropas ucranianas
Embaixadores do Quênia, Gabão e Gana levaram ao Conselho de Segurança da ONU a posição firmada por 54 países africanos que condena os atos de discriminação racial perpetrados por soldados das forças ucranianas que impediram estudantes negros de embarcar em trens e ônibus em direção à fronteira com a Polônia
“Na emergência que se desenrola, houve relatos sobre o tratamento racista de africanos e afrodescendentes que procuram sair da Ucrânia para um local seguro”, disse o embaixador queniano na ONU, Martin Kimani, destacando que a União Africana (UA) se insurge contra os relatos de segregação “chocantemente racistas”.
Representantes das três nações africanas no Conselho de Segurança da ONU – Quênia, Gana e Gabão – condenaram a discriminação contra cidadãos africanos na fronteira ucraniana. Os países africanos se pronunciaram durante a reunião do CS na sede da ONU em Nova York, na segunda-feira (28).
Kimani assinalou que “a mídia está cobrindo esses incidentes terríveis e vários Estados confirmaram que seus cidadãos estão sofrendo esse tratamento”.
“Condenamos veementemente esse racismo e acreditamos que é prejudicial ao espírito de solidariedade que é tão urgentemente necessário hoje. Os maus-tratos aos povos africanos nas fronteiras da Europa precisam cessar imediatamente, seja para os africanos que saem da Ucrânia ou para aqueles que cruzam o Mediterrâneo”, exigiu.
Em comunicado divulgado na segunda-feira (28), o bloco de 54 países instou todos os demais países a “mostrar a mesma empatia e apoio a todas as pessoas que fogem da guerra, apesar de sua identidade racial”.
O embaixador do Gabão na ONU, Michel Xavier Biang, chamou os relatos de racismo de “inaceitáveis”. “Pedimos respeito à dignidade e tratamento equitativo de todas as pessoas em circunstâncias terríveis. É uma oportunidade para o meu país recordar o apelo da União Africana pelo respeito do direito internacional que exige tratamento igual para todas as pessoas que cruzam as fronteiras internacionais em áreas de conflito”, declarou.
Gana
A vice-embaixadora de Gana na ONU, Carolyn Oppong-Ntiri, ecoou o sentimento em seus comentários, pedindo a facilitação de movimentação das pessoas que fogem da Ucrânia “sem discriminação” e a prestação de assistência humanitária, “incluindo assistência médica de acordo com os princípios de humanidade, neutralidade e imparcialidade”.
Confirmando esse quadro inaceitável, estudantes estrangeiros que tentam sair da Ucrânia denunciaram que sofreram discriminação racial na fronteira. Os estudantes, compostos principalmente por cidadãos indianos e africanos, acusaram as forças de segurança ucranianas e as autoridades de fronteira de mostrar preconceito contra eles.
A estudante britânica de ascendência africana, Korrine Sky, de 26 anos, relata que estudantes vindos de seu continente têm lutado para entrar nos ônibus que vão para a fronteira. “Algumas pessoas foram buscar ônibus, mas basicamente não permitem que negros entrem nos ônibus. Estão priorizando os ucranianos”, disse Sky.
Stephanie Hegarty, correspondente da BBC também compartilhou relatos de uma estudante: “Me disse que está esperando há 7 horas para atravessar. Ela diz que os guardas de fronteira estão parando os negros e mandando-os para o final da fila, dizendo que eles têm que deixar os ‘ucranianos’ atravessarem primeiro”.
Os jogadores brasileiros do time de futebol Zorya – Guilherme Smith, Cristian Fagundes, Juninho, a esposa dele, Vitória Magalhães, e o filho Benjamim, 4 – também tiveram dificuldades para passar ao território polonês após caminharem quase 10 horas a pé entre Lvov, no oeste da Ucrânia, e a fronteira.