John Nkengasong, diretor do Centro de Controle de Doenças da África, em entrevista na UA

A União Africana denunciou os líderes dos países mais ricos que não cumpriram suas promessas de compartilhar as vacinas contra a Covid-19 com as populações das nações mais pobres.

“Não podemos continuar politizando essa situação, fazendo declarações que não levam a compromissos firmes”, disse John Nkengasong, diretor dos Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças – que atua junto aos países integrantes da União Africana, na quinta-feira (9).

“As promessas não fazem chover vacinas”, destacou em coletiva de imprensa online.

Os países do G7 – Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido – se comprometeram em junho a compartilhar um bilhão de vacinas contra o coronavírus com os países em desenvolvimento. No entanto, a chegada das doses prometidas ainda não se materializou na África. “Não vimos nada parecido com um bilhão de vacinas”, constatou Nkengasong.

Na África, apenas 3,18% dos 1,3 bilhão de habitantes foram totalmente imunizados. Essa situação preocupante se deve à escassez de doses disponíveis.

E para piorar esse quadro, o continente africano, onde se superou a marca de 200 mil mortos na terça-feira (7), enfrenta um ressurgimento da pandemia. Lá, o número de casos aumenta a um ritmo alarmante, informou a autoridade de Saúde da UA. Mais de 40 países sofrem uma terceira onda, seis já estão combatendo uma quarta. Enquanto isso, criando uma falsa noção de estar se imunizando totalmente, mesmo convivendo com sérios problemas no planeta, a vida volta à normalidade em muitos países ricos graças às altas taxas de vacinação.

O plano do G7 também incluiu compromissos para evitar futuras pandemias, como a redução dos prazos de desenvolvimento e certificação das vacinas, o fortalecimento da vigilância mundial e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Nkengasong denunciou uma “diplomacia das vacinas segundo a qual as pessoas fazem discursos nos jornais que, no final, não se refletem na realidade”. “Não venceremos esta guerra contra a pandemia se não vacinarmos todos rapidamente”, insistiu. “Caso contrário, teremos que nos preparar para viver com este vírus como uma doença endêmica”, concluiu.

A OMS, reagindo a essa situação, pediu aos países ricos que priorizem a distribuição das primeiras doses aos profissionais da saúde e às populações vulneráveis dos países mais pobres, em vez de fornecer doses de reforço aos seus próprios cidadãos.

Segundo suas estimativas, a África precisará de 1,5 bilhão de doses de vacinas para imunizar 60% de seus habitantes.

“Para inclinar a balança a nosso favor na luta contra esta pandemia, nossos esforços para reduzir sua transmissão por meio de medidas de saúde pública devem ser acompanhados por um aumento acentuado no fornecimento de vacinas e de vacinações”, disse Matshidiso Moeti, Diretora Regional da OMS na África, em uma conferência de imprensa virtual.