UNE comemora 80 anos de resistência democrática
Ao completar 80 anos de existência, a União Nacional dos Estudantes (UNE) recebe homenagem no Congresso Nacional. Marianna Dias, presidente da entidade, defendeu as eleições diretas e o papel das universidades públicas no desenvolvimento do Brasil.
Em sessão solene no Plenário do Senado nesta quinta-feira (10), o Parlamento homenageou os 80 anos da UNE. Diversos parlamentares que começaram a carreira política no movimento estudantil enalteceram o papel da entidade na luta pela democracia e ressaltaram a importância da militância dos jovens na atualidade.
Da campanha “O Petróleo é Nosso” na década de 1940, do enfrentamento ao nazi-fascismo e durante a resistência à última ditadura civil-militar, passando pelas “Diretas Já”, pelo movimento dos “caras pintadas” contra o governo Collor, a luta contra os governos neoliberais nos anos 1990 e pelas jornadas de junho de 2013 por um país melhor, a UNE fez parte dos principais movimentos populares da história recente brasileira.
A sede da UNE foi metralhada e incendiada pelos militares em 1964. Uma atitude que levou a entidade para a clandestinidade por meio da Lei Suplicy de Lacerda, sem que fossem suspensas suas lutas, lembrou a senadora Vanessa Grazziotin.
“Para os ditadores, a coragem e a determinação dos jovens é sempre um dos principais alvos a serem combatidos. E a UNE representou e representa essa combatividade, essa resistência até os dias em que vivemos”, disse.
Nos últimos anos, a entidade alcançou importantes conquistas para a educação brasileira, como a aprovação do Plano Nacional de Educação com o investimento de 10% do PIB no setor até 2024, hoje ameaçado pelos cortes no orçamento promovidos pelo governo Michel Temer.
As digitais da UNE na universalização do ensino, através da criação do Prouni (Programa Universidade para Todos), foi comemorada pela líder do PCdoB na Câmara, Alice Portugal. “Entre 2003 e 2016, houve grandes vitórias, que lutamos hoje para que não sejam defenestradas, como a conquista da expansão universitária, das políticas públicas para a juventude e o Prouni para universalizar o ensino superior do Brasil”, destacou Alice.
Criado em 2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, em 2005, o governo ofertou bolsas de estudo integrais e parciais em entidades privadas para os jovens egressos do ensino médio. Até 2013, o Prouni permitiu o acesso ao ensino superior de 5,2 milhões de alunos.
Para o deputado Orlando Silva, ex-presidente da UNE, nestes 80 anos foram enfrentados importantes desafios e momentos decisivos da vida nacional. E neste cenário de crise política é preciso reverenciar a capacidade da entidade de unificação dos movimentos sociais “em defesa da soberania, da democracia, que é a marca da trajetória da União Nacional dos Estudantes”.
“Não é simples viver no Brasil de hoje, sobretudo para os jovens. E a UNE é chamada a colaborar com a resistência”, salientou o parlamentar.
O combate ao individualismo difundido pela mídia, que afasta os jovens da política traz para a UNE a necessidade de “recobrar a rebeldia da juventude, não em função de tal ou qual posição partidária. Mas de resgatar a função rebelde da juventude. Retomar a história de luta!”, enfatizou o representante dos ex-presidentes da entidade, Aldo Arantes.
Atualmente, a UNE representa mais de 7 milhões de estudantes universitários. E a presidente da entidade disse que todos farão o enfrentamento dos desafios da conjuntura política e econômica. A presidente, Marianna Dias, reforçou que lutará por eleições diretas e prometeu defender a universidade pública.
“Temos a coragem de dizer que somos a UNE do Fora, Temer, que defende a soberania do nosso país e que resistirá para que a universidade pública continue sendo um patrimônio inegociável do povo brasileiro. Não permitiremos que nenhum ataque seja feito sobre ela: nem cobrança de mensalidade, nem sucateamento, nem privatização”, disse Marianna.
A história da UNE, entidade fundada em 1937, confunde-se com a do Brasil moderno. Em um passado recente, participaram do movimento estudantil brasileiros como a presidenta Dilma Rousseff, o diplomata e poeta Vinicius de Moraes (1913-1980), o ex-governador de São Paulo José Serra, o cineasta Cacá Diegues, o religioso Frei Betto e o poeta Ferreira Gullar.