Ministro da Educação, Abraham Weintraub.

A Universidade de Brasília (UnB) divulgou nota de repúdio às declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em que ele acusa as universidades federais de cultivarem “extensivas plantações de maconha”.
“A Administração repudia veementemente a associação equivocada da imagem da Universidade a práticas ilícitas. O fato é ainda mais grave quando ocorre de maneira recorrente e por parte de um gestor público cujo papel é o de promover a educação, em seus diversos níveis”, diz um trecho do documento assinado pela reitora Márcia Abrahão e o vice-reitor, Enrique Huelva.
“As manifestações do ministro demonstram profundo desconhecimento e desrespeito acerca do papel constitucional de nossa instituição. Assim como outras universidades públicas federais, a Universidade de Brasília é patrimônio de todo o povo brasileiro”, continua a instituição.
No começo da semana, o ministro bolsonarista usou uma entrevista a um site chamado “JornaldaCidade Online” para criticar a autonomia das universidades federais afirmando que o resultado da “soberania” é o de “plantações extensivas de maconha, inclusive com pulverização de agrotóxicos” e de laboratórios de química transformados em centros de produção de drogas sintéticas.
Weintraub deu ainda sua receita para liquidar com a autonomia universitária e “acabar com os problemas” que ele vê nas universidades. “Como você se livra dessa doutrinação? Eu acho que diminuindo o poder absoluto hegemônico que hoje tem nessas madrassas de doutrinação que são as universidades federais”, afirmou.
Weintraub postou uma reportagem, de abril de 2017, em que dois alunos da UnB mantinham plantações de maconha dentro do campus da universidade.
A UnB esclarece que ocorreu a determinação da abertura de uma sindicância interna para a apuração de responsabilidades. “No processo, foi confirmado, por meio de um parecer técnico, que o local da apreensão não pertence à Universidade”, diz o comunicado. Ainda segundo a instituição, os alunos acusados foram absolvidos da culpa.
PM
Em outro post no Twitter, o ministro da Educação, escreveu “Tem “jornalista” como a Playmobil falando que não há plantações de maconha nas universidades federais. Que dureza…”, escreveu. O vídeo, logo abaixo da frase, traz os seguintes dizeres: “A @uneoficial tá revoltada com a afirmação VERDADEIRA do ministro @AbrahamWeint de que as universidades federais escondem verdadeiras plantações de maconha! Tá aí uma prova aqui na UnB! Vai ter PM no campus, sim!”.
A reitora da universidade salientou que a vigilância da UnB já é feita dentro da legalidade e que a PM cumpre o papel de vigilância externa. “Não podemos, até por força legal, dar uma atribuição da instituição para um órgão de segurança do DF”
UFMG
No mesmo dia em que acusou os estudantes da UnB, Weintraub divulgou outra matéria, sobre drogas sintéticas supostamente produzidas na UFMG.
A reportagem, de maio deste ano, trazia uma investigação da Polícia Civil sobre estudantes que usariam insumos da instituição de ensino para fabricar e vender drogas.
Em decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em outubro de outubro, apontou que os condenados não tinham vínculo formal com a UFMG e também, que a direção da universidade não foi comunicada da ocorrência.
Procurada, a UFMG informou que, conforme comprovado na Justiça, os indiciados não eram estudantes ou servidores da universidade e que “não há indícios ou qualquer prova de que laboratórios de química foram utilizados para fabricação de drogas”. Cita ainda nota do conselho universitário em que afirma não pactuar com práticas ilegais e reafirma a disposição de cooperar com autoridades.
As acusações de Weintraub foram repudiadas pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior.
“O ministro da educação do Brasil, Abraham Weintraub, parece nutrir ódio pelas universidades federais brasileiras. Afinal, as instituições das quais deveria cuidar, cabendo ao Ministério estruturar e aperfeiçoar, são a todo momento objeto dos ataques de sua retórica agressiva. Todos já vimos tal agressividade ser dirigida, por exemplo, contra estudantes (sobretudo as suas lideranças), contra professores — tratados como marajás, “zebras gordas” — e mesmo contra gestores (sobretudo gestoras), como se fossem adversários. Vemos ser desvalorizada a produtividade das nossas instituições e serem atacadas, em particular, as áreas pertencentes às humanidades. E, a todo momento, números são chamados a servir à imagem distorcida de que as universidades são excessivamente caras e que, portanto, deveriam sofrer ainda mais restrições orçamentárias. Já o vimos, enfim, classificar as universidades federais como o lugar da “balbúrdia”, invocando outrora essa razão para um bloqueio orçamentário”, aponta a Andifes em nota.