Jair Bolsonaro (sem partido)

Se ainda restava alguma dúvida sobre a pertinência de se instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito em meio a uma pandemia que já alcança quase 400 mil mortes apenas no Brasil, as imagens e os áudios que vieram a público dos ministros da Economia, da Casa Civil e da Saúde, em reunião interna do governo, comprovam a necessidade das investigações. Os diálogos, revelam um governo movido por fakenews, negacionismos e completamente desorientado frente ao caos sanitário em que o país se encontra.

Por Wadson Ribeiro*

O ministro da Fazenda Paulo Guedes, que nesse momento deveria estar preocupado com medidas que pudessem fazer o Brasil sair da crise econômica, combatendo o desemprego galopante, a quebradeira de empresas e o aumento da pobreza, aparece na reunião propagando mentiras e difamando a China. Primeiramente, a vacina da Pfizer não foi desenvolvida pelos norte-americanos, como quis crer o ministro, mas sim por cientistas alemães de origem turca.

Em segundo lugar, própria Organização Mundial da Saúde reconhece que o vírus não foi criado em laboratório, nem tampouco foi criado pela China. Essas são notícias falsas e que não condizem com que se espera de um ministro de Estado em reuniões governamentais. A CPI tem que investigar esse tipo de postura, que isolou o Brasil perante ao mundo e ideologizou o combate à pandemia. É inacreditável, mas Guedes disse que a China fabricou o vírus e ao mesmo tempo uma vacina fraca para combatê-lo, reproduzindo o discurso de ódio que os grupos bolsonaristas de WhatsApp propagam.

Na mesma reunião, o ministro da Casa Civil, Braga Neto, admite que tomou a vacina escondido e que tem tentado, sistematicamente, convencer o presidente a também tomar a primeira dose. Ora, o ministro não tinha razões para ter tomado a vacina escondido, pois ele se enquadrava nos critérios etários para a imunização naquele momento, no entanto, o fez dessa forma devido a linha política de orientação do governo contra a vacinação. Do mesmo modo, é muito grave o presidente não ter se vacinado até agora e precisar ser “convencido” pelo ministro. Braga Neto ofereceu um prato cheio à CPI com as declarações que foram reveladas.

O presidente de fato é contra a vacina e por isso conduziu de forma negacionista as medidas contra a pandemia, tanto é verdade que não se vacinou até agora, diferentemente de chefes de Estado de outras partes do mundo. Braga Neto não se porta como um ministro da Casa Civil com a atribuição de coordenar a gestão do governo, mas sim como um despachante de luxo de Bolsonaro.

Além da completa desorientação do governo frente a pandemia, a reunião revela também um ministério da Saúde sem apreço pela vida da população. O quarto ministro da Saúde do governo Bolsonaro, em linhas gerais, segue as políticas de seu antecessor, o general Eduardo Pazuello. Em março, Marcelo Queiroga autorizou que todas as vacinas armazenadas pelos estados e municípios para garantir a 2ª dose fossem utilizadas imediatamente como 1ª dose. O que vemos agora é uma série de municípios dos estados AL, AP, SP, PE, RN E PB, paralisarem a imunização da 2ª dose por falta de vacinas.

Aliás, o ministro da Saúde deveria lembrar ao ministro Paulo Guedes que a paralisação tem se dado por atrasos de insumos vindos da China para o Butantã. É papel da CPI apurar as razões desses atrasos nas primeiras e nas segundas doses da vacina, bem como, se outros problemas na esfera diplomática e comercial estão afetando esses atrasos, o que seria mais uma comprovação da desastrosa gestão do governo
federal.

Os áudios e os vídeos que vasam ou são vazados das reuniões governamentais, são até aqui o que melhor exprimem os objetos, a orientações políticas, a visão de país, enfim, a alma desse governo. Um governo sem apreço à vida dos brasileiros, com baixa capacidade política e técnica, e completamente perdido na escuridão do combate à ciência.

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Wadson Ribeiro* é presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.

 

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