Embora os anos 80 tenham o título de “Década Perdida”, o período recessivo entre 2014 e 2016 tiveram efeitos mais perversos sobre a economia do país na última década, afirma o estudo da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada na terça-feira (18).
Para traçar o perfil da década marcada pela maior recessão da história do país, que começou durante o governo Dilma, a pesquisa tem como referência as previsões de que no primeiro mandato de Jair Bolsonaro o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá em torno de 1%, menos do que os anos de 2017 e 2018, ambos registraram PIB de 1,3%.
“Durante os anos 2010, a recessão teve efeitos mais adversos do que na década de 1980 porque a economia demorou a se recuperar, agravando sobremaneira o mercado de trabalho com o elevadíssimo contingente de desempregados e concentração da renda”, conclui o comparativo.
“Se o PIB de 2019 aumentar 1%, como esperado pelo mercado, a economia brasileira deverá registrar baixo crescimento médio anual durante esse período, retardando as chances de absorver o contingente de desempregados”.
“Diferentemente do que aconteceu a partir de 1980, quando, mesmo com as recessões de 1981 e 1983, verificou-se forte capacidade de recuperação, observada através do ritmo de crescimento econômico durante a segunda metade da década”.
PIB cresceu menos da metade
De acordo com o estudo da entidade, ambas crises tiveram semelhanças com relação aos efeitos sobre as empresas e trabalhadores, a deterioração das condições de vida, o desemprego e a concentração de renda. Contudo, a capacidade de recuperação é imensamente diferente: nos dez anos iniciados em 1980, o Brasil cresceu 33,3%, uma taxa média anual de 2,9%. Na década iniciada em 2010, o crescimento foi abaixo da metade, acumulando 14,1%, com média anual de 1,3%.
“O crescimento médio entre 2017 e 2019 pode ter ficado em 1,2%. Na década de 1980, depois das recessões, de 1984 até 1989 a economia cresceu aproximadamente 30%”, afirma o estudo.
Ajuste e redução dos investimentos pararam o Brasil
Ainda observando as decisões políticas que posicionaram a última década como perdida, o estudo afirma:
“A contração produtiva deveu-se aos ajustes financeiros do setor público, com a redução dos gastos e investimentos a partir da segunda metade da década, principalmente. Ampliando o foco da observação, as decisões de política pública (monetária, cambial e principalmente a fiscal) posicionaram o Brasil na contramão do resto do mundo. O fenômeno aconteceu nos dois momentos. Sinal de que, enquanto o resto do mundo se ajustava às vicissitudes do mercado global, o Brasil optava por fazer justamente o contrário”.
“O investimento é uma variável que liga o presente ao futuro. Ele se constitui no aumento dos gastos correntes que determinarão o nível de produção futuro. Como a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) são os gastos das empresas com equipamentos para aumentar a produção, sua queda compromete o crescimento econômico. Vale dizer que em ambas as décadas as recessões derivaram também da retração desta variável. Nos anos 1980, a taxa de variação do investimento acumulou 33,1%, situando-se relativamente abaixo do PIB acumulado. Já nos anos 2010 (sem computar 2019), atingiu 12,5%, também abaixo da evolução acumulada do PIB”.
Desemprego e Desigualdade
O cenário de desemprego comparadas as duas crises se distinguem, primeiro, porque na última década a taxa foi mais elevada, segundo porque a resposta dada pelo governo foi reduzir despesas que resultaram no corte de mais postos de trabalho – tornando o desemprego crescente.
Adicionamos aos dados, o fato de o Brasil ter atingido em 2019 a maior taxa de informalidade da história, com mais de 38 milhões de brasileiros sem carteira e no trabalho precário, segundo o IBGE.