O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, anunciou na quinta-feira através de sua conta no Twitter que a União Europeia aprovou a liberação de mais de 500 bilhões de euros em resposta à crise desencadeada pela pandemia de Covid-19, que obrigou a paralisação em grande medida da economia dos principais países europeus.

“Excelente acordo entre os ministros das Finanças da Europa sobre a resposta econômica ao coronavírus: 500 bilhões de euros disponíveis imediatamente. Um fundo de estímulo por vir. A Europa decide e enfrenta a gravidade da crise”, escreveu Le Maire.

Para Le Maire, “o plano econômico que acabamos de adotar é o mais importante e mais rápido que a União Europeia adotou em sua história”.

A decisão sobre o socorro aos países da Europa assolados pela pandemia foi tomada na reunião dos ministros das finanças da zona do euro por videoconferência, em 45 minutos, após consultas prévias não terem conseguido um denominador comum, a ponto de Itália e Espanha advertirem que o futuro do bloco estava em perigo. 

Se em uma crise dessa amplitude a UE não puder ser solidária, para que serviria? O primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte chegou a dizer à BBC que “se não aproveitarmos a oportunidade de dar nova vida ao projeto europeu, o risco de fracasso é real”.

O presidente do Eurogrupo, o ministro das Finanças de Portugal, Mario Centeno, indicou que a videoconferência “terminou com aplausos” quando o pacote foi aprovado “com contornos que seriam impensáveis há algumas semanas”.

Após o anúncio, a Ministra de Assuntos Econômicos da Espanha, Nadia Calviño, registrou que um bom acordo foi alcançado no Eurogrupo com “uma rede de segurança tripla”. Ela também afirmou que “seguiremos trabalhando em mecanismos comuns de financiamento”, e tuitou: #EsteVírusOParamosJuntos.

Da sua parte, o ministro das Finanças italiano Roberto Gualtieri também manifestou seu apoio às medidas nas mídias sociais: “Apresentaremos um plano ambicioso ao Conselho Europeu”, escreveu Gualtieri. “Vamos lutar para torná-lo realidade.”

“Desta vez foi tudo diferente”, relatou Centeno. “Vimos um esforço coordenado e impressionante por parte das autoridades financeiras, monetárias e dos reguladores. Agora estamos a construir soluções europeias em tempo recorde”. “Só conseguiremos atravessar esta crise em conjunto com os europeus”, ressaltou.

Centeno salientou que “as respostas dos nossos países foram diferentes a nível nacional e não estamos todos ao mesmo nível, apesar de toda a flexibilidade que foi introduzida”, frisando por isso que “a solidariedade é fundamental se queremos impedir a fragmentação da zona euro”.

REDES DE SEGURANÇA

Serão criadas três redes de segurança: uma voltada para os trabalhadores, uma para as empresas e outra para os países, especialmente para o fortalecimento dos sistemas de saúde, utilizando tanto o Banco Europeu de Desenvolvimento quanto o Mecanismo de Estabilização Econômica (MEE).

Para a manutenção dos empregos, estão sendo canalizados 100 bilhões de euros. Quanto às empresas, Centeno explicou que os países da UE têm “estado a desenvolver sistemas nacionais para dar às empresas a liquidez que precisam para atravessarem este período difícil”, acrescentando que “a nível europeu as regras de apoio aos Estados foram ajustadas, mas alguns mecanismos nacionais são mais avançados do que outros e têm poderes financeiros a apoiá-los muito maiores” e como tal o “nosso mercado único precisa de regras de jogo idênticas”.

Já sobre a rede de segurança para os Estados-membros, Mário Centeno revelou que “hoje acordamos em criar um apoio para a crise pandêmica no montante de 2% do PIB de cada um dos países, isto é cerca de 240 bilhões de euros. É uma salvaguarda importante para todos os países da zona do euro”.

Centeno enfatizou que todos os esforços necessários serão aplicados para que o apoio do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) esteja operacional em duas semanas e enfatizou que esse plano de emergência deverá proteger tanto econômica quanto socialmente a UE, que “mergulhará em uma recessão”.

Para ele, o próximo orçamento da União Europeia será o componente principal da estratégia de recuperação, bem como um fundo de recuperação, que será “temporário, direcionado e ajudará a adiar os custos do processo de superação da crise ao longo do tempo”.

Até mesmo o ministro das Finanças da Holanda, Wopke Hoekstra, que na última reunião confrontara a reivindicação dos países do sul europeu de mutualização da dívida necessária para enfrentar os efeitos da pandemia, considera agora que se chegou a “uma boa conclusão”, com “acordos razoáveis” para enfrentar a crise.

Por sua vez, a primeira-ministra alemã, Ângela Merkel, já havia se pronunciado, vetando os chamados “bônus do coronavírus” – a emissão de títulos, garantidos por todos os países da zona do euro, para fazer frente às despesas da crise de saúde e da reconstrução das economias, que Espanha, Itália e França reivindicavam.

Com apoio da França, Espanha e Itália resistiam à aplicação pura e simples do chamado Mecanismo Europeu de Estabilidade, por já terem provado antes, com a Troika, os “condicionantes” para sua concessão, ou seja, arrocho e benesses para os bancos.

Com milhares de mortos na Itália, Espanha e França, a economia congelada sob a indispensável quarentena, a guerra de trincheiras nas UTIs, ficava difícil dessa vez dizer que o problema eram as “cigarras” do sul europeu imprevidentes.

Ao final, até mesmo o ministro alemão das Finanças, Olfa Scholz, comemorou: “é um grande dia para a solidariedade europeia”. Como lembrara Centeno, “todos podemos lembrar a resposta à crise financeira da década passada, quando a Europa fez muito pouco, muito tarde. Desta vez é diferente”.

ESPANHA AMPLIA QUARENTENA

Por videoconferência, os deputados espanhóis aprovaram na quinta-feira (9) a proposta do primeiro-ministro Pedro Sánchez de estender a quarentena para conter a pandemia de coronavírus por mais duas semanas, até 26 de abril, e o governo já adiantou que será necessário manter medidas de distanciamento social pelo menos até 10 de maio.

Até quinta-feira eram 152.446 os casos de Covid-19 confirmados no país, com a Espanha superando a Itália em contágios, mas ainda atrás em número de mortes:15.238 contra 18.279.

Aos parlamentares, o primeiro-ministro afirmou que “o fogo começa a ficar sob controle”. Nas últimas 24 horas, a Espanha registrou 683 mortes – uma queda em relação aos 757 registrados na quarta-feira.

O total de casos da Espanha é o segundo maior do mundo, só atrás dos EUA, que tem o triplo. Na sessão, os deputados votaram remotamente, enquanto os líderes dos partidos estavam presentes no plenário, com a discussão tendo durado 11 horas.