Casa destruída pelo bombardeio à aldeia de Alexandrivske, a 15 km da linha de separação

Autoridades da República Popular de Donetsk (RPD), uma das duas repúblicas do Donbass que se revoltaram contra o golpe CIA-nazis em Kiev em 2014, denunciou no sábado (3) que ataque com drone, desencadeado pelo lado ucraniano em violação do cessar-fogo, matou uma criança de quatro anos e feriu sua avó, de mais de 65 anos. O bombardeio aconteceu na aldeia de Alexandrivske, a 15 quilômetros da linha de separação.

Desde janeiro, os confrontos se intensificaram no Donbass, após o lado ucraniano deslocar forças e equipamentos para a linha de separação, e na prática pondo fim à trégua em vigor desde o segundo trimestre do ano passado.

E revertendo a decisão de intensificar a separação das forças e retirada de armamentos pesados da linha de separação, como os observadores da Organização para Segurança e Cooperação da Europa (OSCE) se esforçavam por assegurar desde então.

O governo ucraniano continua se recusando a cumprir os protocolos de Minsk, mediados pela França, Alemanha e Rússia no chamado Formato Normandia, sob os quais deveria incluir na constituição uma cláusula de autonomia para o Donbass, aprovar uma anistia e garantir os direitos da população local de fala russa, assim como a troca de prisioneiros, para possibilitar a realização de eleições.

Eleito sob uma plataforma em que se apresentava como favorável à paz e reconciliação e contra a corrupção, o ex-comediante Volodomyr Zelensky acabou assumindo uma postura que em nada o diferencia do antecessor Poroshenko e mantém a política de aliança com herdeiros dos colaboracionistas da ocupação sob Hitler, que conta com a bênção da embaixada norte-americana.

Recentemente, Zelensky perseguiu parlamentares da oposição e fechou canais de língua russa, enquanto a situação econômica vai de mal a pior, e só a corrupção prospera.

Na mídia ucraniana não cessam as exortações a ‘domar o Donbass’ e à ‘solução militar do problema’, bem como quanto à Crimeia, que deliberou em referendo a reunificação com a Rússia em 2014.

O chefe do estado-maior ucraniano, Ruslan Khomchak, disse que suas tropas estão “prontas para uma ofensiva”. Na semana passada, Zelensky aprovou a nova estratégia militar da Ucrânia, que abre espaço para a guerra pelo Donbass e pela Crimeia e prevê a integração com a Otan.

Protocolos

Na semana passada, o presidente Emmanuel Macron e a primeira-ministra alemã Angela Merkel conversaram por telefone com o presidente russo Vladimir Putin, que reiterou a necessidade de deter esse quadro de provocações no leste da Ucrânia e voltar à implementação do roteiro traçado pelos acordos de Minsk.

Em entrevista na tevê russa, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, disse que há muitas cabeças quentes em Kiev, embaladas por neocons de Washington, que precisam ser chamadas ao bom senso, e lembrou que a tentativa de aplastrar o Donbass manu militari levaria à destruição da Ucrânia, como Putin já alertou.

A Rússia tomou as providências que espera convençam Kiev a não embarcar em uma aventura contra o Donbass, deslocando tropas dentro de seu próprio território e iniciando treino contra bombardeio por drones. As medidas necessárias de reforço também foram tomadas na Crimeia.

O que foi prontamente registrado pela mídia ocidental que, no entanto, não viu nada de especial em que, violando os acordos para uma solução política para o Donbass, o regime de Kiev haja transferido tropas, blindados e lança-foguetes para a região e dado início a provocações diárias, que resultaram em mortes e feridos, e agravaram a situação.

Um morador do vilarejo de Alexandrowka, a oeste da cidade de Donetsk, foi morto por um atirador ucraniano em 22 de março. No dia seguinte, um aposentado de 71 anos foi baleado quando alimentava frangos a uma distância de 300 metros. De acordo com o relatório da RPD, formações armadas na Ucrânia violaram o cessar-fogo oito vezes somente no dia 2 de abril, disparando quase 60 projéteis na área da República Popular de Donetsk.

A denúncia foi apresentada no sábado pela representação da DPR no Centro Conjunto de Controle e Coordenação das Condições de Armistício (JCCC). Por sua vez, o exército ucraniano informou a morte de um soldado, que pisou em uma mina perto da aldeia de Choumy, a 30 km ao norte da cidade de Donetsk.

A guerra já fez mais de 13.000 vítimas em ambos os lados. Os civis morreram quase exclusivamente nas áreas controladas pelos insurgentes. A Cruz Vermelha Internacional destacou que o Donbass é uma das áreas mais minadas do mundo. As crianças, em particular, repetidamente encontraram restos de explosivos enquanto brincavam e foram feridas ou mortas, disse um comunicado.

Violações

“Esperamos que a França e a Alemanha registrem o fato óbvio de que a Ucrânia não está cumprindo os Acordos de Minsk em nenhuma área – e que o acordo político está completamente bloqueado por Kiev”, denunciou a responsável pelas relações diplomáticas da RPD, Natalia Nikonorova.

Ela denunciou ainda que “não há diálogo [com Kiev] sobre os aspectos jurídicos do status especial do Donbass, embora a necessidade desse diálogo esteja consagrada no pacote de medidas e nas instruções após a cúpula do Quarteto da Normandia em Paris em dezembro de 2019″.

Não há – acrescentou – nem mesmo uma “discussão sobre uma reforma constitucional na qual o status especial do Donbass deva ser permanentemente ancorado na constituição”, como previsto no Acordo de Minsk.

“Não há nem mesmo uma resposta para a visão da Ucrânia de como deve ser o status especial. Além do mais, não há nem mesmo um entendimento comum sobre se a Ucrânia é fundamentalmente a favor dos acordos de Minsk, já que seu parlamento aprova leis que contradizem esses acordos.”