Envio de soldados e blindados à linha de separação de forças viola protocolos de Minsk

O Kremlin informou que o presidente russo Vladimir Putin e a primeira-ministra alemã Angela Merkel mantiveram uma “discussão detalhada” por telefone sobre a escalada de tensões no Sudoeste da Ucrânia na quinta-feira (8) e as partes “notaram a necessidade de as autoridades de Kiev implementarem sem falta os acordos anteriores, em particular os que visam o lançamento de um diálogo direto com Donetsk e Lugansk e a formalização legal do estatuto especial de Donbass”.

Na troca de opiniões sobre as formas de resolver a crise intra-ucraniana, Putin chamou a atenção “para as ações provocativas de Kiev, que agora estão agravando deliberadamente a situação ao longo da linha de contato”.

“[Putin e Merkel] exortaram as partes em conflito a mostrarem moderação e a revigorar o processo de negociação a fim de implementar plenamente o pacote de medidas de Minsk de 2015 como a única base legal para um acordo de paz”, enfatiza o comunicado de Moscou sobre o telefonema.

Em paralelo, o enviado de Putin para as questões da Ucrânia, Dmitry Kozak, anunciou que haverá reuniões no formato Normandia no dia 19, em nível de conselheiros políticos, segundo a AFP. A retomada “nos próximos dias” foi admitida pelo presidente ucraniano e ex-comediante Volodimyr Zelensky, durante inspeção às tropas e equipamentos de guerra que amontoou na linha de contato intra-ucraniana em violação à trégua em vigor.

No telefonema, Putin e Merkel “reafirmaram seu compromisso de uma coordenação mais próxima dos esforços russos e alemães, inclusive dentro do Formato da Normandia”.

O governo de Berlim, por sua vez, divulgou que o telefonema de Merkel fora para solicitar à Rússia a desescalada no leste da Ucrânia.

Eleito sob uma plataforma em que se apresentava como favorável à paz e à reconciliação e contra a corrupção, Zelensky aderiu à recusa em cumprir os protocolos de Minsk, mediados pela França, Alemanha e Rússia no chamado Formato Normandia, sob os quais deveria incluir na constituição uma cláusula de autonomia para o Donbass, aprovar uma anistia e garantir os direitos da população local de fala russa, assim como a troca de prisioneiros, para possibilitar a realização de eleições.

Todos os deslocamentos de tropa feitos por Moscou foram dentro do seu próprio território, e após a iniciativa de Kiev de deslocar tropas e meios bélicos para a linha de contato, no que lembra um ensaio das tentativas do verão de 2014 e do inverno de 2014-2015 (que acabaram em flagrante derrota).

Como agravante, no verão deste ano estão previstos exercícios militares conjuntos Kiev-Otan ‘Clava Cossaca’, com milhares de soldados, no sudoeste da Ucrânia, e sob comando britânico.

Nas últimas semanas, o governo Zelensky intensificou as provocações contra as duas repúblicas que se levantaram em armas contra o golpe CIA-neonazis de 2014, que colocou no poder os herdeiros dos colaboracionistas de Hitler na 2ª Guerra Mundial e a nata dos oligarcas ladrões, em conluio e aberta participação de Washington. Até o filho do então vice-presidente Joe Biden, Hunter, se lambuzou.

O comediante que virou presidente também fez uma conclamação à “imediata entrada” da Ucrânia na Otan – o que jamais seria aceito pela população do Donbass – e andou prometendo “retomar a Crimeia”, que em referendo decidiu a reunificação à Rússia, após o golpe CIA-neonazis de Maidan, e historicamente terra russa por séculos.

Zelensky também andou ‘exigindo’ a mudança do local das discussões, que tem sido a capital Bielorrussa, Minsk, para a Polônia, babosamente anti-russa. Ainda, quer dissolver o formato Normandia, com a inclusão de Washington.

Linhas vermelhas

Na semana passada, a Rússia voltou a advertir, por várias fontes, uma delas o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, que um ataque militar ucraniano às repúblicas do Donbass, levará à destruição da Ucrânia enquanto Estado.

Por sua vez o enviado especial Kozak disse à agência de notícias russa RIA Novosti que a ação russa, em caso de ataque ao Donbass, “depende da escala do incêndio”. “Se houver, como diz nosso presidente [Putin], uma ‘Srebrenica em preparação, aparentemente, teremos que nos defender”.

Ele comparou o governo de Kiev a “crianças brincando com fogo” e disse apoiar “as avaliações que também existem dentro da Ucrânia de que o início das hostilidades é o início do fim da Ucrânia”.

“É uma ferida autoinfligida, um tiro não na perna, mas no rosto”, completou. Para Kozak, ao intensificar as hostilidades no Donbass o governo de Kiev está tentando resolver a crise política interna, desviando assim a atenção dos eleitores da difícil situação no país.

“A queda catastrófica na aprovação do presidente Volodymyr Zelensky e seu partido Servo do Povo, as contradições entre as elites empresariais, uma pandemia – as autoridades não conseguem lidar com isso com um trabalho consistente”, Daí a encenação da “ameaça militar” russa, advertiu. Recentemente, Zelensky também fechou canais de língua russa e perseguiu parlamentares da oposição.

O número de ataques desfechados por iniciativa de Kiev desde o início do ano quase dobrou em comparação com o último trimestre de 2020. A transferência de tropas, blindados e lança-mísseis para a linha de contato viola os protocolos de Minsk, e os ataques passaram a ser diários, levando a revide da defesa dos insurgentes.

Na semana passada, ataque com drone ucraniano matou uma criança de quatro anos e feriu sua avó. As provocações custaram baixas aos adeptos de Maidan, alguns por pisarem em minas, onde não deveriam ter ido.

Desinformação

A porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, denunciou a agressiva campanha de desinformação lançada pela Ucrânia e vários países ocidentais contra a Rússia, a qual acusam de ‘aumentar as tensões no Donbass e na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia’, numa inversão dos fatos.

“Consideramos essa política de desinformação e propaganda como ações destinadas a criar o cenário necessário e desviar a atenção dos preparativos militares de Kiev no Donbass, a sabotagem ucraniana da implementação dos acordos de Minsk e o aumento da atividade militar dos países da OTAN na Ucrânia”, frisou Zakharova.

“Apelamos à Ucrânia e aos países da OTAN para que parem a campanha histérica de propaganda russófoba, parem os preparativos militares e a escalada da tensão em Donbass e se abstenham de ações que possam desestabilizar a situação no leste da Ucrânia”, concluiu a porta-voz.