Uma irmandade armada selada em três bandeiras Otan, Nazismo e Azov

O Batalhão de Azov – o mais notório agrupamento de neonazis ucranianos que opera sob chancela governamental, mas não o único – foi oficialmente constituído em 5 de maio de 2014, portanto três dias depois do massacre de 42 antifascistas em Odessa, queimados vivos, e poucos dias após o ‘führer” do Setor Direita, Dmytro Yarosh, ter anunciado que as turbas fascistas estavam “cruzando o Dniepr”.

Como denunciou o autor Lev Golinkin, nas páginas da revista norte-americana The Nation, “a Ucrânia pós-Maidan é a única nação do mundo a ter uma formação neonazista [abertamente] em suas forças armadas”.

Uma foto do Batalhão Azov, recepcionando os ‘parças’ da OTAN e, para deixar o ambiente mais íntimo, uma enorme bandeira nazista com a inconfundível suástica, mais o estandarte da OTAN e outro azul-amarelo ucraniano, circulou tanto que praticamente é impossível ignorá-la.

A primeira ‘façanha’ assumida pelo Azov foi esmagar o levante antifascista em Mariupol em junho de 2014, com cerca de 100 mortos em duas semanas na cidade e arredores. A cidade permanece refém dos fascistas até hoje.

A convocação para que as gangues nazistas se alistassem no esforço do regime recém saído de Maidan para afogar em sangue a recusa das “regiões” – o leste e sul do país, os ‘russos étnicos’ – a se submeterem ao golpe de fevereiro, partiu do então ministro golpista do Interior, Arsen Avakov, com um decreto autorizando uma nova força paramilitar de até 12.000 integrantes.

Várias foram as milícias e gangues fascistas que se apresentaram para o serviço. Além do mais conhecido Batalhão Azov, constituído a partir dos “Patriotas da Ucrânia”, também o Batalhão Aidar – este conhecido por imitar o Estado Islâmico e decapitar opositores no Donbass, conforme a Anistia Internacional e a revista Newsweek na época. Também a ‘ala jovem’ do partido nazista Svoboda, a C14, e conforme o Jerusalém Post um grupamento conhecido como ‘Centúria’.

Ainda, as gangues Dnipro-1 e Dnipro-2. O Batalhão Aidar posteriormente foi integrado ao 24º batalhão de Assalto do exército ucraniano.

Alistados

Diante do alarido da mídia imperial de que “não há nazistas na Ucrânia, isso é invenção de Putin”, cabe registrar, como assinalou um cientista político ucraniano, Vladimir Kornilov, que o Batalhão Azov “há muito tempo é uma unidade oficial da Guarda Nacional da Ucrânia, que por sua vez faz parte da estrutura do Ministério do Interior”.

Ainda – é ele quem destaca – o Batalhão Azov ostenta oficialmente “como símbolo a suástica estilizada, conhecida no mundo sob o nome de ‘gancho de lobo’ [‘Wolfsangel’] e proibida em vários países europeus”. Aliás, copiada do logo da 2ª Divisão Panzer das Wafen SS.

Relatórios do Escritório do Alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e da Anistia Internacional ligaram o Batalhão Azov a crimes de guerra, como saques em massa, estupro, sequestros, tortura e execuções.

O que jamais vexou o presidente Volodymyr Zelensky de prestigiar os eventos da ‘corporação’.

Treinado pelos EUA

Note-se, ainda, que a Guarda Nacional foi formada e treinada pelos EUA. Por um curto período, chegou a haver uma proibição, mas desde 2016 o Pentágono voltou a adestrar o Azov.

Andryi Biletskyi, o líder de gangue que se tornou comandante do Azov, escreveu certa vez que a missão da Ucrânia é “liderar as Raças Brancas do mundo numa cruzada final contra os Untermenschen [Subumanos, termo nazista] liderados pelos semitas”.

Em agosto de 2014 – depois dos pogroms contra russos étnicos no Donbass – ele foi condecorado com a ‘Ordem da Coragem’ e promovido a tenente-coronel da Guarda Nacional. Foi cofundador de dois grupos políticos neonazis, o Patriota da Ucrânia e a Assembleia Social Nacional.

Em janeiro de 2018, o Azov lançou sua unidade nacional de patrulha de rua Druzhina, cujos membros juraram fidelidade pessoal a Biletsky e se comprometeram a “restaurar a ordem ucraniana” nas ruas.

A Druzhina, vinculada à Guarda Nacional, e o C14, que recebe financiamento do governo de Kiev para ‘programas educacionais’, desencadearam uma onda de pogroms contra a população cigana, atacando mulheres e crianças e arrasando acampamentos, que registraram em vídeos exibidos ‘orgulhosamente’ nas mídias sociais.

Imã para supremacistas do Brasil

O Batalhão Azov também se tornou um imã para neonazistas do mundo inteiro, em busca de expertise. O que era feito na perspectiva de tornar a Ucrânia em um “centro para a supremacia branca transnacional”. A gangue recrutou neonazistas da Alemanha, Reino Unido, Brasil , Suécia e Estados Unidos.

Segundo Golinkin, o FBI prendeu em outubro de 2018 quatro supremacistas brancos da Califórnia que receberam treinamento do Azov.

Nesse quem é quem dos neonazistas ucranianos, há que se registrar os patronos do Batalhão Azov, o bilionário Igor Kolomoyski e o ex-presidente do parlamento, Andriy Parubiy, cofundador do Svoboda e dos ‘Patriotas’, que agora se considera um “moderado” mas tem orgulho de ter “marchado” com a suástica estilizada usada pelo Azov.

“Glória aos heróis”

A outra face dessa oficialização do nazismo pelo regime no poder em Kiev é a glorificação dos colaboracionistas.

Em 2015, o parlamento ucraniano aprovou uma legislação tornando dois grupos paramilitares da Segunda Guerra Mundial – a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) e o Exército Insurgente Ucraniano (UPA) – “heróis da Ucrânia”, e tornou crime negar seu heroísmo.

A OUN colaborou com os nazistas alemães e participou do Holocausto e do assassinato de soviéticos, enquanto a UPA massacrou milhares de judeus e mais de 70 mil poloneses por conta própria.

Essa ‘Nova Ucrânia’, destinada ser o trampolim da OTAN contra a Rússia e seu povo, tornou os chefes de pogrom e colaboracionistas Stepan Bandera e Roman Shukhevych em “patriarcas” do país. Reabilitaram até mesmo a SS Galichina, uma divisão ucraniana da legião nazista Waffen-SS, enquanto as marchas de tochas voltaram a assombrar as ruas ucranianas.

“F**** the UE”

Acontecimentos para os quais os setores mais apodrecidos do establishment norte-americano trabalharam incansavelmente, a ponto da então subsecretária do Departamento de Estado Victoria Nuland (e agora conselheira de Segurança Nacional) e o senador republicano John McCain terem estado em pessoa na Praça Maidan, para assegurar o sucesso do golpe, no qual esteve envolvido o próprio Joe Biden, então vice de Obama. Nuland passou à história com o vazamento de seu telefone ao então embaixador em Kiev, em que nomeava “Yats” – um político ligado aos oligarcas ladrões que estavam metidos no golpe – como primeiro-ministro, e seu acintoso comentário “F*** the UE” [Foda-se a União Europeia]”, quando a indicação preferida pelos alemães para dirigir a Ucrânia pós-golpe foi preterida em fazer da imposta por Washington.